Saída de Osaka de Roland Garros faz chover demonstrações de apoio
Depois de desistir do torneio e revelar a sua luta contra a depressão, a número dois do mundo foi recebida com declarações de apoio por parte de tenistas, atletas de outras modalidades e celebridades.
Primeiro boicotou as conferências de imprensa do Roland Garros, de seguida foi multada em 15 mil dólares pela organização, depois desistiu do torneio. Agora, Naomi Osaka vê chegar inúmeras demonstrações de apoio por parte dos colegas, mas não só. A saúde mental está na base da sua decisão, justificou.
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Primeiro boicotou as conferências de imprensa do Roland Garros, de seguida foi multada em 15 mil dólares pela organização, depois desistiu do torneio. Agora, Naomi Osaka vê chegar inúmeras demonstrações de apoio por parte dos colegas, mas não só. A saúde mental está na base da sua decisão, justificou.
Tudo começou quarta-feira passada, quando a número dois do mundo anunciou a decisão na sua conta do Twitter: “Não vou participar nas conferências de imprensa durante o Roland Garros. Sempre senti que as pessoas não se importam com a saúde mental dos atletas e isso é particularmente verdade quando vejo ou participo numa conferência de imprensa.” E deu alguns exemplos como as perguntas ora repetitivas ora geradoras de dúvida e insegurança, e os momentos em que os atletas se vão abaixo e são vistos a chorar depois de terem sofrido derrotas.
Mas, a situação não ficou resolvida com este anúncio. Além da multa que recebeu por faltar à conferência de imprensa que se seguiu à sua vitória sobre Patricia Tig — coima que a atleta já esperava ser-lhe aplicada, tendo expressado o seu desejo de que o valor fosse para uma instituição de caridade que trabalhasse na área da saúde mental —, a japonesa viu-se na iminência de ser expulsa do torneio. Mais: Naomi recebeu uma declaração conjunta da organização dos quatro principais torneios da modalidade – Roland Garros, Wimbledon, US Open e Australia Open – que a avisavam das consequências, caso continuasse a “ignorar as suas obrigações para com os media”. Por isso, a tenista acabou por desistir da competição, “para que todos possam voltar a concentrar-se no ténis que está a decorrer em Paris”, justificou num segundo texto que divulgou no Twitter.
Na sua declaração, a tenista incluiu uma revelação que chocou os fãs. “A verdade é que tenho sofrido longos períodos de depressão desde o Open dos Estados Unidos em 2018 e tenho tido muita dificuldade em lidar com isso.” Osaka descreveu a ansiedade que sentia antes de falar com os órgãos de comunicação social, caracterizando a sua decisão de não participar nas conferências de imprensa como um exercício de preservação da sua sanidade. Pouco depois, as reacções a esta confissão começaram a cair em catadupa.
A ex-estrela de ténis Billie Jean King, com um total de 129 títulos obtidos ao longo da sua carreira, elogiou-a pelo que fez. “É incrivelmente corajoso que Naomi Osaka tenha revelado a sua verdade. Neste momento, o importante é que lhe dêmos o espaço e o tempo de que ela necessita”, disse no Twitter. “Admiro a tua vulnerabilidade”, escreveu Coco Gauff na mesma rede social, a tenista mais nova a conseguir um título individual em 15 anos, em 2019.
Os jogadores que estão a participar no torneio tiveram oportunidade de comentar o sucedido ao vivo, nomeadamente em conferências de imprensa. “Os Grand Slams estão a proteger-se a si próprios e ao seu negócio. É claro, que eles vão seguir as regras e vão certificar-se de que estamos a cumpri-las”, começou por dizer o número um do mundo, Novak Djokovic. Apesar de considerar que o contacto com os media faz parte do desporto, o tenista não deixou de salientar que actualmente existem novas plataformas e maneiras de chegar aos fãs, nomeadamente através de canais mais directos como as redes sociais. Quanto a Osaka, descreveu-a como “corajosa” e lamentou aquilo por que estava a passar. “Ela sabe como se sente melhor. Se precisa de tirar tempo para reflectir e recarregar baterias, eu respeito-o totalmente e espero que volte ainda mais forte”, desejou, descrevendo-a como uma “jogadora, marca e pessoa muito importante para o desporto”.
Também não pôde deixar de faltar o comentário de Serena Williams à situação, não só uma das melhores tenistas de todos os tempos mas contra quem Osaka ganhou o seu primeiro título de um major. “Lamento por Naomi, sinto que gostaria de poder dar-lhe um abraço porque sei como é, já estive nessa posição”, admitiu. A sua posição foi clara: “Toda a gente é diferente e todos lidam com as coisas de forma diferente, portanto só temos de deixá-la lidar com isto da maneira que ela quer e da maneira que ela acha melhor.” Quanto à sua própria experiência com a ansiedade, Williams recordou as alturas em que, quando era mais nova, era até difícil para si entrar nas conferências de imprensa. “Mas isso tornou-me mais forte”, concluiu.
O que sucedeu com Naomi Osaka gerou reacções não só no mundo do ténis, mas de atletas de outros desportos e até celebridades do mundo do entretenimento. No geral, foi unânime o cuidado e empatia com que todos se pronunciaram sobre a jogadora, com abundantes desejos de que melhore. No entanto, as opiniões em torno da obrigatoriedade da presença dos atletas em conferências de imprensa após os jogos foram variadas, com uns a exprimirem-se a favor e outros contra.
Texto editado por Bárbara Wong