Covid-19: Presidente do Brasil atrasou negociação de vacina chinesa em três meses
No dia 7 de Outubro de 2020, o Instituto Butantan fez uma oferta de 100 milhões de doses da CoronaVac ao Ministério da Saúde do Brasil, mas a oferta foi recusada pelo Presidente.
O director do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse esta quinta-feira que as negociações para a aquisição da vacina CoronaVAc, contra a covid-19, ficaram paradas no Brasil durante três meses, após o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, ter declarado que não a compraria.
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O director do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse esta quinta-feira que as negociações para a aquisição da vacina CoronaVAc, contra a covid-19, ficaram paradas no Brasil durante três meses, após o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, ter declarado que não a compraria.
Segundo o depoimento de Covas à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado brasileiro, que investiga as acções do Governo brasileiro na pandemia de covid-19, no dia 7 de Outubro de 2020 o Instituto Butantan fez uma oferta de 100 milhões de doses da CoronaVac ao Ministério da Saúde do Brasil.
"Houve uma sinalização de que poderíamos evoluir, inclusive com a produção de uma medida provisória (…) Tudo estava indo muito bem. Tanto que em 20 de Outubro, fui convidado pelo [ex] ministro [da Saúde brasileiro, Eduardo] Pazuello para uma cerimónia na qual a vacina seria anunciada”, disse Covas.
"No outro dia de manhã, quando ainda haveria conversas adicionais, essas conversas adicionais não aconteceram porque o Presidente Jair Bolsonaro disse que não haveria continuação nesse processo”, acrescentou.
O Butantan firmou uma parceria com o laboratório chinês Sinovac, que desenvolveu a CoronaVac, no primeiro semestre do ano passado para testar e produzir o medicamento no Brasil e, portanto, é responsável pelo contrato de venda do medicamento junto ao Governo brasileiro.
Os testes e a aplicação desta vacina, porém, desencadearam várias polémicas porque Bolsonaro atacou o medicamento publicamente em mais que uma oportunidade e disse que não compraria a ‘vacina chinesa’ patrocinada pelo governador de São Paulo e seu rival político, João Dória.
Ao ser questionado novamente pelos senadores sobre a alegada paralisação das negociações entre o Governo brasileiro e o Instituto Butantan para a aquisição da CoronaVac, que é responsável por 65% das imunizações realizadas no país, Covas reafirmou que não houve mais progresso nas conversações até Janeiro, quando um contrato foi finalmente assinado.
A declaração colocou em causa parte do depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que afirmou aos senadores da CPI, na semana passada, que as declarações de Bolsonaro eram “falas de internet” e afirmou que ele e os técnicos do Ministério da Saúde continuaram a negociar com o Instituto Butantan.
A alegada recusa de comprar doses da CoronaVac tornou-se um episódio polémico na gestão da pandemia no Brasil porque Pazuelo gravou um vídeo ao lado de Bolsonaro no qual o ex-ministro da Saúde justificou a sua mudança de posição sobre este medicamento dizendo: “É simples assim. Um manda e o outro obedece”.
No seu depoimento à CPI da covid-19, Covas afirmou que não houve investimento directo do Ministério da Saúde no desenvolvimento da CoronaVac.
O director do Butantan também considerou que declarações ofensivas de membros do Governo brasileiro podem estar a causar atrasos recorrentes no envio de consumíveis exportados pela China para fabrico da CoronaVac e de outras vacinas no Brasil.
Questionado sobre a aplicação de uma terceira dose da CoronaVac para garantir a imunização, o especialista considerou que pode ser necessária não só para a CoronaVac como para outros imunizantes usados contra a covid-19.
“Isso será necessário neste momento para todas as vacinas, não só em relação à própria duração da imunidade, na minha opinião, é claro, como também em relação às variantes”, concluiu o director do Butantan.