Instalação em Berlim reúne livros de autores proibidos pela ditadura portuguesa e pelo nazismo
Originalmente integrada no programa que Portugal levará, como país convidado, à Feira do Livro de Leipzig, entretanto adiada para 2022, a exposição foi inaugurada esta terça-feira na praça onde os nazis queimaram milhares de livros em 1933, o mesmo ano em que se instituía em Portugal a censura prévia.
Títulos de escritores portugueses censurados pela ditadura do Estado Novo e obras proibidas e queimadas pelo regime nazi juntam-se numa instalação inaugurada esta terça-feira na Bebelplatz, em Berlim, a praça onde os partidários de Hitler queimaram, no dia 10 de Maio de 1933, mais de 20 mil livros.
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Títulos de escritores portugueses censurados pela ditadura do Estado Novo e obras proibidas e queimadas pelo regime nazi juntam-se numa instalação inaugurada esta terça-feira na Bebelplatz, em Berlim, a praça onde os partidários de Hitler queimaram, no dia 10 de Maio de 1933, mais de 20 mil livros.
Uma estrutura semelhante a uma cabine telefónica, mas cheia de livros proibidos nos dois países, dialoga agora com o memorial do artista israelita Micha Ulman, inaugurado em 1995 e que consiste numa biblioteca subterrânea, cujas estantes brancas e vazias se podem ver, através de um vidro, sob o chão da Bebelplatz. Ali foi também colocada uma placa de bronze com uma profética passagem da tragédia Almansor (1820), do poeta Heinrich Heine (1797-1856), que já fora um autor proibido na Alemanha do seu tempo antes de o voltar a ser durante o nazismo: “Isto foi apenas um prelúdio – onde se queimam livros, acabarão por se queimar também pessoas.”
Heine é um dos escritores representados nesta cabine de livros proibidos, censurados ou queimados, a par da poetisa judia alemã Nelly Sachs (1891-1970), que veio a receber o Nobel da Literatura em 1966, do romancista de Berlin Alexanderplatz, Alfred Döblin (1878-1957), do dramaturgo e poeta Bertolt Brecht (1898-1956), da ficcionista Anna Seghers (1900-1983), também judia, ou de Erich Kästner (1899-1974), autor do famoso livro infanto-juvenil Emílio e os Detectives, para citar apenas um pequeno número de exemplos. Judith Teixeira, Vergílio Ferreira, Natália Correia, José Cardoso Pires, Herberto Helder ou as três autoras das Novas Cartas Portuguesas (1972) – Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno –, são alguns dos portugueses que lhes fazem companhia nesta instalação.
Originalmente integrada na programação proposta por Patrícia Severino, comissária do projecto Portugal País Convidado da Feira do Livro de Leipzig, para acompanhar a presença nacional na feira alemã, que a pandemia de covid-19 obrigou a adiar para 2022, a exposição acabou por ser agora inaugurada no contexto da programação cultural da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia. Após a sua passagem simbólica pela Bebelplatz, a instalação, co-promovida pela Embaixada de Portugal na Alemanha e pelo Instituto Camões em Berlim, deverá ficar em exposição no pátio exterior da Biblioteca Nacional alemã, na avenida berlinense Unter den Linden, até ao dia 30 de Junho.
Um comunicado do Instituto Camões em Berlim explica que este projecto convoca “dois momentos do século XX, da história da Alemanha e da história de Portugal": no mesmo ano em que os nazis acendiam a sua fogueira na Bebelplatz e queimavam milhares de livros, a Constituição de 1933 instaurava o Estado Novo e instituía-se em Portugal a censura prévia.
O mesmo comunicado adianta que Portugal se apresentará para o ano como país convidado na Feira do Livro de Leipzig sob o mote O Encontro Inesperado do Diverso, e lembra que a escritora portuguesa Maria Gabriela Llansol estabeleceu uma ponte entre as cidades de Lisboa e Leipzig no seu livro Lisboaleipzig, convocando um encontro entre o lisboeta Fernando Pessoa e o compositor Johann Sebastian Bach, que viveu e morre nessa cidade alemã. com Lusa