Idadismo: preconceito contra os mais velhos é “peste à escala mundial”

Ex-responsável da Organização Mundial de Saúde quer lançar Liga Ibero-Americana Contra o Idadismo, que é o preconceito contra os idosos.

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Adriano Miranda

O ex-director do Departamento de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS), Alexandre Kalache, afirmou esta segunda-feira que o idadismo, preconceito contra as pessoas mais velhas, é “uma grande peste à escala mundial” que importa combater.

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O ex-director do Departamento de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS), Alexandre Kalache, afirmou esta segunda-feira que o idadismo, preconceito contra as pessoas mais velhas, é “uma grande peste à escala mundial” que importa combater.

O brasileiro, que dirige o Centro Internacional da Longevidade, frisou que o idadismo “é pior nos países ocidentais”, embora nos orientais, “uma atitude de maior respeito e de reverência” para com os idosos esteja a desaparecer. Um preconceito que se reflecte “nas pequenas brincadeiras” do quotidiano, “na infantilização” ou “em estereótipos associados à idade, que menorizam a importância da pessoa mais velha”.

“A pessoa vai perdendo o auto-respeito, a autoconfiança, ao não se parar para ver o que é que aquela pessoa idosa quer, qual é o protagonismo que ela pode ter na sociedade”, critica o médico e académico brasileiro.

Para o antigo dirigente da OMS, é necessário promover “uma ressignificação da velhice”. “Não há nada de errado em relação ao envelhecimento e sim na nossa atitude em relação ao envelhecimento”, acrescenta o investigador, para quem é importante a pessoa cuidar de si própria, adoptar comportamentos para um envelhecimento activo, não abdicar dos seus direitos e ter a “atitude de decidir que não vai para os seus aposentos, vai envelhecer na sala da frente”.

Alexandre Kalache afirma existir uma “ilusão da juventude eterna” que provoca uma falta de empatia para com os mais velhos. “Em quase todas as culturas, o melhor elogio que se faz é dizer que não se parece ter a idade que se tem. Parecer velho é estigmatizante”, refere o antigo dirigente da OMS, que, por outro lado, recorda que está em curso “uma revolução” que é o envelhecimento populacional, uma vez que as estimativas apontam para que, nos próximos 50 anos, o único grupo etário que irá aumentar é o dos maiores de 70 anos, sendo que a população com mais de 80 anos vai subir 27 vezes neste período.

“A realidade do envelhecimento hoje é diferente. Os sistemas de saúde já não podem contar com uma família cuidadora”, alerta o académico, afirmando que “quanto mais cedo melhor, mas nunca é tarde de mais” para corrigir hábitos de vida que permitam “manter a capacidade funcional” e “estar acima do limiar da dependência”.

Para ajudar a mudar mentalidades, Kalache adianta existir a intenção de lançar “uma Liga Ibero-Americana Contra o Idadismo”. Segundo o médico, essa possibilidade foi abordada em Março e “o processo está bem adiantado”, a aguardar o patrocínio de uma multinacional e com o envolvimento da Organização de Estados Ibero-Americanos, com sede em Madrid, e organizações da sociedade civil.

Em Portugal, segundo Alexandre Kalache, mostraram interesse no projecto até ao momento a Sociedade Portuguesa de Geriatria e Gerontologia, a Gulbenkian, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e investigadores na área, com ligações a outras entidades. Um dos objectivos passa por difundir campanhas que combatam o preconceito contra os mais velhos.