Do GPS de André Rocha vai nascer uma rota pedestre que liga a costa portuguesa de lés-a-lés
O fundador do The Escapist deu a última aula do semestre na universidade e no dia seguinte partiu para uma aventura de mais de 900km em que vai percorrer a pé o litoral português.
Habituado a uma vida profissional intensa, André Rocha, um gestor natural do Porto, que é também advogado e professor universitário, decidiu enfrentar o desafio de fazer a pé “a linha costeira que une todas as praias do país”. Durante algumas semanas, o fato e sapatos normais de trabalho dão lugar ao equipamento de caminhada: “Andarei por todas as marginais, praias, estradões, enseadas e escarpas da nossa costa”, garante André Rocha, com o objectivo de fazer os 900km da costa – mais uns pozinhos – que unem Caminha a Vila Real de Santo António, o ponto mais a norte com o ponto mais a este do país.
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Habituado a uma vida profissional intensa, André Rocha, um gestor natural do Porto, que é também advogado e professor universitário, decidiu enfrentar o desafio de fazer a pé “a linha costeira que une todas as praias do país”. Durante algumas semanas, o fato e sapatos normais de trabalho dão lugar ao equipamento de caminhada: “Andarei por todas as marginais, praias, estradões, enseadas e escarpas da nossa costa”, garante André Rocha, com o objectivo de fazer os 900km da costa – mais uns pozinhos – que unem Caminha a Vila Real de Santo António, o ponto mais a norte com o ponto mais a este do país.
A partida ocorreu na quinta-feira, dia 2 de Junho. Na véspera, confessava aos alunos de MBA da Porto Business School o desejo de que a última aula do ano lectivo passasse a correr. Era a derradeira obrigação depois da qual poderia lançar-se na nova aventura, um projecto que André baptizou de Grande Rota 76. O nome surge do cruzamento do seu ano de nascimento com a famosa estrada que liga a costa leste e oeste dos Estados Unidos. A gravação que vai fazer do percurso no GPS ficará disponível para quem queira usá-la nas suas próprias viagens. A ideia é definir um caminho que “possa ser replicado” por qualquer pessoa, com toda a segurança. Depois, cabe a cada um decidir o que fazer com a rota: percorrê-la em parte ou na totalidade. Será “um complemento perfeito para a oferta turística do nosso país”, acrescenta o gestor.
Consigo leva só o estritamente necessário: duas mudas de roupa (t-shirt e calções), uns calções de banho, umas sandálias de apoio para a noite, um canivete suíço, um casaco e um polar. O computador, contudo, acabou mesmo por ter que ir para a mochila e é o que está a pesar mais nos ombros do portuense. Há obrigações profissionais inadiáveis a cumprir ao longo da viagem, às quais terá que dedicar algum tempo no final de cada dia.
A Fugas foi ao encontro de André Rocha na sua passagem pelo Porto. Ao fim do segundo dia de caminho é perceptível que o desafio é exigente do ponto de vista físico. Implica percorrer, em média, cerca de 50km diários durante 19 dias. O gestor contudo, não desarma: “Está a correr bem. Estou a começar a descobrir coisas que nem sonhava que existiam na costa.”
Caminhar para parar
Mais importante que as praias é “o caminho que as une”, sublinha André Rocha. Caminhar é uma verdadeira “filosofia”, que tem origens na Grécia Antiga, mais concretamente na escola dos peripatéticos – palavra que significa “aqueles que caminham”. Aos trinta, quarenta anos atingimos o “pináculo da pressão” e é importante encontrar formas de parar para não sermos “levados na enxurrada”. Fazer caminhadas é uma boa estratégia, porque enquanto o fazemos “o cérebro ganha uma personalidade diferente da do dia-a-dia”. A repetição do movimento “liberta o processo intelectual” e arrumamos a nossa casa interior: abrem-se gavetas que estavam fechadas há muito tempo, deita-se fora a “tralha intelectual” de que não precisamos para nada. “A única coisa que temos que fazer é pôr um pé à frente do outro. O nosso cérebro está livre para ir para onde lhe apetecer, para arrumar esses tais assuntos antigos e para pensar em estradas novas para o futuro também.”
Há alguns anos, André fundou o The Escapist, uma organização sem fins lucrativos de caminhadas que reúne pessoas de todo o país para a realização de expedições terrestres. Até ao momento, já organizou mais de 15 saídas (denominadas The Great Escapes) em Portugal Continental, Açores e Espanha. “Hoje em dia é difícil conhecer as pessoas. Quando vamos jantar com amigos, a conversa fica ali numa primeira camada, mas se vamos andar com eles quatro dias a pé, passamos a ter tempo para ir para outras fatias do que são as nossas relações com essas pessoas.”
A evolução da Grande Rota 76 pode ser acompanhada no Instagram e Facebook, onde André vai postando actualizações dos locais por onde vai passando. Vários amigos vão acompanhá-lo em algumas partes do percurso: “Tenho a sorte de ter amigos pelo país todo, portanto acho que vou ter a sorte de encontrar uns quantos.” Dia 20 deverá chegar ao destino, junto às margens do rio Guadiana. Até lá, garante: “Onde vir o mar, estou por lá perto.”
Texto editado por Sandra Silva Costa