Ex-director da Mossad admite papel dos serviços secretos israelitas na morte de cientista iraniano

Yossi Cohen reconheceu em entrevista a mão da agência de espionagem que liderou nos ataques às instalações nucleares de Natanz e à jornalista do Canal 12 disse ter aprovado pessoalmente o assassínio de Mohsen Fakhrizadeh.

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O Presidente do Irão, Hassan Rouhani, numa visita às instalações nucleares de Natanz, alvo de ataques israelitas EPA

O director cessante da Mossad, a agência de espionagem israelita, reconheceu a responsabilidade de Israel em várias operações que tiveram como alvo o programa nuclear do Irão, incluindo o recente ataque ao complexo de Natanz e o assassinato de um cientista iraniano. 

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O director cessante da Mossad, a agência de espionagem israelita, reconheceu a responsabilidade de Israel em várias operações que tiveram como alvo o programa nuclear do Irão, incluindo o recente ataque ao complexo de Natanz e o assassinato de um cientista iraniano. 

Numa entrevista ao programa Uvda do Canal 12 israelita, emitida na quinta-feira à noite, Yossi Cohen ofereceu uma visão rara das operações levadas a cabo por uma agência que não tem por hábito revelar detalhes das suas acções, isto numa altura em que Benjamin Netanyahu está prestes a deixar o poder ao fim de 12 anos, caso o Knesset aprove no domingo o novo Governo de coligação.

Ao mesmo tempo, o ex-chefe dos espiões israelitas, que deixou o cargo na semana passada, deixou um aviso claro aos cientistas do programa nuclear do Irão de que também eles podem vir a ser potenciais alvos a matar, independentemente das negociações que prosseguem em Viena para Teerão regressar ao acordo nuclear de 2015.

“Quando um cientista está disposto a mudar de carreira e não voltar a prejudicar-nos, então, sim, às vezes oferecemos uma saída”, disse Cohen durante a entrevista.

Entre as principais e mais visíveis operações contra o Irão estão os ataques que tiveram como alvo as instalações nucleares de Natanz. Em Julho de 2020, uma explosão misteriosa destruiu a montagem de uma centrifugadora, num ataque que as autoridades iranianas atribuíram a Israel. Já este ano, em Abril, uma outra explosão destruiu uma das salas subterrâneas destinadas ao enriquecimento de urânio.

“O homem responsável por essas explosões forneceu aos iranianos a base de mármore sobre a qual as centrifugadoras são colocadas. E quando instalaram a base nas instalações de Natanz não faziam ideia que vinha com uma enorme quantidade de explosivos”, revelou Cohen, que ingressou na Mossad em 1982, tendo sido nomeado director da agência em 2015 por Benjamin Netanyahu.

Durante a entrevista ao Canal 12, Yossi Cohen falou também do assassinato, em Novembro passado, de Mohsen Fakhrizadeh, cientista que trabalhou no programa nuclear do Irão durante as duas últimas décadas. Embora o ex-chefe da Mossad não afirme, perante as câmaras, que Israel ordenou a morte do cientista iraniano, no segmento que acompanha a entrevista, a jornalista Ilana Dayan refere que Cohen “aprovou pessoalmente a operação”, descrevendo também como uma metralhadora operada remotamente, instalada numa camioneta, matou Fakhrizadeh para depois se autodestruir.

Outra das operações detalhadas no programa foi a operação, em 2018, que resultou no roubo dos arquivos documentais do programa nuclear iraniano. Dayan revelou que 20 agentes, nenhum deles israelita, digitalizaram e transmitiram documentos que estavam guardados em 32 cofres num edifício em Teerão, numa operação que demorou dois anos a planear. Cohen assistiu à operação a partir do centro de comando em Telavive e, na entrevista, revelou que todos os agentes envolvidos sobreviveram, embora muitos deles tivessem sido extraídos do Irão.