Imprensa norte-americana explora contradições de Harry

Depois de um período de lua-de-mel, a imprensa norte-americana começa a questionar os ataques de Harry e Meghan à família real britânica.

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Em 2017, Harry disse que o irmão, o príncipe William, o tinha convencido a fazer terapia, agradecendo-lhe por isso Reuters/TOBY MELVILLE

Harry tem estado no centro das atenções mediáticas nos EUA. E a bênção de Oprah poderia ser o suficiente para que o príncipe colhesse frutos de empatia entre os norte-americanos. Mas a insistência com que formula acusações contra a sua família parece estar a virar o jogo contra si. Além disso, as “inconsistências e omissões” no seu discurso levaram a que a sua versão dos factos fosse descrita como “revisionista”, num trabalho publicado no Buzzfeed News, um site que, embora não reúna credibilidade jornalística (foi criado inicialmente para testar e criar conteúdos virais), cita entrevistas ao duque de Sussex para mostrar como o próprio se contradiz. E obteve os esclarecimentos do duque a cada questão.

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Harry tem estado no centro das atenções mediáticas nos EUA. E a bênção de Oprah poderia ser o suficiente para que o príncipe colhesse frutos de empatia entre os norte-americanos. Mas a insistência com que formula acusações contra a sua família parece estar a virar o jogo contra si. Além disso, as “inconsistências e omissões” no seu discurso levaram a que a sua versão dos factos fosse descrita como “revisionista”, num trabalho publicado no Buzzfeed News, um site que, embora não reúna credibilidade jornalística (foi criado inicialmente para testar e criar conteúdos virais), cita entrevistas ao duque de Sussex para mostrar como o próprio se contradiz. E obteve os esclarecimentos do duque a cada questão.

A começar pelos temas relacionados com a saúde mental: “Durante algumas destas conversas, Harry assume o papel de historiador revisionista, contradizendo declarações passadas que fez sobre as suas questões de saúde mental e o apoio — ou falta dele — que recebeu da família real.” Ou seja, Harry deixou claro, tanto na polémica entrevista à apresentadora Oprah Winfrey, em Março, como nas conversas que se seguiram que não obteve da família qualquer apoio, tendo apenas procurado ajuda profissional depois de Meghan o ter motivado a tal.

Porém, em 2017, Harry disse que o irmão, o príncipe William, o tinha convencido a fazer terapia, agradecendo-lhe por isso. Durante uma entrevista para o podcast de saúde mental do Reino Unido Mad World, Harry, na época com 32 anos, contou que o processo de cura tinha começado dois a três anos antes (i.e., antes de conhecer Meghan), sugerindo ter procurado ajuda junto de um terapeuta graças à intervenção de William. “Posso dizer que perder a minha mãe aos 12 anos, e por isso desligado todas as minhas emoções durante 20 anos, teve um efeito muito sério não só na minha vida pessoal, mas também no meu trabalho”, resumiu a Bryony Gordon. “O meu irmão, abençoado, foi um enorme apoio”, acrescentando que William lhe terá feito ver que ele “precisava de falar com alguém”.

O momento deita por terra as alegações de Harry de não ter encontrado na família ajuda para lidar com os seus problemas de saúde mental. Ainda assim, o duque fez saber, através do seu porta-voz, que “há uma diferença entre as lutas privadas e o trabalho”, que desenvolveu em prol da saúde mental. Além disso, embora se admita que o duque “tivesse procurado tratamento de saúde mental antes de conhecer Meghan, foi ela o catalisador para encontrar um terapeuta que finalmente lhe pudesse prestar os cuidados e apoio de que ele precisava”.

Entre a vergonha e a negligência

The Me You Can't See, que apresenta histórias sobre saúde mental de pessoas de todo o mundo, começou a desenhar-se numa altura em que Harry e Meghan ainda trabalhavam a tempo inteiro para a família real. A série documental foi oficialmente anunciada a 10 de Abril de 2019, numa declaração que registou o “trabalho de longa data de Harry sobre questões e iniciativas relacionadas com a saúde mental”, provavelmente referindo-se à campanha lançada em Maio de 2016, na qual Harry, juntamente com o irmão e a cunhada, tinham como objectivo “acabar com o estigma em torno da saúde mental”. A iniciativa #HeadsTogether pretendia “mudar a conversa nacional sobre o bem-estar mental”.

Agora, Harry diz a Oprah, na conversa que ambos têm na série que co-produzem The Me You Can't See, que “cada pergunta, pedido, aviso, fosse o que fosse” sobre a sua saúde mental e sobre o estado de Meghan foram acolhidos com “total silêncio e negligência” por parte da família.

No entanto, durante o especial CBS em Março, o duque disse que tinha “vergonha de admitir” o quão terrível Meghan se sentia e afirmou que “por vergonha” não podia recorrer à família. “Isso não é uma conversa que se possa ter”, afirmou. O que torna difícil de perceber se o duque pediu de facto ajuda à família, e esta o ignorou, ou se simplesmente nunca o fez.

Sobre este ponto, o porta-voz do casal, que reside actualmente na Califórnia, explicou que “devido à falta de apoio e acção da sua família” face a outros pedidos, nomeadamente a respeito da protecção de Meghan junto dos meios de comunicação social, Harry simplesmente não acreditava que a sua família pudesse estar disposta a ajudar.

Também na entrevista de Março, o casal contou diferentes histórias sobre um mesmo assunto, como a cor da pele de um filho de ambos: enquanto Meghan alegou ter existido uma conversa entre um membro da família real, que não identificou, e Harry sobre o tema quando ela estava grávida de Archie, o príncipe negou e esclareceu que esse assunto tinha sido levantado muito tempo antes, na época em que ambos se conheceram.

A duquesa deixou ainda no ar a ideia de que Archie não recebeu o título de príncipe por esse motivo, referindo que a decisão foi desenvolvida e implementada durante a sua gravidez. No entanto, um documento centenário, assinado por Jorge V, em 1917, delibera que os bisnetos do monarca já não serão príncipes ou princesas, excepto o filho mais velho do filho mais velho do príncipe de Gales. Actualmente, significa que apenas o primogénito de William, George, teria direito a ser príncipe. No entanto, Isabel II abriu uma excepção, em Dezembro de 2012, conferindo aos filhos mais novos de William, Charlotte e Louis, o direito a usarem as iniciais de sua alteza real (HRH, no original).