Lousa, onde há histórias para quem as queira ouvir

A leitora Alice Santos tem um bom conselho: vá a Lousa: apesar de “ter muitos encantos, a sua essência está nos habitantes e no tempo que continuam a ter para contar as suas histórias a quem as queira ouvir...”

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Todos os anos viajo para destinos diferentes, mas há um que nunca falha, a Lousa. A pequena aldeia, a quinze quilómetros de Castelo Branco, é o “sítio do costume” para onde eu e toda a minha família paterna vamos quando não sabemos muito bem para onde ir, quando queremos ou precisamos da tranquilidade e conforto que só a “terrinha” nos pode proporcionar.

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Todos os anos viajo para destinos diferentes, mas há um que nunca falha, a Lousa. A pequena aldeia, a quinze quilómetros de Castelo Branco, é o “sítio do costume” para onde eu e toda a minha família paterna vamos quando não sabemos muito bem para onde ir, quando queremos ou precisamos da tranquilidade e conforto que só a “terrinha” nos pode proporcionar.

Desde pequena que a ida para lá é sempre a do costume. Preparar as malas no dia anterior, acordar cedo e pôr os “pés” ao caminho. Quando era mais pequena, ia perguntando ao longo da viagem “Quando é que chegamos?”, mas não precisava que ninguém me avisasse que a “jornada” tinha acabado quando via aquela placa típica a dizer “Lousa” e sentia o carro a andar de forma mais turbulenta por cima dos paralelos. Por mais anos que passem, continuo a sentir-me perseguida pelo olhar dos habitantes curiosos, que nunca hesitam em perguntar quem somos assim que saímos do carro, e a quem respondemos “somos da família do ti Zé Pintor”, para que nos consigam situar numa das árvores genealógicas lá da aldeia. O “ti Zé Pintor” é o meu bisavô paterno, que, ironicamente, não foi pintor, mas que em tempos ajudou alguns vizinhos a pintar as suas casas e por isso ficou com a alcunha.

Na Lousa tudo tem uma história, assim como os seus habitantes, que não hesitam em contá-la a quem está disposto a ouvi-la. A nossa casa de família, por exemplo, tem uma história digna de um livro. O homem mais rico e importante da aldeia, Vaz Preto, estava perdidamente apaixonado pela irmã do meu bisavô, pelo que fez construir um casarão para lhe oferecer, acabando este por ficar na família até hoje. É uma casa muito bonita, grande, misteriosa. É diferente das outras casas da rua, mais pequenas e humildes. Foi construída à volta de um jardim recatado, com flores, laranjeiras e um poço, junto ao qual passámos muitas noites de Verão. Foi numa dessas noites que ouvi, pela primeira vez, esta história de amor, o que me fez sonhar e, por causa de todo aquele cenário idílico, sentir que estava a viver num dos livros que lia.

Apesar de também gostar de lá ir no Inverno, é no Verão que crio mais memórias. Depois de voltarmos da piscina de Alcains, vila que fica bastante perto, costumamos jantar no jardim, ainda todos de cabelo molhado e bochechas queimadas. Logo de seguida, caminhamos pelas ruas de pedra, ainda quentes do sol, e acenamos a todos os vizinhos, que, sentados num banco à porta das suas casas, nos cumprimentam com um sorriso no rosto. Quando era mais pequena, íamos ao parque, mas, mais recentemente, apenas compramos um gelado e seguimos caminho para a capela de Santa Bárbara. Já afastada do centro da aldeia, é discreta, encontrando-se em harmonia com os sobreiros e campos de alfazema. É lá que ocorre todos os anos a Festa de Maio, onde há uma procissão e a famosa “Dança das Virgens”, de que os lousenses se orgulham tanto.

Apesar de a Lousa ter muitos encantos, a sua essência está nos habitantes e no tempo que continuam a ter para contar as suas histórias a quem as queira ouvir...

Alice Santos (texto e fotos)