Empresas de Vizela e de Santo Tirso propõem-se a salvar Coelima
Felpinter e Mundotêxtil formalizaram junto do tribunal de Guimarães a vontade de adquirirem a insolvente fábrica de Guimarães.
As empresas Felpinter (Santo Tirso) e Mundotêxtil (Vizela) entregaram esta terça-feira no tribunal de Guimarães uma proposta para salvar a fábrica Coelima, que está em processo de insolvência desde Abril e numa situação difícil já que o accionista prescindiu do direito a propor um plano de recuperação.
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As empresas Felpinter (Santo Tirso) e Mundotêxtil (Vizela) entregaram esta terça-feira no tribunal de Guimarães uma proposta para salvar a fábrica Coelima, que está em processo de insolvência desde Abril e numa situação difícil já que o accionista prescindiu do direito a propor um plano de recuperação.
As duas empresas, que se apresentam como “dois dos principais produtores mundiais de atoalhados de felpo e outros artigos têxteis”, constituem o segundo consórcio de empresas do Vale do Ave a formalizar um interesse numa possível aquisição. O primeiro a avançar foi o consórcio constituído pela RTL SA e pela José Fontão & C.ª Lda, duas empresas de Guimarães, que disponibilizaram 200 mil euros para garantir salários em Junho e a manutenção da laboração enquanto preparam um plano de negócios, que passa pela transferência do activo da Coelima e dos contratos de trabalho para uma nova entidade.
As duas propostas, a que o PÚBLICO já teve acesso, têm logo uma grande diferença: a que deu entrada hoje não tem por base a transmissão dos activos da actual Coelima para uma nova sociedade-veículo, como é proposto pelo consórcio agora concorrente. O argumento é que “essa medida conduziria à extinção” da centenária Coelima, que foi fundada em 1922, um cenário no qual dizem não ver vantagens.
“O plano a propor, embora não consiga satisfazer a totalidade dos créditos dos credores, será a melhor solução para evitar, dentro das actuais condicionantes, um mal maior à generalidade daqueles, que certamente ocorrerá num quadro de liquidação, designadamente face à cessação dos contratos de trabalho actualmente em vigor (e consequente constituição de créditos laborais privilegiados)”, lê-se no documento.
Este segundo consórcio propõe adiantar até 220 mil euros para manter a Coelima a trabalhar, ou seja mais 20 mil euros do que o primeiro consórcio.
A assunção de dívidas à Segurança Social (cerca de 293 mil euros) e ao fisco (cerca de 34 mil euros) será feita em moldes e num número de prestações mensais semelhantes, detalhando a proposta da Felpinter e da Mundotêxtil para o restante passivo o valor de 2,2 milhões de euros, o que representa cerca de 10% da totalidade do passivo (excluídos os créditos à AT e à Segurança Social). O valor definitivo desta percentagem fica no entanto dependente da lista de credores que vier a ser publicada pelo tribunal após verificação de créditos por parte do administrador de insolvência.
“A remanescente parte dos créditos não satisfeitos será objecto de perdão”, propõem estas duas empresas. O que significa que Caixa Geral de Depósitos e Banco de Fomento (que assumiu os créditos pertencentes à PME Investimentos) terão grande peso numa decisão em assembleia de credores, visto que 80% da dívida identificada inicialmente pela Coelima está nas mãos destes dois bancos públicos.
A proposta sublinha, no entanto, em diversas passagens, que este cenário é mais vantajoso para os credores do que a liquidação.
Isto porque numa liquidação, “a parte do crédito que excede o produto da venda não é pago ao credor”, tal como neste plano em que o remanescente do crédito não pago por rateio entre credores seria perdoado.
No entanto, defende a proposta, neste plano e ao contrário da liquidação, “os credores verão as suas posições jurídicas beneficiadas” porque numa liquidação o passivo da Coelima "seria significativamente superior”, desde logo por causa dos créditos laborais privilegiados a que os trabalhadores despedidos teriam direito e também por causa de cláusulas indemnizatórias devidas por incumprimento dos contratos de prestação de serviços em curso, o que também aumentaria o passivo.
A Felpinter é a mesma empresa que está prestes a fechar a compra da JMA Felpos, outra das três empresas pertencentes ao grupo Moretextile, da qual faz parte a Coelima, que tinha dívidas de 29,5 milhões de euros no fim de 2020. A lista inicial enumerava 250 credores.
O património imobiliário da Coelima, que tem hoje 253 funcionários e tinha 2240 trabalhadores aquando da primeira crise em Março de 1991, está avaliado em cerca de 13,3 milhões de euros, de acordo com o auto de apreensão de bens imóveis entregue pelo administrador de insolvência, que identificou 11 parcelas, entre edifícios e terrenos.
O restante activo é composto por máquinas, participações sociais cruzadas no grupo Moretextile e bens incorpóreos, como marcas.
Ao avançar também para a Coelima, ainda que em consórcio, a Felpinter pode juntar os felpos à roupa de cama.