Património do Teatro de São Carlos vai ser estudado e inventariado pela Universidade Nova

Protocolo assinado entre o Opart e a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa tem a duração de três anos e prevê a divulgação da história do TNSC em conteúdos digitais e online “na forma de resumos históricos, biografias dos protagonistas, catalogação dos espectáculos e objectos”.

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Rui Gaudencio

O pólo História, Territórios e Comunidades, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL), vai “inventariar e estudar as colecções patrimoniais e a documentação histórica” do Teatro Nacional de São Carlos (TNSC), anunciaram as instituições envolvidas.

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O pólo História, Territórios e Comunidades, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL), vai “inventariar e estudar as colecções patrimoniais e a documentação histórica” do Teatro Nacional de São Carlos (TNSC), anunciaram as instituições envolvidas.

O projecto a três anos prevê ainda a recolha de “testemunhos e memórias” do teatro lírico português, pelos investigadores daquele pólo do Centro de Ecologia Funcional - Ciência para as Pessoas e o Planeta, da FCSH, de acordo com um protocolo assinado entre este departamento da UNL e o Organismo de Produção Artística (Opart), que gere o TNSC, o seu coro, assim como a Orquestra Sinfónica Portuguesa.

“O TNSC é detentor de um património histórico verdadeiramente único e de relevo internacional”, sublinha a coordenadora do programa e historiadora Fernanda Rollo, citada pelo comunicado conjunto do Opart e da FCSH-UNL.

No património do teatro, sublinha a investigadora, “destaca-se uma colecção excepcional de cerca de 5.000 peças de guarda-roupa, figurinos e adereços, a que se acrescenta o acervo documental e fotográfico e outros objectos de inequívoca relevância que importa organizar, valorizar e dar a conhecer”.

Para a presidente do conselho de administração do Opart, Conceição Amaral, “a inventariação e estudo dos acervos patrimoniais do teatro, únicos no país, é uma prioridade estratégica para a salvaguarda e valorização da [sua] história (...) enquanto repositório de memórias, de saberes e de cruzamentos artísticos em Portugal”, para mais no “âmbito da missão de serviço público” deste organismo. “Permitir o acesso à investigação e dar a conhecer o espólio [do TNSC] é uma premissa maior deste trabalho que agora se inicia”, e que vai envolver investigadores deste pólo da FCSH-UNL e os técnicos e departamentos do teatro, acrescenta a presidente do Opart, também citada pelo comunicado conjunto.

Um acto de responsabilidade cívica

O protocolo tem a duração de três anos e prevê a divulgação da história do TNSC em conteúdos digitais e online “na forma de resumos históricos, biografias dos protagonistas, catalogação dos espectáculos e objectos”, entre outros formatos. “Mais tarde, vão também desenvolver-se conferências sobre a história do TNSC”, centradas no seu património histórico.

As duas instituições consideram que identificar, preservar e valorizar a história e o património do TNSC, envolvendo os protagonistas que lhe estão associados, em particular os próprios artistas, é “um acto de responsabilidade cívica, cultural e patrimonial perante o público e a sociedade em geral, reflectindo-se na compreensão da relevância do São Carlos e da sua actividade cultural em Portugal”, conclui o comunicado.

Inaugurado em 30 de Julho de 1793, com uma récita de La Ballerina Amante, de Domenico Cimarosa, o TNSC resulta de um projecto do arquitecto José da Costa e Silva, inspirado nas linhas neoclássicas e de inspiração seiscentista italiana, nomeadamente no Teatro di San Carlo, de Nápoles, e no Scalla de Milão.

Concebido como teatro de corte, seduziu uma Lisboa burguesa, e revelou-se o primeiro exclusivamente vocacionado para a produção e apresentação de ópera e de música coral e sinfónica, no país. Passados mais de dois séculos, assim permanece.

Além do projecto, da concepção do edifício, da sala, da sua acústica, dos camarotes, dos bastidores, do salão nobre, da entrada e da sua loggia, destacam-se ainda peças de arte presentes na decoração, assinadas por artistas como Cirilo Wolkmar Machado, que concebeu o tecto do vestíbulo e o pano da boca de cena, Manuel da Costa, o salão, e Giovanni Appianni, autor do camarote real.

Com 227 anos de actividade e um número de produções operáticas, musicais, teatro-musicais e de dança, na casa dos milhares, o TNSC acolheu toda a história da ópera, da sua emergência, no barroco, à produção contemporânea, os seus compositores, regentes, encenadores, assim como alguns dos melhores e mais lendários intérpretes, do final do século XVIII à actualidade.

Nos últimos 60 anos, actuaram no TNSC cantores como Mario del Monaco, Renata Tebaldi, Carlo Bergonzi, Bir­git Nilsson, Renata Scotto, The­resa Stich-Randall, Nicolai Gedda, Monserrat Caballé, Renata Scotto, Ma­ra Zam­pieri. Em 1958, Maria Callas e o tenor Alfredo Kraus protagonizaram La Traviata, de Verdi, que se mantém entre as interpretações de referência do repertório operático.

Em 1975, o TNSC abriu-se pela primeira vez ao jazz, para um concerto do pianista Bill Evans, com o contrabaixista Eddie Gomez.

Em 2011, foi criado, na estrutura do teatro, o Centro Histórico do TNSC, para “identificação, inventariação, classificação de todo o património acumulado”, como partituras, cenários, trajes de cena, adereços, instrumentos musicais e mobiliário. O projecto previa igualmente a eventual localização de elementos de interesse para a sua história.