Bienal de Arte de Veneza vai decorrer sob o signo da metamorfose

O tema proposto pela curadora-geral Cecilia Alemani para a próxima edição da bienal, que a pandemia atirou para 2022, foi inspirado no livro The Milk of Dreams, da artista plástica e escritora surrealista Leonora Carrington.

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LUSA/Marton Monus

A metamorfose individual e do mundo através da imaginação vai ser o tema da Bienal de Arte de Veneza de 2022, inspirado no livro The Milk of Dreams, da artista surrealista Leonora Carrington (1917-2011), anunciou esta quarta-feira a organização.

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A metamorfose individual e do mundo através da imaginação vai ser o tema da Bienal de Arte de Veneza de 2022, inspirado no livro The Milk of Dreams, da artista surrealista Leonora Carrington (1917-2011), anunciou esta quarta-feira a organização.

A 59.ª Exposição Internacional de Arte da Bienal de Veneza vai focar-se essencialmente em três temas: a representação dos corpos e as suas metamorfoses, a relação com as tecnologias, e ainda a conexão entre os corpos e o planeta Terra.

Pintora, escultora, cenógrafa e escritora, Carrington nasceu no Reino Unido, mas viveria a maior parte da sua vida na Cidade do México, e a obra que serve de inspiração à próxima bienal de arte “descreve um mundo mágico onde a vida é constantemente renovada sob o prisma da imaginação”, refere a curadora-geral, Cecilia Alemani.

A próxima Bienal de Veneza está marcada para decorrer entre 23 de Abril e 27 de Novembro de 2022, depois de ter sido adiada deste ano para o próximo devido às circunstâncias da pandemia de covid-19.

Na visão da artista surrealista descrita no livro The Milk of Dreams (O Leite dos Sonhos, em tradução literal), que dará o mote ao mais importante evento internacional de arte contemporânea, “todos podem mudar, ser transformados, tornarem-se algo ou uma pessoa diferente”, aponta Cecilia Alemani.

Nesse sentido, diz ainda a curadora-geral, a próxima exposição da Bienal de Arte de Veneza “vai levar-nos a uma viagem imaginária através de metamorfoses do corpo e possíveis definições da Humanidade”. 

Nos anos 1950, a viver no México, Leonora Carrington “sonhou e ilustrou misteriosas histórias, primeiro directamente, nas paredes da sua casa, e depois num pequeno livro de apontamentos”, ao qual deu o título The Milk of Dreams.

As suas histórias “descrevem um mundo libertado, cheio de possibilidades, mas são também uma alegoria a um século que impôs uma intolerável pressão no indivíduo, forçando a escritora a uma vida no exílio”, descreve Alemani, lembrando que Carrington acabou “fechada em hospitais psiquiátricos”, mas foi, ao mesmo tempo, “objecto de fascínio e desejo, uma figura cheia de poder e mistério, sempre a fugir da rigidez de uma identidade coerente”.

Esta edição da exposição irá ter como base muitas conversas com artistas decorridas nos últimos meses, e nas quais “emergiram questões que parecem captar o espírito deste momento da História, onde a própria sobrevivência da espécie humana está sob ameaça, mas também dúvidas que atravessam a ciência, a arte e os mitos do nosso tempo”, detalha Alemani num comunicado da organização.

Nessa reflexão, exemplifica, surgiram perguntas como: Qual é a definição de mudança do humano? O que constitui a vida e o que diferencia animais, plantas, humanos e não humanos? Quais as nossas responsabilidades perante o planeta, as outras pessoas e os outros organismos com os quais vivemos? Como seria a vida na Terra sem os seres humanos?

No mesmo comunicado, o presidente da Bienal de Veneza, Roberto Cicutto, sublinha que tanto o tema da exposição de arte, como o da exposição de arquitectura, que está a decorrer até Novembro deste ano –​ Como viveremos juntos? –​, aludem às “escolhas que a humanidade terá de fazer face aos tempos” que enfrenta actualmente, e à sua “imensa responsabilidade”.

No ano passado, Cecilia Alemani coordenou o trabalho dos directores de todos os departamentos da Bienal de Veneza – de arte, arquitectura, cinema, dança, música e teatro – para criar a exposição Le muse inquiete (A Musa Inquieta) sobre a história da Bienal.

A 59.ª Exposição Internacional de Arte da Bienal de Veneza terá a sua habitual exposição com as representações nacionais, nos pavilhões nos Giardini, Arsenale, e no centro histórico, e uma exposição geral com dezenas de artistas convidados, além dos eventos paralelos com várias instituições internacionais ligadas à arte.

Apesar de a pandemia ter forçado o adiamento da 17.ª Bienal de Arquitectura de Veneza, que deveria decorrer entre Agosto e Novembro de 2020, para 2021 e, consequentemente, da 59.ª Bienal de Arte para 2022, os festivais dedicados à dança, música e teatro vão realizar-se entre Setembro e Outubro.

A curadora italiana Cecilia Alemani é, desde 2011, directora e curadora chefe da High Line Art, um programa de arte pública que veio dinamizar um parque linear suspenso criado numa linha de comboio desactivada da zona oeste de Manhattan, em Nova Iorque, e já foi curadora do Pavilhão de Itália na Bienal de Arte de Veneza de 2017, cujo conteúdo tinha como título O Mundo Mágico.

Nascida em 1977 em Milão, onde se licenciou em Filosofia, Alemani fez depois um mestrado em estudos curatoriais de arte contemporânea na Bard College, em Nova Iorque, cidade onde hoje está radicada. Tem trabalhado com artistas como El Anatsui, John Baldessari, Phyllida Barlow, Carol Bove, Sheila Hicks, Rashid Johnson, Barbara Kruger, Zoe Leonard, Faith Ringgold, Ed Ruscha, Nari Ward ou Adrián Villar Rojas.

Em 2018, foi curadora de uma exposição de arte pública em Buenos Aires, que celebrou a riqueza cultural da capital argentina, e anteriormente foi curadora independente, desenvolvendo projectos para museus como a Tate Modern, em Londres, ou o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA). 

Lançou recentemente o Plinth, um programa destinado à exposição de peças de arte monumentais num troço do parque High Line, iniciativa que foi inaugurada em Junho do ano passado com Brick House, uma escultura da artista Simone Leigh.