Massacre atribuído a grupo terrorista ensombra eleições peruanas

Pelo menos 16 pessoas, incluindo dois menores, apareceram mortas num ataque atribuído a uma dissidência do Sendero Luminoso, a duas semanas da segunda volta das presidenciais.

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Abimael Guzmán e a mulher, Elena Iparraguirre, durante um julgamento em 2018 Reuters/Mariana Bazo

A menos de duas semanas da segunda volta das eleições presidenciais, o Peru voltou a sentir a ameaça do terrorismo. Pelo menos 16 pessoas, entre as quais duas crianças, foram encontradas mortas numa zona remota depois de um ataque atribuído a uma célula ligada ao grupo terrorista conhecido como “Sendero Luminoso”.

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A menos de duas semanas da segunda volta das eleições presidenciais, o Peru voltou a sentir a ameaça do terrorismo. Pelo menos 16 pessoas, entre as quais duas crianças, foram encontradas mortas numa zona remota depois de um ataque atribuído a uma célula ligada ao grupo terrorista conhecido como “Sendero Luminoso”.

O massacre ocorreu num bar no domingo à noite numa pequena localidade na região do Vale dos Rios Apurímac, Ene e Mantaro (VRAEM), uma extensa zona geográfica no centro do Peru onde historicamente o Sendero Luminoso tinha os seus bastiões. Trata-se de uma região de montanha e selva de difícil acesso e que é hoje dominada pelo cultivo de coca.

Há alguma divergência quanto ao número de vítimas, com a polícia a referir 18 mortos e o Governo peruano a falar em 16. Entre os cadáveres encontrados, seis estavam carbonizados e os restantes tinham sido baleados, disse a ministra da Defesa, Nuria Esparch. Foram identificados dois menores: um bebé de um ano e uma criança de 13.

A polícia encontrou folhetos junto aos corpos das vítimas com a identificação do Militarizado Partido Comunista do Peru, o grupo de inspiração maoísta conhecido como Sendero Luminoso fundado nos anos 1960 que durante mais de três décadas foi responsável por vários ataques contra o Estado peruano. Segundo as estimativas da Comissão de Verdade e Reconciliação, o conflito deixou mais de 69 mil vítimas, entre mortos e desaparecidos.

O grupo passou por várias mutações e, ao longo do embate contra as forças de segurança peruanas, foi afastando-se do seu cariz de guerrilha política revolucionária. Hoje, a sua herança é reivindicada por pequenas milícias confinadas a algumas zonas do VRAEM e dedicadas quase em exclusivo ao narcotráfico. Abimael Guzmán, o líder histórico do Sendero Luminoso, preso desde 1992, não reconhece os grupos que actualmente se apresentam como extensões da organização que fundou.

Apelo a boicote eleitoral

O ataque surge num momento delicado no Peru, que daqui a duas semanas terá a segunda volta das eleições presidenciais, marcadas para 6 de Junho. Segundo a imprensa local, no local do crime foram deixados panfletos em que se apelava ao boicote eleitoral e se apelidava de “traidores” quem votasse na candidata da direita, Keiko Fujimori.

Ataques semelhantes de grupos associados ao Sendero Luminoso também ocorreram nas vésperas das eleições presidenciais de 2011 e 2016, lembra o El País.

Desta vez, porém, o cenário para a segunda volta é altamente polarizado. Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori, responsável pela intensificação do combate contra o grupo maoísta e pela prisão de Guzmán, enfrenta Pedro Castillo, um sindicalista de esquerda que já foi acusado por opositores de ser próximo do Sendero Luminoso – acusações que sempre negou.

Castillo condenou o massacre e pediu “o peso da lei” sobre os responsáveis assim que sejam encontrados. O secretário-geral do seu partido Peru Livre, Vladimir Cerrón, tentou associar o ataque a Fujimori, dizendo que “é a direita que necessita do Sendero para querer ganhar”.

Fujimori condenou a sugestão de Cerrón, acusando-o de aproveitamento político. “Perante este tipo de ataques, os peruanos devem estar unidos mais do que nunca”, afirmou a candidata, que também lamentou o massacre.