Um novo mundo
A União Europeia encontrava-se num impasse tremendo perante as mutações no sistema internacional. O que poderá fazer para consolidar a sua influência no novo mundo que está a nascer?
Para além do deflagrar da crise económica e social, a pandemia de covid-19 também desencadeou profundas mutações no sistema internacional e na forma como a União Europeia (UE) se relaciona com a sua vizinhança, o Reino Unido, o seu aliado tradicional, os Estados Unidos e os seus parceiros comerciais, China e Brasil.
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Para além do deflagrar da crise económica e social, a pandemia de covid-19 também desencadeou profundas mutações no sistema internacional e na forma como a União Europeia (UE) se relaciona com a sua vizinhança, o Reino Unido, o seu aliado tradicional, os Estados Unidos e os seus parceiros comerciais, China e Brasil.
Globalmente, uma tendência recente do cenário internacional é a consolidação de forças adversas ao Consenso de Washington, sendo a América Latina um exemplo notável desta corrente. Nesta região, podemos observar o fortalecimento político da esquerda, tendo sido alargado o apoio a este campo político, nomeadamente no Chile onde uma maioria de centro-esquerda/esquerda irá rescrever uma nova Constituição. Contudo, nem todos os Estados se inserem nesta lógica, sendo o Brasil um caso paradigmático que não se insere nesta lógica recente, porém também não procura alinhar-se com a presidência Biden, a União Europeia ou a China.
Perante estas alterações na América Latina, a política externa da União Europeia tem demonstrando fragilidades em assertar a sua influência na região, tendo perdido espaço para a China. Ao contrário da UE, o regime de Xi Jinping tem consolidado a sua presença, fortalecendo as suas relações diplomáticas e comerciais com a Bolívia, a Venezuela, Brasil e os restantes Estados.
A China está a proceder lentamente a uma revisão da ordem internacional, expandindo a sua esfera de influência. Deste modo, é compreensível a preocupação dos líderes europeus em relação a este fenómeno, no entanto tem sido ineficaz a acção da UE para combater esta tendência, que durante a pandemia se intensificou imenso. Embora a União Europeia não procure liderar um mundo pós-covid-19, devia impedir a alteração de um balanço de poder sinocentrista que iria deslocar os centros económicos e políticos longe da área do Atlântico e diminuir o papel da economia europeia no mundo.
Uma economia europeia que necessita efectivamente de estar alinhada com o seu aliado tradicional, os Estados Unidos. As relações entre a UE e os EUA têm sido, nos últimos anos, debilitadas durante a presidência Trump e ainda com a administração Biden, que pede o levantamento das patentes das vacinas. Os norte-americanos procuram manter a sua hegemonia no mundo, portanto a prioridade não é a Europa, mas sim uma estratégia multifacetada, com uma atenção particular para o espaço asiático. Neste cenário, a União Europeia encontra-se progressivamente distante das duas potências.
Enquanto a China e os EUA disputam a liderança do mundo, a União Europeia tenta-se consolidar no seu espaço regional, tendo crescido recentemente as tensões entre esta e a sua vizinhança, em particular o Reino Unido. As relações entre Londres e Bruxelas têm evidenciado tensões no período pós-"Brexit” e, agora, com a vitória dos nacionalistas escoceses, o clima diplomático agrava-se, tendo o governo de Boris Johnson protagonizado uma política, especialmente distinta das tendências europeias, em particular na nova legislação laboral sobre a Uber e as pretensões de nacionalizar a ferrovia.
A União Europeia encontrava-se num impasse tremendo perante as mutações no sistema internacional. O que poderá fazer para consolidar a sua influência no novo mundo que está a nascer?