Marcelo Rebelo de Sousa: “É necessário reconstruir o tecido social”
Presidente da República intervem nas comemorações do Dia de Portugal, que decorrem na Madeira
O Presidente da República defendeu que Portugal não se pode “limitar a remendar o tecido social” atingido pela pandemia de covid-19 e que é preciso “reconstruir” para o futuro, deixando um apelo a que se evite o desperdício dos fundos comunitários.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O Presidente da República defendeu que Portugal não se pode “limitar a remendar o tecido social” atingido pela pandemia de covid-19 e que é preciso “reconstruir” para o futuro, deixando um apelo a que se evite o desperdício dos fundos comunitários.
No discurso da cerimónia do Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas, que decorrem este ano na Madeira, Marcelo Rebelo de Sousa reconheceu já estarmos “no fim ou quase no fim de uma pandemia muito dolorosa”, prestou homenagem aos profissionais de saúde, às forças armadas e aos imigrantes.
No púlpito, o Presidente desafiou a que “nos próximos anos” Portugal não se pode limitar “a remendar o tecido social ferido pela pandemia” e que é preciso reconstruir "a pensar em 2030, 2040, 2050”. “É necessário agir em conjunto com organização, transparência eficácia, responsabilidade e resultados duradouros. Que tudo façamos para o conseguir”, disse, deixando um apelo à “convergência para aproveitar recursos e não uma chuva de benesses para alguns que se veja com olhos de interesse colectivo e não com olhos de egoísmo pessoais ou de grupo”.
Perante o primeiro-ministro e com a bazuca na mira, Marcelo Rebelo de Sousa apelou também à necessidade de desaproveitar recursos. “O 10 de Junho interpela-nos a não desperdiçar o acicato dos fundos que nos podem ajudar e evitando deles fazer, em pequeno e por curtos anos, o que fizemos em tantos anos na nossa História – com o ouro, especiarias e com a prata, mais perto de nós com alguns dinheiros comunitários”, afirmou.
Lembrando que “somos uma pátria de emigrantes”, o Presidente agradeceu também aos imigrantes pelos seus “contributos para a riqueza nacional” e em especial nos últimos anos em que “ajudaram a não parar sectores inteiros como a construção”. A mensagem sobre o acolhimento foi clara: “Não nos podemos esquecer. Não podemos querer para os nossos aquilo que negamos para os emigrantes dos outros”.
Num discurso em que saudou os emigrantes e em particular aos que partiram da Região Autónoma para outros países, Marcelo Rebelo de Sousa deixou também agradecimento. “É dia para agradecermos ao nosso irmão de nacionalidade e aos outros irmãos de humanidade que nos são tão úteis”, disse, depois de defender que é preciso melhorar o sistema de voto dos emigrantes portugueses para que não tenham de percorrer “milhares de quilómetros” para votarem como aconteceu nas presidenciais de Janeiro.
Depois de homenagear as forças armadas “pela intervenção que tiveram nos lares, na preparação das escolas e na garantia da vacinação em massa”, o chefe de Estado deixou “uma palavra ainda mais forte emocionada para com as mulheres e homens na saúde, em todo o país, salvaram vidas e velaram doentes”.
Mais do que “homenagear” ou “condecorar” esses “heróis”, o Presidente da República disse ser preciso “continuar a proporcionar no futuro ainda mais recursos e condições para continuarem a servir a comunidade”. Como símbolo da homenagem aos profissionais de saúde, Marcelo Rebelo de Sousa escolheu uma médica do Serviço Nacional de Saúde da Madeira, Carmo Caldeira, para presidir à comissão organizadora das comemorações do 10 de Junho.
Lembrando que “nestes quase dois anos em que a pandemia “tudo ou quase tudo suspendeu, adiou, atropelou”, Marcelo Rebelo de Sousa desafiou a que Portugal assuma o mar como uma exigência. “É necessário reforçar a nossa estratégia nos oceanos, que se reforce com urgência. É necessário fazer da conferência dos oceanos, de que seremos anfitriões, um marco do caminho que percorremos desde mandatos Presidentes Ramalho Eanes, Jorge Sampaio, Mário Soares e Cavaco Silva, com sucessivos governos da República e regionais que se faça para que não se perca a urgência desse rumo”, afirmou.
No final do discurso, o Presidente da República recordou a cerimónia do 10 de Junho de 2020, apenas com oito convidados nos claustros do Mosteiro dos Jerónimos, marcando a diferença para o momento actual: “A nossa vida continua, a nossa vida recomeça, a nossa vida reconstrói-se”.