Azambuja não quer artistas que sejam contra as suas tradições tauromáquicas

Na sequência da carta aberta pedindo o fim das touradas na RTP, a Junta de Freguesia da Azambuja anunciou que “terá em consideração na escolha dos artistas o facto de os mesmos se terem ou não manifestado contra as nossas tradições”. A decisão gerou acusações de censura que a presidente da junta, Inês Louro, rejeita. “Se eu subscrevo uma moção para que se acabe com este tipo de espectáculos, qual o sentido de ir actuar a essas festas?”

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A carta aberta pedia “uma televisão pública livre da transmissão de espectáculos que se baseiam na violência contra animais e normalizam tais comportamentos" Nelson Garrido

Num post publicado esta quarta-feira nas suas redes sociais, a Junta de Freguesia da Azambuja anunciava que, nos eventos por si organizados, “terá em consideração na escolha dos artistas o facto de os mesmos se terem ou não manifestado contra as nossas tradições”. A comunicação surgiu após 240 personalidades terem assinado uma carta aberta em que pediam o fim da transmissão de touradas na RTP. Em declarações ao PÚBLICO, a presidente da junta Inês Louro defende a decisão, rejeita que a mesma configure censura e deixa uma pergunta: “Se eu subscrevo uma moção para que se acabe com este tipo de espectáculos, qual o sentido de, como artista, ir actuar a essas festas?”.

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Num post publicado esta quarta-feira nas suas redes sociais, a Junta de Freguesia da Azambuja anunciava que, nos eventos por si organizados, “terá em consideração na escolha dos artistas o facto de os mesmos se terem ou não manifestado contra as nossas tradições”. A comunicação surgiu após 240 personalidades terem assinado uma carta aberta em que pediam o fim da transmissão de touradas na RTP. Em declarações ao PÚBLICO, a presidente da junta Inês Louro defende a decisão, rejeita que a mesma configure censura e deixa uma pergunta: “Se eu subscrevo uma moção para que se acabe com este tipo de espectáculos, qual o sentido de, como artista, ir actuar a essas festas?”.

Assinada por músicos como Adolfo Luxúria Canibal, Pedro Abrunhosa ou Ana Bacalhau, por actrizes como Rita Blanco e Eunice Muñoz, pela escritora Dulce Maria Cardoso ou pelo maestro António Victorino d’Almeida, entre muitos outros, a carta aberta foi divulgada esta segunda-feira. Endereçada ao ministro das Finanças, João Leão, e ao Secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media, Nuno Artur Silva, manifestava o desejo de ver a tourada arredada da RTP, de forma a “finalmente ter uma televisão pública livre da transmissão de espectáculos que se baseiam na violência contra animais e normalizam tais comportamentos, como, por exemplo, sucede na tauromaquia”.

Na sequência da tomada de posição da Junta de Freguesia da Azambuja, o humorista Nuno Markl, um dos subscritores da carta aberta, escreveu na sua conta de Facebook que “um artista ter uma opinião contra as touradas vale lista negra na Azambuja”. Diogo Faro, também humorista e também ele subscritor da carta, escreveu, no início de um longo post na mesma rede social, “é para avisar que a PIDE já não existe, caso não tenham dado conta”. Mais à frente, justificava desta forma a sua decisão de subscrever a carta. “Nem sequer me vou alongar sobre o estágio civilizacional em que ainda estamos, que permite que não só continuem a existir touradas, como haver pessoas que tiram prazer de torturar – e ver torturar – animais. Mas que isso seja ainda ‘espectáculo’ apoiado com dinheiro de todos os contribuintes é tão absurdo como embaraçoso para o país”.

Inês Louro diz-se surpreendida com o impacto tem tido o post publicado no Facebook da junta de freguesia a que preside, entretanto apagado, justifica, por estar a gerar “uma guerra civil entre taurinos e anti-taurinos, com linguagem de baixo nível, que ainda acabava em queixas-crime”. Inês Louro rejeita acusações de censura – “o que disse é que [os artistas serem anti-touradas] será um critério a ter em conta” – e contextualiza a decisão. A Junta de Freguesia da Azambuja organiza apenas “uma grande festa por ano”, em Setembro, em honra da santa padroeira da freguesia, Nossa Senhora da Assunção (o orçamento anual da freguesia, diz, não permite contratar artistas ao longo do ano). As componentes principais são, assinala, “a religião e a tauromaquia”. No decorrer da festa, há lugar, entre outras actividades, para a bênção do gado, para uma largada e corrida de touros. “Existem as nossas tradições, a componente religiosa ligada à tauromaquia e os concertos são um momento de diversão para prolongar a festa até mais tarde”.

Assinalando que a organização da festa é assegurada, além da junta de freguesia, pela Associação Poisada do Campino, de defesa da cultura tauromáquica, e pela paróquia da Azambuja, Inês Louro afirma que a decisão manifestada “não é radical”: “Terá em atenção o facto [de um artista ser anti-tourada], o que será reflectido e discutido com os nossos parceiros”. Insiste na pergunta: “Qual o artista signatário da carta aberta que quererá participar nesta festa?”. Até “para segurança do próprio artista”, refere. Dada a importância que, assinala, a tradição tauromáquica tem na freguesia e na região, “com ganadarias no concelho, grupos de forcados e várias colectividades ligadas ao mundo da tauromaquia” e com o impacto económico das duas grandes festas anuais na Azambuja – além da supracitada, realiza-se tradicionalmente a Feira de Maio —, artistas que tenham defendido publicamente o fim das touradas correrão o risco de ser recebidos de forma hostil por parte dos aficionados, alerta Inês Louro.

Este ano, Inês Louro prevê que, dada a situação pandémica, não seja possível realizar as Festas de Nossa Senhora da Assunção. A presidente da Junta de Freguesia da Azambuja, eleita pelo PS, do qual se desvinculou no decorrer do presente mandato, será candidata à Câmara Municipal da Azambuja, pelo Chega, nas próximas eleições autárquicas. Questionada sobre se manterá a posição de “ter em conta” a posição anti-tourada de artistas na contratação para espectáculos promovidos pela câmara, caso seja eleita presidente do município, diz ao PÚBLICO: “Se for eleita, como espero, garantidamente ninguém brincará com a identidade cultural do meu concelho”.