“Foi melhor” resolver o problema do Novo Banco “gradualmente”, diz Ulrich
O chairman do BPI defende que os credores do BES foram “excessivamente protegidos” face aos accionistas dos outros bancos. EX-CEO do BPI diz que “esmagadora” maioria das perdas do Novo Banco resulta de decisões anteriores a Agosto de 2014.
O chairman do BPI, Fernando Ulrich, defendeu esta quarta-feira no Parlamento que foi melhor que o problema do BES/Novo Banco tenha sido resolvido “gradualmente”, embora tivesse preferido que o Fundo de Resolução fosse mais poupado e os credores assumido mais perdas na sequência da queda do banco em 2014.
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O chairman do BPI, Fernando Ulrich, defendeu esta quarta-feira no Parlamento que foi melhor que o problema do BES/Novo Banco tenha sido resolvido “gradualmente”, embora tivesse preferido que o Fundo de Resolução fosse mais poupado e os credores assumido mais perdas na sequência da queda do banco em 2014.
“Foi melhor que o problema tenha sido resolvido gradualmente e por fases”, disse o antigo presidente-executivo (CEO) do BPI, na comissão de inquérito ao Novo Banco. O BPI é um dos bancos que contribuiu para o Fundo de Resolução que já entregou ao Novo Banco depois da resolução quase 3,3 mil milhões de euros ao abrigo do Acordo de Capitalização Contingente.
O ex-líder executivo do banco contabilizou que o conjunto do BES e do Novo Banco utilizaram 16,4 mil milhões de euros para absorver perdas. “A minha impressão é que uma parte muito significativa destes 16,4 mil milhões de euros de capital se deveu a decisões tomadas antes de Agosto de 2014”, mês da resolução do BES e do nascimento do Novo Banco.
Apesar de ter considerado que a solução de capitalização faseada do Novo Banco foi melhor - independentemente de ter sido tomada de forma consciente pelas autoridades ou de ter resultado do curso dos factos -, considerou que os credores do BES foram beneficiados. “Os credores do BES foram beneficiados em comparação com os accionistas dos outros bancos”, afirmou aos deputados, revelando que defendeu que a retransmissão de acções tivesse envolvido um montante superior que permitisse poupar o Fundo de Resolução. Foram "excessivamente protegidos”, disse, em comparação com o tratamento dado aos accionistas dos outros bancos. Ainda assim, admitiu que pudesse não ter sido possível encontrar uma solução que penalizasse mais os credores do BES.
Quanto ao impacto desta solução para os contribuintes, Fernando Ulrich não se quis pronunciar. Lembrou aos deputados que o seu papel é defender os interesses dos accionistas do BPI e disse que a única opinião que tem sobre a gestão do banco é a que resulta da opinião que tem sobre as pessoas, nomeadamente sobre António Ramalho, o presidente-executivo (CEO) do Novo Banco.
“O interesse do BPI era que não tivesse havido os 3,9 mil milhões de euros”, afirmou. Questionado sobre os actos de gestão do Novo Banco, disse não ter informação para se pronunciar. No entanto, criticou o modelo de supervisão à escala europeia por impor níveis de crédito malparado muito baixos, o que leva à venda de carteiras de crédito. “Uma regulação que obriga os bancos bons e maus e venderem activos para ficarem com rácios mais baixos...não gosto”, porque se assim não fosse os bancos podiam ficar com as rentabilidades que assim é passada para os fundos.
Ulrich disse ainda que o BPI interessou-se pela compra do Novo Banco, tendo em 2016 entregue um documento que não chegou a ser transformado em proposta. O banco foi vendido em 2017 ao Lone Star - Ulrich admitiu que o fundo norte-americano tivesse uma proposta menos exigente do que o BPI. “Considero que [o Novo Banco] foi bem vendido”, disse, acrescentando que outra coisa é saber se foi vendido na altura certa.
Perante os deputados, o chairman do BPI defendeu que actualmente a supervisão em Portugal e na Europa “é muito potente, muito forte”, tendo mantido as críticas que fez na altura à supervisão com a informação que tinha à data. “Não houve informações novas, até porque as informações novas entre 2014 e agora são de perdas no banco e no capital. E a minha convicção é que a maior parte das perdas resulta de decisões tomadas antes de Agosto de 2014”, disse. No entanto, admitiu que “provavelmente teria sido melhor que o banco não tivesse necessidade de vender activos” depois. Mas, “esmagadoramente”, as necessidades de capital resultam de decisões anteriores a Agosto de 2014.