BdP alerta para efeitos da retirada dos apoios e da correcção dos preços do imobiliário

O elevado endividamento das administrações públicas e o aumento das responsabilidades contingentes constituem uma vulnerabilidade da economia portuguesa, segundo o banco central português. Mário Centeno explicou que “a situação em Portugal é de uma desaceleração na evolução dos preços”

Foto
Mário Centeno, governador do Banco de Portugal LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

O elevado endividamento das administrações públicas e o aumento das responsabilidades contingentes, no âmbito da crise causada pela pandemia, constituem uma vulnerabilidade da economia portuguesa, refere o Relatório de Estabilidade Financeira do Banco de Portugal (BdP), relativo a Junho e divulgado esta segunda-feira.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O elevado endividamento das administrações públicas e o aumento das responsabilidades contingentes, no âmbito da crise causada pela pandemia, constituem uma vulnerabilidade da economia portuguesa, refere o Relatório de Estabilidade Financeira do Banco de Portugal (BdP), relativo a Junho e divulgado esta segunda-feira.

“A pandemia de covid-19 causou uma crise económica com implicações para a situação financeira. As medidas de apoio, adoptadas rápida e coordenadamente, evitaram a transmissão da crise ao sector financeiro”, concluiu o BdP, acrescentando que, “porém, a crise interrompeu o processo de ajustamento da economia portuguesa”.

De acordo com o relatório, “a magnitude e a persistência da crise, juntamente com a diluição no tempo e a redistribuição dos custos da pandemia entre os sectores privado e público, levaram a um aumento da dívida, em particular nas administrações públicas e nos sectores de actividade mais afectados pela crise”.

Assim, o relatório identifica as principais vulnerabilidades e riscos para a estabilidade financeira, que, além do endividamento das administrações públicas, refere ainda o “risco de uma correcção nos mercados financeiros internacionais, que poderá ser amplificado pela elevada alavancagem, pela exposição a activos de menor qualidade creditícia e pela baixa liquidez na carteira do sector financeiro não bancário na área do euro”.

Adicionalmente, constituem também vulnerabilidades “a retirada das medidas de apoio, numa situação de endividamento elevado e de actividade ainda deprimida em alguns sectores”, que “potencia a materialização do risco de crédito”, a “correcção dos preços no mercado imobiliário residencial em Portugal, que pode decorrer, inter alia, da potencial retracção da procura de imóveis por não residentes, que surja associada a uma deterioração das condições de financiamento internacionais”, e o facto de no mercado imobiliário comercial, poder “ocorrer uma queda adicional dos preços na sequência da ocorrido em 2020 para alguns segmentos (retalho e hotéis)”.

Por fim, o BdP alerta ainda para as “perspectivas de rendibilidade baixa no sector bancário e reforço da ligação ao sector público, através do reforço da exposição a divida pública e da concessão de crédito com garantia pública”.

“Avaliadas de forma integrada, as vulnerabilidades e riscos elencados evidenciam interdependências entre sectores económicos, que devem ser tidas em consideração na formulação de políticas promotoras da estabilidade financeira”, transmitiu a entidade bancária.

"Todos os cuidados"

Em conferência de imprensa, o governador do Banco de Portugal disse que a situação actual de crise requer acompanhamento ao sector imobiliário.

“A situação actual requer todos os cuidados que, normalmente, em momentos de crise, a este sector [o imobiliário] tem de se lhe dar, porque ele tem, de facto, uma enorme interpenetração no sistema financeiro”, afirmou Mário Centeno.

O relatório indica que “a relevância deste mercado recomenda o acompanhamento dos sinais de uma eventual sobrevalorização dos preços”, que, no segmento residencial, continuaram a aumentar, apesar de uma desaceleração da sua evolução, em contexto de pandemia.

Mário Centeno explicou que “a situação em Portugal é de uma desaceleração na evolução dos preços”, com segmentos em que essa desaceleração foi mais nítida, como é o caso do segmento comercial.

“Há algumas vertentes da procura que permanecem bastante activas, em particular procura por não nacionais, não residentes, porque a dinâmica do sector nos últimos meses não está tão sustentada em crédito bancário como já esteve no passado”, explicou o governador do BdP.

O BdP sublinhou, no entanto, que uma eventual correcção dos preços das casas não será demasiado significativa, uma vez que, argumentou, nos últimos anos registou-se uma redução do rácio do endividamento das famílias, bem como a melhoria do perfil de risco dos mutuários.