Mísia estreia Amália - Coração Independente ao vivo no Museu do Fado
Espectáculo de Mísia dedicado a Amália foi gravado no dia 15 e será transmitido esta sexta-feira, em streaming. No espaço do Museu do Fado no Youtube, a partir das 21h.
A estreia devia ter sido em 2020, ano do centenário do nascimento de Amália Rodrigues. Chamava-se Amália - Coração Independente e, a anunciá-lo, a Uguru dizia que com ele se pretendia mostrar “como tudo o que veio depois dela [de Amália] não existiria da mesma forma sem a liberdade que lhe permitiu revolucionar musical, poética e filosoficamente o Fado, que nunca mais foi o mesmo depois dela.” Mísia criara esse espectáculo para rodar por vários palcos no estrangeiro, mas, cancelada a tournée, o Museu do Fado convidou-a a estreá-lo ali, ao vivo, com alguns espectadores. Foi gravado no dia 15 e é transmitido esta sexta-feira no espaço do Museu do Fado no Youtube, às 21h, com acesso livre.
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A estreia devia ter sido em 2020, ano do centenário do nascimento de Amália Rodrigues. Chamava-se Amália - Coração Independente e, a anunciá-lo, a Uguru dizia que com ele se pretendia mostrar “como tudo o que veio depois dela [de Amália] não existiria da mesma forma sem a liberdade que lhe permitiu revolucionar musical, poética e filosoficamente o Fado, que nunca mais foi o mesmo depois dela.” Mísia criara esse espectáculo para rodar por vários palcos no estrangeiro, mas, cancelada a tournée, o Museu do Fado convidou-a a estreá-lo ali, ao vivo, com alguns espectadores. Foi gravado no dia 15 e é transmitido esta sexta-feira no espaço do Museu do Fado no Youtube, às 21h, com acesso livre.
“Estava preparada uma tournée em 2020, pela América Latina [Brasil, Chile, Argentina, Peru e Colômbia], mas como essa tournée foi cancelada por causa da pandemia, aproveitei parte desse repertório para este concerto no Museu do Fado”, diz Mísia ao PÚBLICO. Mas o disco que inspirou tal espectáculo foi editado cinco anos antes, em 2015: um CD duplo intitulado Para Amália. Não como homenagem ou celebração, como como “uma prenda”: “É bom deixar claríssimo que ninguém como a Amália canta o seu repertório, estamos condicionados por isso. Porque não é pormo-nos a cantar um artista qualquer, é cantar a Amália. A identidade portuguesa passa por ela. E eu só me atrevi a fazer um disco a ela dedicado depois de mais de 25 anos de trabalho. E isso por respeito, porque quis fazer primeiro o meu próprio caminho e só depois gravar esse disco, como uma prenda para Amália. Agora, foi um convite do Museu do Fado [sabendo que ela não estreara o seu espectáculo e desafiando-a a fazê-lo ali] que me levou a cantar de novo Amália.”
O espectáculo que esta sexta-feira tem a sua estreia pública é, como atrás se disse, uma versão reduzida do que originalmente foi planeado. Mas a intenção mantém-se: um relevo particular aos temas “feitos para oferecer a Amália depois dela nos ter deixado” (e esses foram escritos para Mísia, e gravados por ela) e outros do repertório Amaliano que em si permitem enquadrar momentos particulares do seu trabalho, como a primeira composição que para ela fez Alain Oulman (Vagamundo, com poema de Luís de Macedo) ou a versão em francês escrita por David Mourão-Ferreira do fado Nostalgia, de Joaquim Luís Gomes e Jerónimo Bragança (e que viria a tomar o nome de L’Automne de notre amour). Neste lote foram ainda incluídos Espelho quebrado (“um dos temas que eu tenho muito prazer em cantar”, disse Mísia no Museu do Fado), Romance (de Afonso Lopes Vieira e Carlos Gonçalves) e Ojos verdes (Salvador Valverde, Manuel López-Quiroga e Rafael de León), que Amália cantou e Mísia integrou na sua peça Giosefine, escrita (e interpretada) por ela a partir de um conto de Antonio Tabucchi e estreada em Buenos Aires em finais de 2016.
Com letras da própria Amália, integram o espectáculo Lágrima e Tive um coração, perdi-o (ambos no encore) e ainda Vivendo sem mim (com música de Mário Pacheco), que Mísia gravou no seu álbum Ritual, de 2012, e de onde foi retirada a frase que ajudou a subtitular esta apresentação no Museu do Fado: “Amália, quem te deu a sina que tua já era…” “A sina da Amália é continuar a ser a nossa eterna inspiração”, diz Mísia. “É importante insistir nisto, porque é verdade. Tal como é verdade aquilo que diz o Tiago Torres da Silva, que nada seria, ou se faria, como se faz hoje se não tivesse existido a Amália.”
Mas as seis canções que abrem o concerto são, todas elas, escritas para Amália: Xaile de silêncio, que Mário Cláudio escreveu no próprio dia da morte de Amália, reagindo a essa perda, e que Mísia gravou em 2012; Uma lágrima por engano, escrita pela própria Mísia e com música do maestro napolitano Fabrizio Romano; Amália que não existo, de Tiago Torres da Silva, com música de Arlindo de Carvalho); Madrinha de nossas horas, outro tema de Mário Cláudio; Coração independente, um tema novo de Tiago Torres da Silva, que deu título ao espectáculo original; e Amália sempre e agora, com letra de Amélia Muge e música de Mário Pacheco, que no disco Para Amália teve a participação vocal de Maria Bethânia. O disco Para Amália, recorde-se, recebeu em 2016 o prémio Coup de Coeur da Academia Charles Cros, em Paris, que a distinguira em 1995 pelo álbum Tanto Menos Tanto Mais e que em 2020 lhe atribuiu o prémio In Honorem, este pela carreira. Mas de Tiago Torres da Silva há aqui ainda outro tema também em estreia pública: Vou pedir-te um coração, escrito para o próximo trabalho de Mísia, ainda em preparação.
Com Mísia (voz), estão neste concerto três músicos: Fabrizio Romano (piano, arranjos e direcção Musical), Luís Guerreiro (guitarra portuguesa) e Daniel Pinto (viola baixo). A gravação vai manter-se, pelo menos durante este fim-de-semana, no espaço do Museu do Fado no YouTube, para visualização posterior.