Esta máquina simula um útero para dar colo aos humanos criados em laboratório
A australiana Lucy McRae, “arquitecta do corpo”, criou uma máquina para que, no futuro, humanos criados em laboratório sintam o que é estar num útero. A peça é apresentada na Bienal de Arquitectura de Veneza de 2021, em resposta ao tema “Como viveremos juntos?”.
Num futuro que é, por enquanto, de ficção científica, os úteros artificiais podem substituir o colo de um pai ou mãe para os humanos criados em laboratório. A Heavy Duty Love, uma máquina criada pela artista Lucy McRae, simula o conforto do ventre materno, e é apresentada na Bienal de Arquitectura de Veneza de 2021, que está a decorrer.
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Num futuro que é, por enquanto, de ficção científica, os úteros artificiais podem substituir o colo de um pai ou mãe para os humanos criados em laboratório. A Heavy Duty Love, uma máquina criada pela artista Lucy McRae, simula o conforto do ventre materno, e é apresentada na Bienal de Arquitectura de Veneza de 2021, que está a decorrer.
“A Heavy Duty Love abre a discussão sobre se estes futuros seres humanos encontrarão novas formas de intimidade e união”, diz, em comunicado. A máquina pode ser utilizada por duas pessoas em simultâneo, em pé, totalmente envolvidas por uma pilha de almofadas, o que as ajudaria a estar mais confortáveis com o contacto físico.
A criadora Lucy McRae, australiana, acha que esta poderia ser uma solução para a falta de intimidade nos primeiros anos de vida de um ser humano criado em laboratório. A peça responde à questão “Como viveremos juntos?”, lançada como desafio pelo curador da Bienal de Arquitectura, Hashim Sarkis.
Ainda que a criação de seres humanos em laboratório seja um cenário de ficção científica, as experiências com embriões humanos avançam. Em 2016, uma equipa de investigadores nos Estados Unidos e no Reino Unido conseguiu quebrar um recorde e manter um embrião humano em desenvolvimento, durante 13 dias, em laboratório. A descoberta reabriu o debate sobre a criação de embriões humanos por mais de 14 dias, o limite legal em vigor.
“Construí esta máquina porque estou curiosa em relação às consequências de ignorar um crescimento no útero e o primeiro abraço de uma ‘mãe’”, explicou Lucy McRae. “Imagino uma geração de crianças que terá um processo formativo radicalmente diferente, que desenvolverá novos tipos de sensibilidades e singularidades neurobiológicas.”
A criadora acredita que, caso existam, no futuro, úteros artificiais, ficaremos em risco de perder ligações humanas fundamentais. “Diz-se que o tacto é o primeiro sentido desenvolvido no útero materno – desenvolver-se-ia mais tarde se estes ventres fossem artificiais?”, questionou. “A Heavy Duty Love actuará como substituto, um cobertor de conforto.”
Lucy McRae intitula-se como artista de ficção científica e “arquitecta do corpo”. A máquina faz parte de uma série de trabalhos que criou, para explorar como o corpo humano e a condição humana podem ser pensados para se adaptarem à inovação tecnológica. “O meu trabalho quer aproximar o público da ciência e biotecnologia, abrindo o debate sobre como estas tecnologias divinas transformarão, para sempre, o que nos torna humanos.”
Como escreve no seu site, as suas obras “especulam sobre o futuro da existência humana, através da exploração dos limites do corpo, da beleza, da biotecnologia e do eu”.
Heavy Duty Love estará em exposição no Arsenal de Veneza, como parte da Bienal de Arquitectura, de 22 de Maio a 21 de Novembro de 2021.