Médicos de família vão entregar aos utentes nota a pedir compreensão pelos atrasos

Na nota, o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) afirma que “a vacinação é fundamental para o combate a pandemia”, mas sublinham que “está a ser feita exclusivamente a custa dos médicos, enfermeiros e assistentes técnicos dos centros de saúde em vez de contratação de profissionais”.

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Manuel Roberto

Os médicos de família vão entregar, a partir de segunda-feira, uma nota aos utentes a pedir compreensão pelos atrasos nas consultas e nas respostas aos pedidos de medicação, avançou esta sexta-feira à Lusa o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos.

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Os médicos de família vão entregar, a partir de segunda-feira, uma nota aos utentes a pedir compreensão pelos atrasos nas consultas e nas respostas aos pedidos de medicação, avançou esta sexta-feira à Lusa o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos.

“É uma pequena justificação a todos os utentes para que de alguma maneira percebam que, apesar dos nossos esforços, a situação vai ter tendência a piorar”, adiantou Jorge Roque da Cunha.

Na nota, o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) afirma que “a vacinação é fundamental para o combate a pandemia”, mas sublinha que “está a ser feita exclusivamente a custa dos médicos, enfermeiros e assistentes técnicos dos centros de saúde em vez de contratação de profissionais”.

“Por isso, e apesar de não termos qualquer responsabilidade nos atrasos das consultas, das respostas aos pedidos de medicação, da resposta aos mails, pedimos a sua compreensão pelos atrasos”, lê-se na mensagem.

Refere ainda que os médicos vão continuar “a implorar” para que os deixem ver os seus doentes e dessa forma evitar “cancros, amputações, cegueiras e tromboses entre outras doenças” e apela aos utentes para exigirem o mesmo junto dos políticos nas juntas de freguesia, nas câmaras e assembleias municipais, no Parlamento e ao Governo.

Jorge da Cunha adiantou que a nota, distribuída pelos associados do SIM, surge depois de terem sido feitos “repetidos apelos” sem sucesso ao Governo para contratar médicos, enfermeiros e assistentes técnicos para a vacinação que vai demorar algum tempo.

“Não sabemos se vai ser preciso uma terceira dose e depois é a vacinação contra a gripe e, por isso, temos de criar as condições para que os nossos utentes tenham acesso [aos cuidados de saúde] porque é politicamente criminoso não estar a permitir que os médicos de família vejam os seus doentes”, vincou.

Jorge Roque da Cunha adiantou que, à medida que se desenrola a pandemia, o Governo tem retirado progressivamente dos centros de saúde meios que “já são escassos” para se dedicarem ao acompanhamento dos doentes com covid-19, quando há cerca de um milhão de utentes sem médico de família.

“Muitos utentes dizem e pensam que, não tendo acesso às consultas, a responsabilidade é dos médicos, porque os médicos não desaparecem”, mas não os podem atender no centro de saúde porque estão dedicados à covid-19, disse, observando que cada médico de família já tem de acompanhar “uma lista longuíssima de 1900 utentes”.

Há centros de saúde em Lisboa que têm os e-mails dos utentes atrasados na sua análise mais de uma semana por falta de administrativos que estão na vacinação.

“Portanto, quando se manda um e-mail hoje o doente só vai ter resposta daqui a um mês e meio”, o mesmo se passa com as consultas, o que leva os utentes a contestarem.

“Estamos a assistir a um aumento da agressividade dos próprios doentes que, com razão, querem a sua consulta. É preciso retomarmos esse trabalho”, defendeu.

Com estes atrasos, alertou, “estamos a fazer com que os diabéticos descompensem, fiquem cegos, haja mais enfartes do miocárdio, mais AVC, mais mortes”.

Para Roque da Cunha, trata-se de “uma insensibilidade inqualificável” por parte do Ministério da Saúde em relação a esta matéria: “Se pensa que resolve o problema obrigando os médicos e os enfermeiros e os administrativos a ficarem no centro de saúde [como aconteceu no estado de emergência] é um erro de palmatória”.

O estado de emergência possibilitava ao Governo o direito de impedir a cessação de contratos. “Com medo que isso volte a acontecer” são “centenas de médicos” que tomaram outras decisões e estão a rescindir os contratos, salientou.