Covid-19. Bairro da Bica em Lisboa despido e conformado por não haver arraiais nos Santos
A uma semana da noite de Santo António, o bairro da Bica, em Lisboa, encontra-se conformado por não haver arraiais e por estar despido dos tradicionais enfeites. Muitos negócios do bairro fecharam devido à pandemia da covid-19.
A uma semana da noite de Santo António e com os “encontros de novo adiados”, como cantava Jorge Palma, o bairro da Bica, em Lisboa, encontra-se conformado por não haver arraiais e por estar despido dos tradicionais enfeites.
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A uma semana da noite de Santo António e com os “encontros de novo adiados”, como cantava Jorge Palma, o bairro da Bica, em Lisboa, encontra-se conformado por não haver arraiais e por estar despido dos tradicionais enfeites.
“Eu adoro os Santos Populares, mas, por causa da pandemia, temos de ver que juntar muita gente [na rua], para já, não convém”, é assim que Kami Magan, proprietária de uma boutique, no Largo do Calhariz, se refere à não realização das festas da cidade.
Em declarações à agência Lusa, a lojista explica que o problema é as pessoas não respeitarem as regras sanitárias, pondo em causa a saúde pública.
“Se fizessem e se tivesse controlo [podia haver festa], mas o pior é que as pessoas não respeitam. As pessoas que vão estar a beber e a comer não vão estar sempre a levantar a máscara, não dá. Gostar, gostávamos, mas pela segurança das pessoas, não. Fazem as festas e depois? Há o aumento de casos, falam em confinamento [...] e são sempre os mesmos a pagar por tabela”, realça.
Também naquele bairro as ruas estão vazias e muitos negócios fecharam devido à pandemia da covid-19.
Sem verificar muitos ajuntamentos na zona, nos últimos tempos, Kami Magan refere que ainda é cedo para as festas voltarem a ocorrer no bairro, mas lança o repto para serem feitas decorações festivas. “As coisas estão a correr bem, deixem as coisas acalmarem. Para o ano, temos festa”, exclama.
Também no Largo do Calhariz encontra-se um restaurante de comida típica portuguesa, cujo gerente concorda com a não-realização das festas dos Santos Populares este ano, devido ao contexto pandémico, assegurando que é “por uma questão de saúde pública”.
“Eu não estou contra a medida. Acho que realmente muita gente vai perder dinheiro. Especificamente, no meu caso — no Santo António — era uma noite perfeitamente normal. Chagavam as dez e meia da noite, fechava o restaurante e ia também para a festa”, diz Miguel Alves, gerente do Príncipe do Calhariz.
Na terça-feira, Fernando Medina (PS) indicou que, tal como no ano passado, os arraiais “não vão ser licenciadas nem pela Câmara, nem por Juntas de Freguesia e, por isso, a fiscalização cabe às autoridades, quer à Polícia Municipal, quer à Polícia de Segurança Pública [PSP]”. “Como não há os bailaricos, como não há os arraiais, se calhar, até vou vender mais sardinhas do que nos outros anos”, adianta Miguel Alves, acrescentando que o “público vai para aquilo que realmente quer”.
Segundo o empresário, a noite de Santo António é “uma noite normal” para a sua casa e que a única diferença, em relação a outros dias do ano, era vender apenas mais sardinhas. “No ano passado, não vendi tantas sardinhas quanto isso. Vendia mais à hora do almoço [...], mas os Santos Populares, nesta casa, não são uma coisa em que se faça um pico de facturação”, observa.
É na Rua da Bica de Duarte Belo, que liga a Travessa do Cabral ao Largo do Calhariz, que aparece David Martins, um sapateiro que conta que o bairro “não tem condições para fazer a festas dos Santos”. “Não tem grande espaço, não há largos [...]. Há pessoas que têm aqui restaurantes que não conseguem passar. Isto são milhares de pessoas. Nesta rua só se vêem cabeças”, diz o sapateiro, que trabalha na famosa rua do Elevador da Bica há 50 anos, afirmando que não é “contra os Santos Populares”.
Lembrando que o “vírus veio dar cabo da situação dos comerciantes”, David Martins assegura que as festas não iriam “melhorar” os negócios na zona, no momento actual.
“Eu acho que este ano ainda se havia de conter mais um bocadinho. Estou de acordo com o senhor Medina, porque se for para meter aqui milhares de pessoas, se abrirem aqui Santos Populares, não se consegue descer esta rua, não se consegue”, alerta.
Já Marlete Ferreira, que tem um restaurante mais abaixo, conta à Lusa que “seria muito bom” para os comerciantes a realização dos arraiais e dos bailaricos. “Esperava que houvesse. [...] Isso ajudava-nos muito porque, haja ou não haja festa, há muita gente na rua. Os casos, por acaso, não estão a aumentar. Acho que as pessoas estão a ter muito cuidado, pelo menos usam máscara”, defende a proprietária do CharmeGosto.
Acreditando ainda que as festas possam acontecer em Lisboa, Marlete Ferreira indica que, na rua, “a partir das seis horas da tarde, até fica um ambiente bom”, sem ajuntamentos de pessoas. “Se imporem regras, acho que pode acontecer. Eu votava as vezes que fossem precisas para termos a festa. Não pode acontecer o futebol no Porto? Eu torço que sim [que se realizem os Santos Populares”, vincou.