Mais uma “aula” do “professor Almeida” na Volta a Itália

O português voltou a ser segundo classificado numa etapa e ganhou tempo a todos os rivais na luta pelo top 5. Fez tudo bem feito no plano estratégico e bateu-se, novamente, com os melhores do mundo.

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Reuters/JENNIFER LORENZINI

A equipa endureceu o ritmo da corrida antes da última subida do dia. João Almeida deixou-se ficar numa posição protegida pelos colegas. Escolheu o momento do ataque, quando o ritmo estava mais lento e a “pedir” e permitir aceleração. Atacou. Não conseguiu ir sozinho, percebeu como gerir o esforço e soube aproveitar-se do trabalho da equipa do camisola rosa. Acabou por ser o único a conseguir acompanhar Egan Bernal na perseguição a Simon Yates, que venceu a etapa, e terminou a tirada 19 em segundo lugar, a apenas 11 segundos do vencedor.

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A equipa endureceu o ritmo da corrida antes da última subida do dia. João Almeida deixou-se ficar numa posição protegida pelos colegas. Escolheu o momento do ataque, quando o ritmo estava mais lento e a “pedir” e permitir aceleração. Atacou. Não conseguiu ir sozinho, percebeu como gerir o esforço e soube aproveitar-se do trabalho da equipa do camisola rosa. Acabou por ser o único a conseguir acompanhar Egan Bernal na perseguição a Simon Yates, que venceu a etapa, e terminou a tirada 19 em segundo lugar, a apenas 11 segundos do vencedor.

Nesta sexta-feira, o português João Almeida deu uma autêntica “aula” na Volta a Itália, fez, em tese, tudo bem feito e aproximou-se do top 5 – ganhou tempo a todos os rivais nessa luta. Ficou o “sabor a pouco” por ter voltado a fazer “apenas” um pódio numa etapa do Giro (é o sexto, entre 2020 e 2021), mas parece ser, por agora, a par de Yates, o ciclista em melhor forma na corrida.

O português, que lamentará, por estes dias, a opção da Deceuninck em apostar em Remco Evenepoel, mantém o oitavo lugar na classificação geral, mas tem, agora, apenas 1m16s de desvantagem para o quinto classificado. E Almeida é, entre os rivais que tem nessa luta, o mais competente no contra-relógio de domingo, além de ter, neste sábado, nova etapa de montanha para reduzir distâncias. O top 5 é uma meta bem real.

Na luta pela vitória no Giro, Egan Bernal esteve à defesa e acabou por não perder tempo significativo para Yates (apenas 28 segundos, mantendo quase três minutos de vantagem).

Deceuninck trabalhou para Almeida

A etapa desta sexta-feira começou com uma fuga de seis elementos – sempre sob controlo do pelotão e condenada ao fracasso – e, no grupo principal, um cenário raro numa Grande Volta (porventura algo até único em muitos anos): ver uma equipa a liderar o pelotão e aumentar o ritmo da corrida a pensar num ataque de um ciclista português.

A Deceuninck estava em peso na cabeça do pelotão, impondo um ritmo forte que anulasse a fuga e, sobretudo, deixasse sem fôlego os rivais de João Almeida, “sedento de sangue” no grupo principal.

A opção tinha nexo: o português, na Deceuninck, e Simon Yates, na BikeExchange, parecem ser, neste final de Giro, os homens em melhor forma. Além disso, são os dois ciclistas que, tendo boas pernas, mais inconformados estão com as posições que ocupam na classificação – o primeiro quer ir ao top 4, o segundo quer tentar chegar à camisola rosa.

Almeida confirmou a postura ofensiva antes da etapa. “Diria que, no melhor cenário, poderei subir quatro posições. Mas é tão difícil que se ganhar uma já será bom”, apontou o oitavo classificado do Giro à entrada para esta etapa 19.

A fuga foi anulada numa fase em que o ritmo da Deceuninck ainda não permitia “esvaziar” os rivais e o pelotão seguia bem composto. Já sem colegas para trabalhar, teve de ser Almeida a colocar o “peito ao vento”.

Egan Bernal e os restantes favoritos ao triunfo deram inicialmente liberdade ao português para seguir sozinho, mas Simon Yates acabou por saltar do grupo e juntar-se a Almeida, juntamente com Damiano Caruso, Alexandr Vlasov e George Bennett. Egan Bernal é que nem vê-lo – novamente o líder em dificuldades para responder prontamente.

Yates acabou por ter mais força e seguiu sozinho, enquanto Almeida, inteligente, percebeu que não poderia ir ao choque nos ataques repentinos do britânico. Colocou o seu ritmo e, a cerca de quatro quilómetros do final, recebia duas boas notícias: Romain Bardet e Hugh Carthy perdiam o contacto com o grupo principal (o francês era o sexto classificado, o inglês era o quinto).

Almeida sagaz a “reboque” da INEOS

Já com os grupos juntos, Almeida foi sagaz e pôde resguardar-se no trabalho da INEOS, que comandava a perseguição a Yates. Nesta fase, havia Martínez a rebocar Bernal, Caruso, Vlasov e Almeida – todos contra Yates.

Pouco depois, a terceira e quarta boas notícias: Martínez, sétimo da geral, “esvaziou o tanque” a ajudar Bernal e também ficou para trás, tal como Vlasov, o quarto da tabela.

Egan Bernal estava, nesta fase, bastante mais confortável e afastou o “fantasma” da má forma. Era, com João Almeida, o único a conseguir perseguir Yates, mas o português acabou mesmo por deixar o camisola rosa para trás, em busca da vitória na etapa. Não deu, por 11 segundos, mas ficou a nova demonstração de força do português frente ao campeão da Volta a França 2019.

Neste sábado, os trepadores terão a última oportunidade de ganharem tempo aos rivais. A última etapa montanhosa deste Giro – e a última em linha – não terá das escaladas mais duras da corrida, mas serão, ainda assim, três contagens de primeira categoria, com chegada em alto.

Almeida sabe que o contra-relógio poderá ser suficiente para entrar no top 5, mas a audácia do português, sempre ofensivo, dificilmente o fará defender-se neste sábado. Provavelmente, tal como Yates, estará ao ataque.