Desirée Vila perdeu uma perna aos 16 anos, mas voará para aterrar nos Jogos Paralímpicos
A atleta espanhola foi vítima de negligência médica, após uma lesão nos treinos de ginástica acrobática, em 2015. Perdeu uma perna, mas nem por isso esqueceu o desporto. Treina, agora, para os Jogos Paralímpicos, nas modalidades de salto em comprimento e 100 metros.
Quando, aos 16 anos, recebeu a notícia de que teria de amputar a perna direita, o medo dominou-a. Tinha perguntas sobre viver com diversidade funcional a que ninguém sabia responder e pensou desistir do desporto, quando percebeu que teria de abandonar a modalidade que praticava, ginástica acrobática.
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Quando, aos 16 anos, recebeu a notícia de que teria de amputar a perna direita, o medo dominou-a. Tinha perguntas sobre viver com diversidade funcional a que ninguém sabia responder e pensou desistir do desporto, quando percebeu que teria de abandonar a modalidade que praticava, ginástica acrobática.
Um ano depois do acidente, em 2016, quando já se sentia melhor, assistiu, pela primeira vez, à transmissão dos Jogos Paralímpicos, e entusiasmou-se. “Não pensei dedicar-me ao atletismo, mas nasceu uma curiosidade pelo desporto adaptado, pensei que, talvez um dia, também conseguisse praticá-lo”, disse Desirée Vila, citada pela edição espanhola da revista Women’s Health.
Experimentou natação, ténis de mesa em cadeira de rodas e basquetebol, para tentar compensar as saudades que sentia da ginástica acrobática. “Precisava da adrenalina da competição, de levar o meu corpo ao limite, de ter um treinador e um plano”, explicou ao El País.
Optar pelo atletismo foi, na verdade, um acaso. Na sua clínica de ortopedia falaram-lhe de uma prótese utilizada para correr, e sugeriram que a experimentasse. “Quando comecei, corria mal. Fazia dez metros e tropeçava ou ficava cansada. Mas os meus pais estavam muito entusiasmados, gravavam vídeos meus e publicavam-nos no Facebook”, contou à Women’s Health. “Foi assim que a Federação Espanhola de Desporto para Pessoas com Deficiência me descobriu.”
Aos 22 anos, Desirée Vila é uma das melhores atletas do mundo na sua categoria de salto em comprimento. Detém o recorde espanhol de salto em comprimento (4,17 metros) e 100 metros (16,97 segundos) e conseguir atingir as marcas mínimas para participar nos Jogos Paralímpicos de Tóquio. Além disso, estuda Relações Internacionais na universidade e, entre treinos e aulas, escreveu o livro A única coisa incurável é a vontade de viver, e dá palestras a empresas.
“Sinto-me muito sortuda. Não trocaria a minha vida de agora pela que tinha antes, não trocaria tudo o que aprendi. Acho que, apesar de todo o mal que aconteceu comigo, tive muita sorte”, garante, em entrevista ao jornal desportivo Marca. “Sou feliz por ter passado por esta situação – que me poderia ter destruído – porque me ajudou a relativizar e perceber o que é verdadeiramente importante na vida.”
Hoje, Desirée fala do acidente de 2015 de forma leve, positiva e, até, com algum humor. “Olá a todos! Sou a Desirée e falta-me um pé” é como abre todos os vídeos do seu popular canal de YouTube, onde faz vlogs e fala sobre desporto e diversidade funcional. Os vídeos mais vistos explicam a história da amputação da própria perna e como funcionam as próteses que usa.
“Não vejo a amputação como algo mau”
Desirée, então com 16 anos, treinava para o Europeu de Ginástica Acrobática quando fez uma fractura na tíbia e no perónio, na perna direita. Conforme determinado em tribunal, este acidente resultou num acto de negligência médica, que a obrigou a amputar a perna.
“Não vejo a amputação como algo mau, trouxe-me mais coisas boas do que más, muitas oportunidades. Se não fosse ela, não estaria a preparar-me para os Jogos, porque a ginástica acrobática, o desporto que praticava, não era olímpica”, explicou, citada pelo jornal Marca. “Nem treinaria no Centro de Alto Rendimento de Madrid, nem seria embaixadora de marcas”, acrescenta.
Desirée fez a sua estreia internacional no Campeonato da Europa de Atletismo de 2018 e participou, pela primeira vez, num campeonato mundial no Dubai, em 2019. Compete em salto em comprimento e velocidade porque, diz, se completam, apesar de preferir a modalidade de salto em comprimento.
Habitualmente, treina no Centro de Alto Rendimento de Madrid, com atletas que praticam desporto não adaptado. Durante os meses de confinamento a que a pandemia obrigou, treinou em casa, onde, reconhece, a preparação física não poderá ser a mesma.
Agora, o seu primeiro objectivo é o Campeonato Europeu de Atletismo Adaptado em Bydgoszcz, que se realizará em Junho, na Polónia. Pensará, depois, nos Jogos Paralímpicos, em Agosto. Caso sejam, de novo, adiados, estará pronta para esperar e continuar a treinar por mais anos. “O importante é continuar motivada”, afirma, em entrevista à Women’s Health.
“Quando voltei a encontrar o meu caminho e uma nova motivação, o atletismo, voltei a nascer”, disse ao jornal Marca. “Fez com que recuperasse a esperança e ganhasse um novo propósito para a minha vida nos próximos anos.”