Empresa francesa quer recuperar esplendor dos comboios nocturnos. E com Lisboa e Porto como destinos
Paris será o hub da Midnight Trains, que se propõe “reinventar um produto velho com mais de um século” numa experiência de viagem cómoda e vanguardista. “Um trajecto entre Paris e Roma a bordo dos nossos comboios vai gerar 23 vezes menos emissões de CO2 que um avião comercial sobre o mesmo percurso”.
A primeira start-up ferroviária francesa quer dar “uma nova mitologia” às viagens sobre carris e criar comboios-hotel para ligar Paris a destinos que não são servidos pela alta velocidade. A ideia é criar uma oferta de qualidade, cómoda e confortável, onde o comboio não seja apenas um meio de transporte para ir do ponto A ao ponto B, mas sim uma verdadeira experiência de viagem, que vale por si mesma.
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A primeira start-up ferroviária francesa quer dar “uma nova mitologia” às viagens sobre carris e criar comboios-hotel para ligar Paris a destinos que não são servidos pela alta velocidade. A ideia é criar uma oferta de qualidade, cómoda e confortável, onde o comboio não seja apenas um meio de transporte para ir do ponto A ao ponto B, mas sim uma verdadeira experiência de viagem, que vale por si mesma.
“Os nossos comboios irão percorrer distâncias entre 800 a 1500 quilómetros a fim de servir grandes cidades europeias como Madrid, Lisboa, Porto, Milão, Veneza, Florença, Roma, Viena, Praga, Budapeste, Berlim, Hamburgo, Copenhaga e até Edimburgo”, diz um comunicado da Midnight Trains, que se assume como um projecto a longo prazo. Os primeiros passageiros só embarcarão em 2024. Até lá há muito trabalho a fazer no recrutamento de pessoal, aquisição de material circulante e acesso às infra-estruturas dos vários países e serviços de tracção.
Tal como George Nagelmarkeres, o belga que no século XIX fundou a Compagnie Internationale des Wagons Lits et des Grands Express Europeens tendo de vencer os nacionalismos da época, também Adrien Aumont e Romain Payet, os dois fundadores da Midnight, deverão agora enfrentar a pesada burocracia ferroviária europeia e as dificuldades da falta da interoperabilidade para levarem a cabo o seu projecto.
“Hoje quando se fala nos comboios nocturnos, pensa-se no luxuoso Oriente Expresso ou nos comboios Corail [marca de carruagens francesas] das últimas décadas, desconfortáveis e desprovidas de intimidade”, dizem os fundadores, que querem agora “reinventar um produto velho com mais de um século” através de comboios-hotel que privilegiam os espaços privados, com quartos individuais, de casal, ou familiares, mas onde não faltam também os compartimentos com beliches, democratizando assim a oferta.
Uma coisa garantem: “Connosco está fora de questão dormir com desconhecidos pois cada um escolherá a bolha social que lhe corresponde.” Mas o convívio será uma pedra-de-toque dos comboios Midnight, que terão “um restaurante e um bar de qualidade onde produtos naturais, cocktails e vinhos vigorosos” voltarão a proporcionar o prazer da restauração sobre carris.
Atentos às novas tendências, os fundadores desta empresa remetem para uma época “pós-aviação” onde os consumidores preferem meios de transporte alternativos e mais amigos do ambiente. Dizem que nas viagens dentro da Europa o avião é quase um monopólio e que proporciona ao viajante uma experiência stressante e desconfortável. “A rapidez que a aviação vende é uma ilusão pois um simples voo de uma hora demora, na realidade, quatro horas se considerarmos o porta-a-porta.”
E com custos ambientais pesados. “Um trajecto entre Paris e Roma a bordo dos nossos comboios vai gerar 23 vezes menos emissões de CO2 que um avião comercial sobre o mesmo percurso”, diz a Midnight. Os números são estes: 8,8 quilos de dióxido de carbono para o comboio contra 206,1 para o avião.
A empresa é financiada por Xavier Niel, um bilionário francês ligado às telecomunicações e que tem financiado com sucesso vários projectos de start-ups.
Em Portugal, os últimos comboios nocturnos circularam em Março de 2020 no início da pandemia. O Lusitânia Expresso (Lisboa – Madrid) e o Sud Expresso (Lisboa – Hendaya) não voltaram aos carris devido ao desinteresse espanhol por estas ligações.