Um dos capítulos de A Outra Metade, de Brit Bennett, esta quarta-feira nas livrarias
Este é o segundo romance da norte-americana Brit Bennett e o primeiro a chegar às livrarias portuguesas numa edição da Alfaguara Portugal, a 15 de Junho. É uma saga familiar que atravessa quatro décadas e vários Estados e foca-se na história de duas irmãs gémeas de ascendência negra que vivem no Sul dos Estados Unidos.
Na manhã em que uma das gémeas desaparecidas regressou a Mallard, Lou LeBon foi a correr ao restaurante dar a notícia e, hoje, volvidos muitos anos, ainda todos se lembram do choque de Lou, suado, transpondo as portas de vidro, com o peito a arfar e o decote da camisola molhado do esforço. Os clientes sonolentos reuniram-se à volta dele, deviam ser uns dez, embora outros tantos mentissem e dissessem que também lá tinham estado, nem que fosse para fingir que, pelo menos dessa vez, haviam assistido a um acontecimento verdadeiramente empolgante. Na pequena povoação rural, nunca se passava nada de surpreendente, não desde que as gémeas Vignes tinham desaparecido. Mas, nessa manhã de Abril de 1968, a caminho do trabalho, Lou vira Desiree Vignes na Partridge Road, com uma pequena mala de couro. Estava exactamente como no dia em que se fora embora, aos dezasseis anos: continuava de pele clara, cor de areia ligeiramente húmida. O seu corpo de ancas estreitas lembrava um ramo apanhado numa brisa forte. Ia muito apressada, de cabeça baixa, e — aqui, Lou fez uma pausa, para criar efeito — levava pela mão uma menina de sete ou oito anos, negra como alcatrão.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Na manhã em que uma das gémeas desaparecidas regressou a Mallard, Lou LeBon foi a correr ao restaurante dar a notícia e, hoje, volvidos muitos anos, ainda todos se lembram do choque de Lou, suado, transpondo as portas de vidro, com o peito a arfar e o decote da camisola molhado do esforço. Os clientes sonolentos reuniram-se à volta dele, deviam ser uns dez, embora outros tantos mentissem e dissessem que também lá tinham estado, nem que fosse para fingir que, pelo menos dessa vez, haviam assistido a um acontecimento verdadeiramente empolgante. Na pequena povoação rural, nunca se passava nada de surpreendente, não desde que as gémeas Vignes tinham desaparecido. Mas, nessa manhã de Abril de 1968, a caminho do trabalho, Lou vira Desiree Vignes na Partridge Road, com uma pequena mala de couro. Estava exactamente como no dia em que se fora embora, aos dezasseis anos: continuava de pele clara, cor de areia ligeiramente húmida. O seu corpo de ancas estreitas lembrava um ramo apanhado numa brisa forte. Ia muito apressada, de cabeça baixa, e — aqui, Lou fez uma pausa, para criar efeito — levava pela mão uma menina de sete ou oito anos, negra como alcatrão.