“A minha filha já tem uma boneca como ela”: as Loretas ajudam as crianças a sentirem-se representadas

As bonecas Loretas têm o tom de pele mais escuro, os caracóis mais definidos e os lábios mais grossos, tal como Luana. Foram criadas por Sílvia Plácido para colmatar a falta de diversidade existente nos brinquedos e estão disponíveis para que as crianças possam brincar com algo com que se identifiquem.

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Loretas ajudam as crianças a sentirem-se representadas DR

A maneira como as Loretas surgiram aconteceu com Sílvia Plácido, de Vila Nova de Gaia, mas poderia ter acontecido a qualquer mãe que tenha filhas ou filhos que não se identificam com as bonecas que tradicionalmente vemos à venda nas lojas de brinquedos ou em supermercados. “O que encontrávamos era o típico padrão de beleza ocidental, que são os bebés carecas, ou com o cabelo liso muito loirinho e olhos azuis.”

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A maneira como as Loretas surgiram aconteceu com Sílvia Plácido, de Vila Nova de Gaia, mas poderia ter acontecido a qualquer mãe que tenha filhas ou filhos que não se identificam com as bonecas que tradicionalmente vemos à venda nas lojas de brinquedos ou em supermercados. “O que encontrávamos era o típico padrão de beleza ocidental, que são os bebés carecas, ou com o cabelo liso muito loirinho e olhos azuis.”

Sílvia Plácido, de 31 anos, é mãe de duas meninas, mas foi Luana, a mais velha com quatro anos, a grande impulsionadora das Loretas, as bonecas que promovem a representatividade. “Um dia, eu e o meu marido fomos a um supermercado comprar uma boneca para a nossa filha e foi aí que, no fundo, as Loretas nasceram”, conta a empreendedora. “Nessa grande superfície, a Luana andava um pouco perdida, à procura de alguma coisa que não estava a encontrar.” Enquanto percorriam os corredores dos brinquedos, Sílvia perguntou à filha a razão para estar a demorar na escolha. “Não havia nenhum brinquedo que representasse a Luana, e nesse dia viemos para casa tristes porque ela não encontrou uma boneca como ela. Até me lembro de, na altura, lhe termos dito que não havia aquelas bonecas porque os bebés com caracóis eram tão bonitos que as outras crianças os tinham levado para casa.”

Sem se aperceber, naquele momento Luana fez com que outras crianças tivessem a opção de não se sentir da mesma forma. “Vim para casa a pensar como podia fazer alguma coisa. Comecei a falar com fornecedores e a tentar perceber se conseguia fazer uma boneca como a minha filha”, recorda Sílvia. “E consegui.” “O nome Loretas foi ideia da Luana. Quando as primeiras bonecas chegaram lá a casa, quando as viu só disse: ‘Oh, tantas Luanas!’. Na altura agarrou logo numa. Perguntei-lhe como é que se ia chamar e disse algo parecido com Loreta”, recorda a mãe.

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Luana com uma Loreta DR

“Sem dúvida alguma, hoje as meninas como a minha filha já se sentem representadas. A minha filha já tem uma boneca como ela. Nós aqui em casa sempre tentámos que houvesse uma representação da Luana, não só nos brinquedos mas também nos programas de televisão, no convívio com outras pessoas, e até mesmo na escola. É importante que isso aconteça para que ela se sinta enquadrada. As bonecas foram mais um complemento”, explica Sílvia. As Loretas são quatro — a Frosten, a Fallen, a Shiny e a Sweet – e estão à venda por 49,90 euros.

Sílvia já tinha uma marca, a Mrs. Ertha, e vários produtos que queria vender antes deste episódio. “Comecei com a intenção de criar uma marca para crianças quando estava grávida da minha primeira filha, em 2017”, conta a designer. “À medida que ia começando a preparar o enxoval, decorar o quarto, comprar roupa, comecei a sentir a falta de algumas coisas que não encontrava. Nada me enchia as medidas.”

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Sílvia Plácido com a filha Luana DR

“Como estava em casa, comecei a fazer alguns protótipos. Tenho formação em Design Gráfico e comecei por desenhar uns quadros para decorar o quarto do bebé, depois uns berços em vime, depois criei uma chupeta, e ia enviando os projectos aos fornecedores, construindo assim uma colecção.” No site da marca estão à venda, além das Loretas, conjuntos de pulseiras e chapéus para mães e filhas, chupetas, peluches, acessórios e objectos de decoração.

A Mrs. Ertha surgiu da junção das palavras inglesas Earth (Terra) e heart (coração). “É uma mistura de palavras que resume bem a marca, que tem, em todos os produtos, uma preocupação ecológica e sustentável”, explica Sílvia. “Estava com receio de lançar a marca e a colecção, e durante algum tempo fui acumulando coisas em casa. No ano passado, em Junho, decidi lançar finalmente a marca e felizmente correu tudo bem.”

Actualmente, as Loretas estão espalhadas por todo o mundo. “Temos bonecas à venda em Portugal, nos Estados Unidos da América, na Nova Zelândia, na Estónia, em Angola, só falta mesmo na Austrália”, diz Sílvia. As Loretas têm o selo de aprovação de Luana, que diz, com muito entusiasmo, que adora as bonecas que a mãe criou.