Árvores nas ruas do Bairro Alto? É o que a câmara quer, mesmo que sejam pequenas
Autarquia diz que é tempo de melhorar as condições de acessibilidade e fruição do bairro histórico. Novos passeios, reorganização do estacionamento e placas junto a edifícios emblemáticos são outras ideias.
Marinheiros, nobres, jornalistas, artistas e boémios. Em mais de cinco séculos de vida muitos foram os que calcorrearam as ruas estreitas do Bairro Alto, mas poucos – talvez nenhum – tenha deparado com árvores no passeio. A concretizar-se uma proposta que a Câmara de Lisboa vai lançar a debate, essa realidade talvez não esteja assim tão distante.
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Marinheiros, nobres, jornalistas, artistas e boémios. Em mais de cinco séculos de vida muitos foram os que calcorrearam as ruas estreitas do Bairro Alto, mas poucos – talvez nenhum – tenha deparado com árvores no passeio. A concretizar-se uma proposta que a Câmara de Lisboa vai lançar a debate, essa realidade talvez não esteja assim tão distante.
A “plantação de árvores de pequeno porte e/ou de trepadeiras” faz parte de um plano de requalificação do Bairro Alto que será discutido na reunião autárquica da próxima quinta-feira e que depois estará em consulta pública.
Com o objectivo de “transportar o Bairro Alto para uma nova dimensão de utilização do espaço público, com melhores condições de acessibilidade e de fruição”, o projecto desenvolvido pela Unidade de Intervenção Territorial do Centro Histórico propõe novos passeios, a reorganização do estacionamento automóvel e percursos por locais emblemáticos do bairro.
Ao nível dos pavimentos, a ideia da autarquia é uniformizar todas as ruas. Actualmente há artérias sem passeio, apenas com paralelepípedos graníticos, outras que o têm em calcário elevado face à estrada, outras ainda em que granito e calcário convivem ao mesmo nível.
Nas 34 ruas que estão abrangidas pelo projecto, que vão do Miradouro de São Pedro de Alcântara à Rua de O Século e do Loreto à Rua D. Pedro V, a proposta camarária é que se retomem os passeios em calcário branco junto aos edifícios, à semelhança do que existe em praticamente toda a cidade. “Propõe-se o nivelamento das áreas de passeio e das faixas de rodagem, reduzindo a velocidade em todos os eixos de circulação, e a criação de faixas de alargamento dos passeios”, lê-se no documento a que o PÚBLICO teve acesso.
Nessas zonas mais largas poderão ser instaladas esplanadas, lugares de estacionamento ou, nas ruas mais generosas, árvores pequenas. É, por exemplo, o caso da Rua Luz Soriano ou da Travessa da Espera. Noutros locais, como na Travessa dos Fiéis de Deus, a ideia é a “criação de novos espaços de estadia”, com árvores e bancos, tal como já existem em algumas ruas da Bica.
A proposta contempla ainda a criação de percursos para valorizar o património e a história local através da colocação de placas em frente a edifícios emblemáticos ou associados a momentos e ofícios que marcaram o Bairro Alto. No século XX ali funcionaram jornais, salas de espectáculo e bares que deixaram memória na cidade, mas naquelas ruas há histórias que remontam ao século XV.
Está igualmente prevista uma intervenção ao nível das sarjetas e da rede de iluminação pública.
A câmara diz, na proposta que é assinada pelos vereadores das Finanças, do Urbanismo e da Mobilidade, que o projecto foi desenhado em colaboração com a Junta Freguesia da Misericórdia e que terá um custo a rondar os três milhões de euros.
Em Novembro do ano passado a câmara anunciou a criação de 45 fogos no quarteirão onde funcionaram os jornais A Capital e Diário de Notícias, que está devoluto há 19 anos. Para o local chegou a estar previsto um silo de estacionamento automóvel, mas a ideia foi abandonada depois de a Direcção-Geral do Património Cultural ter chumbado o projecto de arquitectura.
Caso seja aprovado, este projecto segue para “um período de discussão pública alargado”, incluindo, entre outros, “uma ampla divulgação multicanal” e “sessões de apresentação e esclarecimento”.