Já ouviu falar em itinerário laboral?
É essencial para integrar no mercado de trabalho quem está em risco de exclusão social, seja por situação de precariedade ou vulnerabilidade, mas é uma ferramenta que pode ser usada por todos, na medida do possível. Saiba do que se trata, e como esta ferramenta utilizada pelo Programa Incorpora, da Fundação “la Caixa”, pode ser útil se estiver à procura de trabalho.
Quando pensamos em instituições ou associações, pensamos em solidariedade, serviço social e donativos. Mas há muito mais além destes termos, sobretudo se falarmos na influência que as entidades e pessoas dentro deste universo têm no mercado laboral, e nas famílias que apoiam, directa ou indirectamente. O Programa Incorpora, um programa de cariz social da Fundação “la Caixa” que se destina a ajudar indivíduos em risco de exclusão social, faz a ponte entre o pedido de ajuda e o emprego em si, e chama-lhe itinerário laboral.
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Quando pensamos em instituições ou associações, pensamos em solidariedade, serviço social e donativos. Mas há muito mais além destes termos, sobretudo se falarmos na influência que as entidades e pessoas dentro deste universo têm no mercado laboral, e nas famílias que apoiam, directa ou indirectamente. O Programa Incorpora, um programa de cariz social da Fundação “la Caixa” que se destina a ajudar indivíduos em risco de exclusão social, faz a ponte entre o pedido de ajuda e o emprego em si, e chama-lhe itinerário laboral.
Para isto, o Incorpora conta com uma rede de técnicos especializados em facilitar a integração destas pessoas em determinada empresa de forma positiva, humana e eficiente. São elementos-chave que põem em contacto estas pessoas, as instituições onde estão inseridas e a entidade laboral que está prestes a recebê-las, num período de acompanhamento que pode ir até 12 meses após a integração. É o chamado itinerário laboral.
O que é, afinal, um itinerário laboral?
“O itinerário laboral é uma espécie de caminho”, começa por dizer Márcio Guerra, 41 anos, coordenador do Serviço de Empregabilidade da Cáritas Diocesana de Beja e Técnico de Acompanhamento do Programa Incorpora desde 2019, nesta instituição. “É um trajecto que é definido em conjunto (e cuja travessia é realizada lado a lado) entre a equipa Incorpora e o participante no programa, tendo por base o compromisso, acompanhamento e superação de diferentes etapas até à integração laboral.”
Esse caminho, explica Márcio Guerra, não se faz sozinho e tem vários passos que devem fazer o indivíduo sentir-se “integrado, globalizado, participativo, realista, flexível, coordenado e comunitário” ao longo de todo o processo de integração socio-laboral. Se pensarmos de forma prática, estes passos deveriam ser ponderados por todos aqueles que estão a pensar em abraçar um novo desafio profissional.
Uma espécie de entrevista de trabalho, no Incorpora há uma avaliação, que é no fundo uma conversa para perceber “as necessidades, interesses e expectativas” de cada pessoa. “Isto permite-nos priorizar a intervenção em função do grau de risco ou de vulnerabilidade social na qual está a pessoa e que eventualmente tenham de ser colmatadas por outra resposta social da Cáritas ou por algum parceiro na rede comunitária” esclarece Márcio Guerra. “Na Cáritas Diocesana de Beja atendemos pessoas em que, ou o seu perfil profissional não está de acordo com as necessidades do mercado de trabalho ou quando lhe falta competências, hábitos pessoais e profissionais é necessário dar alguma capacitação para ocupar uma vaga de emprego” explica.
Como pode ser o itinerário laboral útil para todos?
O itinerário laboral é um dos segredos do sucesso do Incorpora. Mas se olharmos para os benefícios deste percurso – da integração ao sentido de comunidade, é possível identificar boas pistas para ter em mente antes (ou quando) procurar um trabalho. As qualidades de resiliência, autocrítica, ponderação, assertividade e responsabilidade são fundamentais, sobretudo antes de ponderar uma candidatura, ou até aceitar um emprego. O que nos leva às perguntas de sempre: «qual será o meu papel neste emprego? Que função terei, e o que preciso para a desenvolver de forma positiva? Conseguirei ser financeiramente sustentável? Serei feliz?»
Márcio Guerra oferece como exemplo o seu papel como Técnico de Acompanhamento no Incorpora. “Através da participação na construção do itinerário, a pessoa desenvolve capacidades de reflexão e análise critica, porque é estimulada a compreender determinadas decisões na sua vida que contribuíram para a sua situação de desemprego” refere Márcio Guerra. “A partir da sua condição de vulnerabilidade desenvolveram igualmente outras aptidões de resiliência e capacidade de sobrevivência que podem ser muito úteis para prosseguir de forma orientada no seu itinerário com vista à sua integração laboral.”
Pedir ajuda pode ser o princípio do caminho. Um exemplo de sucesso
Na Cáritas Diocesana de Beja, Márcio Guerra faz o trajecto completo, do momento em que conhece a pessoa (porque recorre à instituição com frequência ou vai pedir ajuda a primeira vez) até ao momento em que se torna independente. “A Cáritas Diocesana de Beja tem sido muito solicitada em pedidos de ajuda na satisfação de necessidades básicas” onde, fundamentalmente, o que as pessoas necessitam “é de conseguir um emprego ajustado ao seu perfil e dessa forma deixarem de depender da instituição” explica.
Sobre os verdadeiros benefícios desta ferramenta, Márcio Guerra acrescenta que “o melhor do itinerário é a força que ele tem, a união que se cria trabalhando em equipa, ao mesmo tempo que se procura aumentar a consciência empresarial de uma forma muito notável.”
O Técnico de Acompanhamento reforça esta ideia: “o itinerário laboral é a base de toda a filosofia do Programa Incorpora e fomenta uma sociedade mais igualitária, em que todas as pessoas, sem distinção de qualquer espécie, possam participar na sociedade, através da integração profissional, que será a etapa anterior à plena integração social”, uma afirmação que reflecte importância do lado humano, da humildade e do empenho que um papel assim requer.