As crianças precisam de pais… e os pais precisam de tempo e colo!

A parentalidade é, cada vez mais, feita de grandes expectativas e por isso de grandes receios, de tantas teorias e de tantas dúvidas, pelo que importa que haja colos, ou mais uma vez, relações de apoio.

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Chewy/Unsplash

“Não existe um bebé sem a sua mãe.” Das palavras de Winnicott, figura influente na Psicologia, ecoa que somos inevitavelmente seres relacionais — necessitamos de relações que nos promovam e sejam o substrato a partir do qual se desenvolve o nosso pleno potencial. Na infância, porque a plasticidade desenvolvimental é maior, precisamos ainda mais de vínculos seguros. São os vínculos que — pela presença, amor incondicional, conhecimento mútuo — apoiam cada criança a crescer, o mesmo é dizer, conhecer-se, gostar de si, relacionar-se com outros, regular-se emocionalmente, desenvolver-se cognitivamente, estar aberta à novidade e desafio. Os Pais são estes primeiros vínculos e relações estruturantes, agentes fundamentais na construção de infâncias saudáveis, grandes responsáveis pelo desenvolvimento de cidadãos inteiros, em bem-estar, e consequentemente contributivos para o bem-estar social! Não há dúvida… as crianças precisam de Pais!

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“Não existe um bebé sem a sua mãe.” Das palavras de Winnicott, figura influente na Psicologia, ecoa que somos inevitavelmente seres relacionais — necessitamos de relações que nos promovam e sejam o substrato a partir do qual se desenvolve o nosso pleno potencial. Na infância, porque a plasticidade desenvolvimental é maior, precisamos ainda mais de vínculos seguros. São os vínculos que — pela presença, amor incondicional, conhecimento mútuo — apoiam cada criança a crescer, o mesmo é dizer, conhecer-se, gostar de si, relacionar-se com outros, regular-se emocionalmente, desenvolver-se cognitivamente, estar aberta à novidade e desafio. Os Pais são estes primeiros vínculos e relações estruturantes, agentes fundamentais na construção de infâncias saudáveis, grandes responsáveis pelo desenvolvimento de cidadãos inteiros, em bem-estar, e consequentemente contributivos para o bem-estar social! Não há dúvida… as crianças precisam de Pais!

E “se a comunidade valoriza as suas crianças, deve cuidar dos seus pais” (Bowlby, 1951). Por isso, neste Dia da Criança, que celebra os seus direitos, deve celebrar-se também o seu direito a Pais, e os direitos destes Pais! E entre estes estarão o direito a tempo e a colo!

Ser um pai ou mãe suficientemente bom (que não é a tirania nem a ansiedade da perfeição, que nunca existirá em tarefa tão complexa!) tem muito a ver com a dimensão tempo: tempo para que os pais se desenvolvam como pais — o que definitivamente não acontece de forma instantânea —; tempo para investir na relação com cada filho, ficar assim a conhecê-lo e tentar responder, em cada momento, da forma que mais ajuda aquela criança a crescer; tempo para cuidar de si, comprometendo-se com bem-estar e saúde psicológica pessoal, que possa transbordar para as relações familiares. Entre tantos desafios que se colocam atualmente ao tempo dos Pais, será de sublinhar o tão vulnerável work-life balance, que afeta a saúde mental de tantos, e do qual, nos últimos tempos, temos tido noticias que nos interpelam até ao âmago, pela vertigem de semelhança com qualquer uma de nós, mães-trabalhadoras, tantas vezes a experimentar o limite do multitasking.

Além do tempo, os pais precisam de colo, o mesmo é dizer, relações de apoio. A parentalidade é, cada vez mais, feita de grandes expectativas e por isso de grandes receios, de tantas teorias e de tantas dúvidas, pelo que importa que haja colos, ou mais uma vez, relações de apoio, que permitam aos pais ir refletindo a sua parentalidade, questionando e encontrando as suas convicções e as suas seguranças.

Há colos que muitos encontramos nas nossas redes informais (nos próprios pais, nos amigos), mas há outros colos-apoios que devemos exigir que sejam assegurados pelas políticas públicas que, em consonância com a recem criada Estratégia Nacional para os Direitos das Crianças e, na consequência de tanto que a investigação já demonstrou, devem comprometer-se com o acompanhamento dos pais na tarefa “impossível” (dizia Freud), “mais exigente” (dizia Ziegler), socialmente mais relevante (deveríamos dizer todos!) de desenvolver pessoas!

Por isso, no Dia da Criança façamos ouvir a urgência de apoiar os Pais! Através da disponibilização de programas de promoção da parentalidade positiva — acessíveis a todos, desde a gravidez, mas também acompanhando a transição para a parentalidade e primeiros anos de vida da criança. Através de um apoio efetivo e atempado prestado às famílias em vulnerabilidade, por técnicos qualificados e competentes, que construam relações capacitadoras e mobilizadoras da funcionalidade familiar, em tempo útil às crianças. Através do incentivo, reconhecimento e acompanhamento de todos aqueles que aceitam ser família de acolhimento, permitindo que crianças e jovens em perigo permaneçam inseridos em ambiente familiar, assegurando mais colo e normalização do dia-a-dia, e potenciando a recuperação de trajetórias de vida marcadas pela adversidade.

Há seguramente muitas infâncias e muitas parentalidades, cada qual com os seus determinantes e limites, mas não será excessivo dizer que todas as infâncias precisam de pais… e todos pais precisam de tempo e colo!


Docente da Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa, educadora parental, mãe numa família numerosa