Milhares voltam a sair às ruas do Brasil para contestar Bolsonaro
Crescente descontentamento com a resposta do Governo brasileiro à pandemia motivou novas manifestações da oposição, em dezenas de cidades, três semanas depois dos últimos protestos em todo o país.
Milhares de pessoas participam neste sábado em manifestações um pouco por todo o Brasil, para mostrarem que o movimento anti-“bolsonarista”, que defende o impeachment do Presidente brasileiro e uma melhor gestão da pandemia, está mobilizado e determinado, numa altura em que o país se aproxima das 500 mil mortes por covid-19.
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Milhares de pessoas participam neste sábado em manifestações um pouco por todo o Brasil, para mostrarem que o movimento anti-“bolsonarista”, que defende o impeachment do Presidente brasileiro e uma melhor gestão da pandemia, está mobilizado e determinado, numa altura em que o país se aproxima das 500 mil mortes por covid-19.
Há menos de um mês, milhares de pessoas já tinham saído às ruas de mais de 200 cidades, naquele que foi o maior protesto popular contra o Governo de Jair Bolsonaro.
Atingido um marco preocupante da evolução da pandemia, os opositores voltaram a exigir a abertura de um processo de destituição ao Presidente, o aceleramento da vacinação contra a covid-19 e o aumento do valor do auxílio emergencial para 600 reais (100 euros) – o actual valor é metade.
Segundo os activistas políticos, o agravamento dos casos de fome no país é outro dos motivos da mobilização. De acordo com o Inquérito Nacional sobre a Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia, no ano passado 19 milhões de brasileiros viviam em situação de fome, mais 27,6% face ao ano anterior.
Até sexta-feira estavam confirmadas manifestações em mais de 400 cidades de todos os 27 estados brasileiros. Foram também organizadas concentrações no estrangeiro, nomeadamente nos Estados Unidos, Canadá, Argentina, Alemanha, França, Itália e Portugal.
As manifestações inserem-se no movimento nacional “Fora Bolsonaro”, organizadas por três frentes, o Povo Sem Medo, a Brasil Popular e a Coalizão Negra por Direitos, e são apoiadas por movimentos sociais e estudantis, partidos políticos e sindicatos.
Também grupos indígenas de várias partes do país se juntaram aos manifestantes na Brasília para denunciar a negligência do Governo na protecção das minorias durante a pandemia.
Segundo os organizadores dos protestos, mais organizações, mais cidades e mais pessoas juntaram-se aos protestos desde sábado, comparando com Maio, devido ao crescente descontentamento com o Governo de Bolsonaro. Em Brasília, vários partidos de esquerda marcaram presença, mais um sinal de que acreditam estar reunidas as condições para uma destituição presidencial.
Apesar do apoio a Bolsonaro, conhecido por desvalorizar as medidas sanitárias, “há um sentimento maioritário (…) de não aguentar mais tempo a situação da pandemia, em si, como toda a catástrofe social do país”, disse Douglas Belchior, porta-voz da Coalizão Negra por Direitos, citado pelo El País Brasil.
Isso reflecte-se na “queda de popularidade do Governo de Bolsonaro”, que para Josué Rocha, porta-voz do Povo Sem Medo, já existe há muito tempo. “Só faltava as pessoas organizarem-se para sair às ruas. Com o agravamento da pandemia, isso mudou”, acrescentou.
Rocha referiu ainda que a necessidade de fazer pressão política à Comissão Parlamentar de Inquérito, que analisa a conduta do Governo brasileiro na gestão da pandemia. A comissão é encarada pelos activistas como o organismo que pode desbloquear o início do impeachment na Câmara dos Deputados.
Os pedidos de impeachment a Bolsonaro continuam a ser travados no Congresso, mas os activistas consideram “importante aumentar a força para derrotá-lo no próximo ano”, disse Aldino Graed ao diário.