Aung San Suu Kyi começou a ser julgada quatro meses depois do golpe militar na Birmânia
Organizações de defesa dos direitos humanos falam em acusações forjadas e “poucas probabilidades” da líder birmanesa “receber um julgamento justo”.
O julgamento da líder deposta da Birmânia Aung San Suu Kyi começou esta segunda-feira, em Naypyidaw, capital administrativa do país, mais de quatro meses passados do golpe militar que derrubou o seu Governo. A Nobel da Paz, de 75 anos, responde por cinco acusações e pode ser condenada a mais de dez anos de prisão. Para os observadores, a intenção da Junta militar que domina o país é afastar Suu Kyi e o seu partido “do panorama político” birmanês.
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O julgamento da líder deposta da Birmânia Aung San Suu Kyi começou esta segunda-feira, em Naypyidaw, capital administrativa do país, mais de quatro meses passados do golpe militar que derrubou o seu Governo. A Nobel da Paz, de 75 anos, responde por cinco acusações e pode ser condenada a mais de dez anos de prisão. Para os observadores, a intenção da Junta militar que domina o país é afastar Suu Kyi e o seu partido “do panorama político” birmanês.
As acusações incluem a posse ilegal de walkie-talkies, a violação das restrições para controlar a pandemia durante a campanha eleitoral do ano passado e ainda acusações adicionais de corrupção por alegadamente ter aceitado quase 500 mil euros e cerca de 11 quilos de ouro para violar uma lei da era colonial.
Suu Kyi responde ainda por duas acusações de sedição, juntamente com o Presidente destituído, Win Myint, e outro membro da Liga Nacional para a Democracia (LND), num outro processo que está previsto para começar esta terça-feira.
Os seus advogados, que apenas tiveram autorização para a visitar duas vezes, esperam que o julgamento esteja concluído no final de Julho. “Esperamos o melhor, mas estamos preparados para o pior”, disse à AFP Khin Maung Zaw, um dos advogados.
Zaw considera que “é inegável que há um pano de fundo político para a manter fora do cenário do país e manchar a sua reputação” e “essa é uma das razões por trás das acusações: mantê-la fora de cena”, continuou.
Richard Horsey, analista político especializado na Birmânia, disse à Al-Jazeera que “não há indicações de que o regime planeie libertar Aung San Suu Kyi, a permita dirigir-se aos seus apoiantes ou que a use como moeda de troca nas relações internacionais”. Mas, salienta, a intenção do líder da Junta militar é “ter a mão livre para moldar o panorama político sem a influência de Suu Kyi ou do seu partido”, concluiu.
O vice-director da Human Rights Watch para a Ásia, Phil Robertson, descreveu as acusações como “falsas e com motivações políticas”. “Com as restrições de acesso aos seus advogados, e com o julgamento a decorrer num tribunal comprometido com a Junta militar, há poucas probabilidades de receber um julgamento justo”, continuou Robertson.
Sob o pretexto de fraude nas eleições vencidas com maioria absoluta pelo partido de Suu Kyi, os militares derrubaram o Governo e deteve vários membros do partido, incluindo a sua líder. O golpe levou a protestos em massa por todo o país, que foram evoluindo para confrontos violentos com as forças militares.
Os valores mais recentes da Associação de Assistência a Presos Políticos contabilizam mais de 850 mortes e mais de 6 mil pessoas detidas. No caso de Suu Kyi, o Washington Post refere que as suas acusações são especialmente punitivas.
A comunidade internacional e vários grupos pelos direitos humanos condenaram a detenção e o tratamento da ex-líder e de outros detidos, incluindo políticos, activistas, manifestantes e jornalistas.
Ainda na sexta-feira, Michelle Bachelet, alta-comissária da ONU para os direitos humanos, alertou para a situação do país que estás em vias de se tornar numa carnificina e acusou a liderança militar do país de ser “particularmente responsável” pela crise humanitária dos direitos humanos no país.