Bruxelas quer aplicar sanções ao petróleo e a químicos da Bielorrússia

Ministros dos Negócios Estrangeiros reúnem-se em Lisboa para debater resposta da UE ao desvio do avião da Ryanair e à detenção do activista e da companheira.

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Borrell está a favor de uma resposta sólida da UE ao sequestro do avião civil pela Bielorrússia JOSE SENA GOULAO / LUSA

A União Europeia já tem um conjunto de alvos para aplicar sanções contra a Bielorrússia por causa do desvio de um avião e a detenção de um opositor do regime e da sua companheira. O tema é discutido esta quinta-feira pelos chefes da diplomacia europeia reunidos em Lisboa.

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A União Europeia já tem um conjunto de alvos para aplicar sanções contra a Bielorrússia por causa do desvio de um avião e a detenção de um opositor do regime e da sua companheira. O tema é discutido esta quinta-feira pelos chefes da diplomacia europeia reunidos em Lisboa.

As medidas mais imediatas para punir o comportamento do regime de Alexander Lukashenko já começaram a ter efeitos. Os aviões de companhias aéreas europeias estão a evitar sobrevoar o espaço aéreo bielorrusso, enquanto os voos da companhia estatal daquele país, a Belavia, com destino a cidades da UE estão a ser cancelados.

Mas Bruxelas quer ir mais longe para assegurar que o episódio que vários responsáveis europeus descreveram como “pirataria aérea” não se repita. “O sequestro do avião e a detenção de dois passageiros é completamente inaceitável”, disse o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, citado pela Reuters, à entrada para a reunião informal de ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27, em Lisboa.

No domingo à noite, um avião da companhia aérea irlandesa Ryanair fazia uma ligação entre Atenas e Vilnius recebeu um alerta de que havia uma bomba a bordo pelas autoridades aéreas bielorrussas e foi escoltado por um avião militar para aterrar em Minsk. O alerta revelou-se infundado, mas o activista Roman Protasevich e a companheira Sofia Sapega foram detidos pela polícia bielorrussa.

Em cima da mesa está a possibilidade se aplicarem sanções sobre as exportações de potassa e petróleo para países da UE e também sobre as transacções financeiras.

“A palavra-chave é potassa”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros do Luxemburgo, Jean Asselborn. “Sabemos que a Bielorrússia produz muita potassa, é um dos maiores exportadores a nível mundial, e penso que iria prejudicar muito Lukashenko se fizéssemos algo nesta área”, acrescentou, citado pela Reuters.

Dados do Governo bielorrusso mostram que o país é responsável por 20% do fornecimento mundial de potassa, um sal rico em potássio usado sobretudo como fertilizante.

O sector petrolífero também é uma das opções para os líderes europeus. No ano passado, os países da UE importaram produtos petrolíferos no valor de mais de mil milhões de euros, de acordo com o Eurostat, enquanto as importações de químicos, incluindo potassa, ascenderam a 1200 milhões.

O ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Heiko Maas, mostrou-se favorável à aplicação de novas sanções e sugeriu a inclusão das transacções financeiras. “É óbvio que não iremos ficar satisfeitos com pequenos passos de sanções, mas pretendemos visar a estrutura económica e as transacções financeiras da Bielorrússia de forma significativa com sanções”, afirmou.

Na reunião de Lisboa, os ministros devem apenas chegar a acordo sobre o tipo de medidas a adoptar, mas a sua entrada em vigor deverá ser concretizada apenas na próxima cimeira, marcada para 21 de Junho no Luxemburgo. Sobre o regime de Lukashenko já pendem vários pacotes de sanções da UE e dos EUA, sobretudo na forma de listas de personalidades com os bens no estrangeiro congelados e impedidas de circular por estes países.

A Organização Internacional de Aviação Civil reuniu esta quinta-feira de emergência e decidiu abrir uma investigação o desvio do avião da Ryanair, de acordo com fontes do organismo citadas pela Reuters.

Ameaça falsa

Lukashenko continua a justificar o desvio do avião civil com a necessidade de prevenir uma “ameaça” contra o país, mas acumulam-se as evidências de que tudo não passou de um pretexto do regime para deter o activista da oposição. A Proton Technologies, uma empresa suíça que fornece serviço de emails, revelou que o email que alegadamente teria a ameaça de bomba foi enviado 24 minutos depois de ter sido dada a ordem para o avião ser desviado, segundo a Reuters.

Protasevich estava exilado na Lituânia desde 2019 e foi um dos criadores do Nexta, um canal na rede Telegram, que divulgou e transmitiu os protestos contra o regime no Verão de 2020. As manifestações contra a reeleição de Lukashenko – no poder desde 1994 –, motivadas pelas suspeitas de fraude e pelo afastamento dos principais candidatos da oposição representaram o mais sério desafio ao regime bielorrusso.

O jornalista é acusado pelo regime de incitar as manifestações contra as autoridades bielorrussas e, segundo a família, corre risco de vida na Bielorrússia, onde as execuções se mantêm em vigor.

A pressão sobre Lukashenko nunca foi tão elevada nos seus 27 anos no poder, mas o “homem-forte” da Bielorrússia mantém o apoio significativo do Presidente russo, Vladimir Putin, com quem se vai encontrar esta sexta-feira.

Notícia actualizada às 18h24: Actualizou-se informação sobre a reunião da Organização Internacional de Aviação Civil.