À procura do lado seguro do livro

Um muro divide o livro ao meio e uma criança tem medo do que se esconde do lado de lá. Ficará a saber que o perigo vem de onde menos se espera.

Fotogaleria

Um pequeno cavaleiro sente-se seguro no lado esquerdo do livro, que tem um muro de tijolo no meio. Receia que o ogre que está no lado direito do livro o coma. Logo, acredita que o muro o protege. Nada de mal lhe pode acontecer. Está enganado. Será mesmo do lado de lá do muro que virá quem o salva de ser afogado do lado de cá.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Um pequeno cavaleiro sente-se seguro no lado esquerdo do livro, que tem um muro de tijolo no meio. Receia que o ogre que está no lado direito do livro o coma. Logo, acredita que o muro o protege. Nada de mal lhe pode acontecer. Está enganado. Será mesmo do lado de lá do muro que virá quem o salva de ser afogado do lado de cá.

Com este livro, Jon Agee “aventurou-se” na edição digital, já que não é grande utilizador desse meio nas obras que cria. A ideia de pôr um muro no meio do livro foi uma reacção aos problemas que a goteira (parte interior da lombada) cria a quem ilustra, pois “divide” os desenhos. Assim, resolveu assumi-la mesmo como um muro, transformando um obstáculo numa potencialidade.

Originalmente, era uma barreira invisível. “De um lado do livro, eu tinha a imagem de uma rapariga na praia numa toalha e, do outro lado, uma enorme onda que bate no meio do livro, na barreira e depois volta para trás. E ela está apenas sentada lá. Depois, desenhei um deslizamento de rochas, grandes pedras, um vulcão e, em seguida, uma manada de rinocerontes. E eu pensei, isto é fascinante, mas não é o suficiente para uma história”, conta numa entrevista à Publishers Weekly.

Foto
Jon Agee

Jon Agee nasceu em Nova Iorque, “na mesma rua do rio Hudson”, e na sua casa “havia sempres projectos artísticos em execução”. O seu primeiro trabalho foi publicado numa página do New York Times quando ainda andava no liceu, chamou-lhe The Rat Race e representava uma corrida de ratos na estrada.

O prazer de criar desenhos animados e BD

Estudou Pintura, Escultura e Cinema na Cooper Union School of Art, em Nova Iorque: “Mas o que mais gostava de fazer, nas minhas horas vagas, era criar desenhos animados e histórias de banda desenhada”, conta na nota biográfica do seu site oficial.

Já tem mais de 30 obras publicadas e teve a felicidade, como diz, de conhecer Maurice Sendak quando o seu quarto livro, The Incredible Painting of Felix Clousseau, estava a ser impresso. O autor de Onde Vivem os Monstros gostou logo do livro. Isso animou-o.

Foto
Jon Agee

Antes desse, escreveu Ludlow Laughs, uma história sobre um sujeito mal-humorado, mas que se ri durante o sono. “Este livro estava a correr muito mal, até que a humorista Phyliss Diller o leu no Reading Rainbow da PBS. Ficou impresso por mais de 20 anos”, conta.

Agora, vive em São Francisco, criou uma colecção de livros com jogos de palavras e divulga-os em visitas regulares a escolas no país e no mundo.

Jon Agee acabou por desistir da barreira invisível e criou rectângulos/tijolos ao centro, desenhando coisas assustadoras e sinistras de um lado e uma criança não afectada do outro. “Talvez a criança queira ir para o outro lado. Ela está presa, ela não pode passar. Ela pode catapultar-se. E então pensei: e se ela não quiser sair do seu lado da barreira? Ela pensaria: ‘Estou do lado seguro.’ E então algo acontece no seu lado do livro.”

Logo o autor concluiu: “Agora, temos algo interessante.” E temos mesmo.

Mais artigos Letra Pequena e blogue Letra Pequena