Acusado de “golpe de Estado”, vice-presidente interino do Mali sobe ao poder

Assimi Goita, vice-presidente interino, afirma manter o prazo previsto para as próximas eleições, a realizar em 2022, 18 meses depois do golpe de Estado de Agosto de 2020.

Foto
Assimi Goita, vice-presidente interino do Governo de transição EPA

Depois de o primeiro-ministro e o Presidente do Governo de transição terem sido detidos por não terem consultado o vice-presidente interino o coronel Assimi Goita sobre a formação do novo Governo, Goita assumiu a liderança de Mali, informou o Exército nesta terça-feira. Descrito como o segundo golpe de Estado no país no espaço de dois meses, o gesto levanta dúvidas sobre a transição democrática do país e o impacto que terá na região do Sahel, onde operam grupos insurgentes.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Depois de o primeiro-ministro e o Presidente do Governo de transição terem sido detidos por não terem consultado o vice-presidente interino o coronel Assimi Goita sobre a formação do novo Governo, Goita assumiu a liderança de Mali, informou o Exército nesta terça-feira. Descrito como o segundo golpe de Estado no país no espaço de dois meses, o gesto levanta dúvidas sobre a transição democrática do país e o impacto que terá na região do Sahel, onde operam grupos insurgentes.

O anúncio foi feito um dia depois da detenção militar do Presidente Bah N’Daw e do primeiro-ministro Moctar Ouané, levados para o campo militar em Kati, a 15 quilómetros de Bamako. Os dois detidos eram os responsáveis pelo Governo de transição criado após o golpe militar em Agosto do ano passado, que destituiu o então Presidente Ibrahim Boubacar Keita.

O novo Governo, anunciado na segunda-feira, não incluía dois membros proeminentes da Junta Militar, intitulada de Comité Nacional para a Salvação do Povo (CNSP): o ministro da Segurança do Interior, Modibo Kone, e o ministro da Defesa, Sadio Camara.

Por isso, “o vice-presidente da transição viu-se obrigado a agir para preservar a carta de transição e defender a República”, aponta a declaração militar, uma vez que o Governo liderado por Moctar Ouané mostrou-se incapaz de ser um parceiro fiável”, refere o Africa Report. Mas Goita insistiu no “curso normal” da transição e na realização das eleições “em 2022 como previsto”. 

A detenção dos líderes desencadeou a condenação da comunidade internacional. A União Europeia (UE), a União Africana e os EUA emitiram um comunicado conjunto rejeitando “qualquer acto imposto através da coacção, incluindo resignações forçadas”. Também o secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou à “libertação incondicional” dos líderes políticos.

E as sanções estão a caminho. Nas palavras de Josep Borrel, alto representante diplomático da UE, “serão aplicadas sanções aos que se meterem no caminho da transição”.

Para J. Peter Pham, antigo enviado especial dos EUA para o Sahel, os militares, “tendo realizado um golpe, e tendo sido inseridos numa transição civil, não vão simplesmente agradecer e ir embora quando forem dispensados”, lê-se no Washington Post. E a tensão entre militares e civis confirma a tendência de retrocessos democráticos na região ocidental e central de África onde o Mali se insere. 

J. Peter Pham reforça que “haverá repercussões não apenas para o Mali, mas para a região”, citou a Reuters. Isto porque, além de minar os esforços internacionais a amparar o empobrecimento na nação, a instabilidade pode impactar a região do Sahel, onde operam grupos insurgentes.

No caso do Mali, a primeira grande ameaça apareceu depois do golpe de 2012, quando insurgentes ocuparam cidades no Nordeste do país – apenas foi controlada com a intervenção militar francesa.