Através da moda, o designer nascido no Ruanda promove a unidade africana
Foi refugiado durante o genocídio do Ruanda, atravessou países à procura de uma vida melhor e acabou por beneficiar de um golpe de sorte quando o irmão salvou o lar de um casal endinheirado que, como recompensa, lhe pagou os estudos. Agora, através da sua arte, expressa o seu amor pelo continente africano.
O designer e artista visual Eli Gold tinha apenas dois anos quando, com a família, ganhou o estatuto de refugiado na República Democrática do Congo, a fugir de um genocídio que, entre 7 de Abril e 15 de Julho de 1994, terá matado mais de 800 mil ruandeses tutsis, twa e hutus moderados. Regressaria, anos depois, para uma terra profundamente devastada por uma dolorosa guerra civil, que opôs, no início dos 90, o governo do presidente hutu Juvénal Habyarimana e a Frente Patriótica de Ruanda (FPR), formada por exilados tutsis e apoiada por hutus moderados.
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O designer e artista visual Eli Gold tinha apenas dois anos quando, com a família, ganhou o estatuto de refugiado na República Democrática do Congo, a fugir de um genocídio que, entre 7 de Abril e 15 de Julho de 1994, terá matado mais de 800 mil ruandeses tutsis, twa e hutus moderados. Regressaria, anos depois, para uma terra profundamente devastada por uma dolorosa guerra civil, que opôs, no início dos 90, o governo do presidente hutu Juvénal Habyarimana e a Frente Patriótica de Ruanda (FPR), formada por exilados tutsis e apoiada por hutus moderados.
Até que, aos 13 anos, a mãe percebeu que o rapaz teria mais hipóteses de sucesso se saísse do Ruanda. A saída do país levou Eli a atravessar vários países com o irmão mais velho — viveu na Tanzânia, Burundi e Malawi —, antes de chegarem à África do Sul, onde o seu tutor arranjou trabalho como segurança. Até o destino fazer das suas: um dia, o irmão, que servia numa casa em Llandudno, salvou a estrutura de um incêndio. E os gratos proprietários, como descreve o sul-africano Daily Maverick, ofereceram-se para pagar uma recompensa. Só que o desejo do segurança conseguiu surpreendê-los: pediu apenas um uniforme escolar para o seu irmão mais novo. E o casal não só concretizou o anseio, como ainda se ofereceu para pagar as propinas do rapaz no False Bay College, na Cidade do Cabo, onde completou um curso em gestão de empresas.
No entanto, as experiências daquela viagem, ainda adolescente, não abandonaram o seu pensamento. E, agora, com 30 anos, o designer reflecte-as nas suas peças e expressa o seu amor pelo continente através da arte e da moda. “Ao viver nesses lugares consegui compreender o que é África e encontrei diferentes culturas... a inspiração que utilizo na minha criatividade vem de diferentes culturas africanas”, explicou.
A sua empresa, Masa Mara, revelou as suas últimas gamas de moda num evento em Joanesburgo, na terça-feira, para celebrar o Dia de África, que comemora a fundação da Organização da Unidade Africana. Os modelos exibiram a sua colecção de estampas africanas coloridas chamada Migration Is Beautiful, Destroy All Borders (A Migração é Bela, Destruam-se todas as Fronteiras, numa tradução à letra), que é um apelo a abraçar a migração e, tal como grande parte do trabalho de Gold, foi inspirada pelas suas próprias experiências.
“Queria mostrar que se nos unirmos, nos compreendermos e nos abraçarmos, podemos ter uma África bela e unida”, disse ele sobre o seu trabalho. “Digo sempre, se as peças de vestuário puderem corresponder e mostrar harmonia e união, nós também o podemos fazer.”
Também conhecido como Nyambo MasaMara, um nome que adoptou depois de começar a pentear o seu cabelo em forma de chifres de touro (Nyambo significa “vaca ruandesa de chifres longos”), o designer tem mais projectos em mãos, como Beyond Borders, um espectáculo coreografado onde um espírito viaja através do espaço e do tempo para uma África onde não existem fronteiras e limites à criatividade. Já na sua exposição Gift of Life combina arte visual e design com movimento.
“Venho de uma nação que estava quebrada e agora estamos a curar-nos e a darmo-nos melhor que nunca”, avaliou Eli Gold. “Quando parti, [o Ruanda] era um país do qual não me orgulhava de fazer parte”, recordou. “Mas quando voltei (em 2017), fiquei realmente orgulhoso de fazer parte do Ruanda.”