Cancro do pulmão: que desafios?
O Dia Mundial Sem Tabaco, que se celebra a 31 de Maio, é uma data para, reiteradamente, relembrar os malefícios do tabaco.
Criado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1987, o dia 31 de Maio é já hoje reconhecido, recordado, e celebrado por todos como o Dia Mundial Sem Tabaco. É uma data para, reiteradamente, relembrar os malefícios do tabaco, não só relativamente ao cancro do pulmão, mas também à sua responsabilidade no desenvolvimento de cancros com outras localizações, como a cavidade oral, a laringe, a faringe, o esófago, o estômago, o pâncreas, o rim, a bexiga, o colo do útero, a leucemia e uma miríade de outras doenças – com especial relevo para as doenças cardiovasculares e cerebrovasculares.
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Criado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1987, o dia 31 de Maio é já hoje reconhecido, recordado, e celebrado por todos como o Dia Mundial Sem Tabaco. É uma data para, reiteradamente, relembrar os malefícios do tabaco, não só relativamente ao cancro do pulmão, mas também à sua responsabilidade no desenvolvimento de cancros com outras localizações, como a cavidade oral, a laringe, a faringe, o esófago, o estômago, o pâncreas, o rim, a bexiga, o colo do útero, a leucemia e uma miríade de outras doenças – com especial relevo para as doenças cardiovasculares e cerebrovasculares.
Anualmente são diagnosticados, em Portugal, cerca de 5200 novos casos de cancro do pulmão e a mortalidade tem vindo a aumentar nos últimos dez anos. Morrem, diariamente, no nosso país, 12 pessoas com esta doença.
Que desafios se colocam para inverter esta realidade?
Via verde no diagnóstico e tratamento do cancro do pulmão
Sabemos que a pandemia covid-19 obrigou os serviços de saúde a reorganizar a sua actividade de forma a garantir a assistência aos doentes infectados, a salvar o máximo número de vidas e a conter a disseminação do vírus. Paralelamente, vimos pessoas a marginalizar sinais de alerta e sintomas importantes, adiando a procura de ajuda médica por receio de se deslocarem às unidades de saúde.
Patologias prevalentes ficaram remetidas para segundo plano e as consequências da pandemia nos doentes não covid-19 já são visíveis. Temos vivenciado doentes com patologia oncológica, nomeadamente com cancro do pulmão, a recorrerem às consultas e serviços de urgência com formas muito mais avançadas de doença do que antes do início da pandemia.
Criar as condições para que os doentes com esta suspeita oncológica tenham rápido acesso, uma via verde, não só à consulta, mas também à célere realização dos exames complementares de diagnóstico, necessários à avaliação da doença e da sua extensão, possibilitando, em tempo útil, uma definição da terapêutica mais ajustada a cada caso. Este é um desafio imperativo e ético-deontológico que estamos a endereçar activamente, reforçando processos e recursos que permitem disponibilizar um maior acesso às Vias Verdes de Diagnóstico de Cancro para dar resposta a casos de suspeita de cancro, com rigor e rapidez.
Detecção precoce de cancro do pulmão
Sabemos que a maioria dos doentes com cancro do pulmão apenas recorre ao médico quando tem sintomas que o alertam de que algo poderá não estar bem. No entanto, habitualmente, quando estes surgem já a doença se encontra numa fase avançada. Diversos estudos demonstram que a maioria dos doentes são diagnosticados tardiamente, numa fase já avançada da doença, limitando, assim, as possibilidades de cura.
É essencial efectuar o diagnóstico precoce do cancro do pulmão que, hoje, constitui a principal causa de morte por cancro em todo o mundo, tanto nos homens como nas mulheres. Foi esta preocupação da comunidade científica internacional que conduziu a estudos efectuados nos Estados Unidos e na Europa, cujos resultados demonstraram que é possível realizar o diagnóstico precoce do cancro do pulmão, reduzindo, assim, a mortalidade.
O National Lung Screening Trial (NLST), Dutch Nelson e Lung Cancer Screening (UKLS) forneceram forte evidência científica de que a realização de tomografia axial computorizada (TC) de baixa dose realizada anualmente, reduz a mortalidade por cancro do pulmão. O rastreio encontra-se indicado para os grupos de risco, nomeadamente fumadores de longa duração e ex-fumadores entre os 50 e 75 anos.
É nosso dever informar e esclarecer os doentes incluídos nos grupos considerados de risco, que podem e devem aderir a estes programas de detecção precoce do cancro do pulmão, permitindo a detecção do cancro numa fase ainda curativa.
Iniciámos o rastreio com TC de baixa dose em 2013 (após os resultados do NLST terem sido divulgados) e, na minha prática clínica, tenho verificado que os doentes aderem e comparecem anualmente na realização do exame programado. São cada vez em maior número os doentes que pretendem efectuar uma detecção precoce do cancro do pulmão.
Estes programas ainda não se encontram disponíveis de uma forma generalizada, como acontece com o rastreio de outros tumores, como, por exemplo, do cólon, da mama ou do colo do útero. Ainda assim, recentemente, estes programas passaram a existir noutras unidades hospitalares, e estou certo que no futuro esta oferta surgirá de uma forma ainda mais alargada.
Abstenção tabágica
Diz o ditado “mais vale prevenir do que remediar”, e a prevenção do cancro do pulmão começa por não fumar, e por deixar de fumar para quem ainda fuma. Não é fácil, pois a nicotina é o componente do fumo do tabaco responsável pelo fenómeno da habituação, mas é possível, sobretudo para quem se consciencializa de que o cigarro mata, e que 80 a 90% dos casos de cancro do pulmão estão relacionados com o fumo do tabaco, que é composto por cerca de 70 substâncias cancerígenas.
A prevenção do cancro é crucial, e caso os fumadores não consigam deixar de fumar sozinhos, devem solicitar ajuda em consultas especializadas para o efeito.
Diagnosticar e tratar atempadamente os doentes, efectuar o diagnóstico precoce e a prevenção do cancro do pulmão são os desafios que hoje se colocam de forma nítida.