Desastres climáticos geraram mais deslocados do que a guerra em 2020

Mais de 40 milhões de pessoas foram forçadas a deslocar-se no ano passado, o maior valor dos últimos dez anos, diz estudo do Conselho Norueguês de Refugiados.

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O ciclone Tauktae atingiu fortemente a costa Oeste da Índia na passada segunda-feira DIVYAKANT SOLANKI/epa

Apesar das restrições à circulação impostas devido à covid-19, cerca de 40,5 milhões de pessoas foram forçadas a deslocar-se em 2020, o maior valor dos últimos dez anos. Os desastres climáticos motivaram 30,7 milhões de deslocações, três vezes mais do que as deslocações motivadas por conflitos e violência, segundo o relatório apresentado esta quinta-feira pelo Centro de Monitorização de Deslocamento Interno do Conselho Norueguês de Refugiados (IDMC, na sigla inglesa).

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Apesar das restrições à circulação impostas devido à covid-19, cerca de 40,5 milhões de pessoas foram forçadas a deslocar-se em 2020, o maior valor dos últimos dez anos. Os desastres climáticos motivaram 30,7 milhões de deslocações, três vezes mais do que as deslocações motivadas por conflitos e violência, segundo o relatório apresentado esta quinta-feira pelo Centro de Monitorização de Deslocamento Interno do Conselho Norueguês de Refugiados (IDMC, na sigla inglesa).

Segundo o relatório, “a escala das deslocações a nível mundial está a aumentar, e a maioria está a acontecer dentro de fronteiras”, em valores “sem precedentes”, reforçando a tendência do aumento de deslocações que se tem verificado nos últimos anos. No ano passado, mais do dobro das pessoas, em comparação com 2019, foram forçadas a deslocar-se dentro e fora dos seus países. 

A directora do IDMC, Alexandra Bilak, salientou a sua preocupação perante “estes números elevados registados no contexto da pandemia de covid-19, quando as restrições de circulação obstruíram a recolha de dados e menos pessoas procuraram abrigos de emergência por receio de contágio”, disse, citada pelo The Guardian. A pandemia também exacerbou as condições socioeconómicas dos refugiados, o que pode significar um aumento de deslocações “à medida que os países entram em crise económica.”

Com o impacto das alterações climáticas, os “desastres naturais serão mais frequentes e intensos, e por isso o número de pessoas deslocadas internamente apenas aumentará”, alertou Bilak.

As inundações, tempestades e incêndios foram os eventos climáticos extremos que tiveram mais impacto no ano passado, obrigando 30 milhões de pessoas a deslocar-se. As regiões mais afectadas foram o Leste Asiático e o Pacífico – com 30,3%, das novas deslocações em 2020 – e a África Subsariana, que contabilizou 27,4% das deslocações de 2020.

Os países com um maior registo de deslocações por conflitos foram a Síria, que registou 6,6 milhões de pessoas deslocadas, seguida da República Democrática do Congo (5,3 milhões) e da Colômbia (4,9 milhões). Só em 2020, 10 milhões de pessoas foram obrigadas a fugir de “níveis de violência persistente na República Democrática do Congo, na Síria e na Etiópia”, clarifica o documento.

Uma convergência dos dois factores, mais a sobreexploração dos recursos naturais, “pode agravar a instabilidade e conflito, o que, por sua vez, pode motivar mais deslocações”. “É chocante saber que a cada segundo do último ano alguém foi forçado a deixar a sua casa dentro do seu próprio país”, afirmou Jan Egeland, secretário-geral do Conselho Norueguês de Refugiados.