Os horários de trabalho longos matam, avisa a OMS

Trabalhar 55 horas por semana está associado a um risco sério para a saúde, podendo aumentar em 35% a probabilidade de sofrer um acidente vascular cerebral e em 17% a probabilidade de morrer de doença cardíaca isquémica.

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Pandemia terá agravado tendência de fazer longos turnos, diz Organização Mundial da Saúde Paulo Pimenta

Trabalhar muitas horas está a matar centenas de milhares de pessoas por ano, numa tendência negativa que pode acelerar ainda mais devido à pandemia da covid-19, disse a Organização Mundial da Saúde (OMS) esta segunda-feira.

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Trabalhar muitas horas está a matar centenas de milhares de pessoas por ano, numa tendência negativa que pode acelerar ainda mais devido à pandemia da covid-19, disse a Organização Mundial da Saúde (OMS) esta segunda-feira.

Publicado na revista Environment International, o estudo – a primeira análise global sobre perda de vidas associadas a jornadas de trabalho mais longas, diz a Reuters – mostrou que 745 mil pessoas morreram de derrame e doenças cardíacas associadas a longas jornadas de trabalho em 2016. É um aumento de quase 30% em relação a 2000.

“Trabalhar 55 horas ou mais por semana é um sério risco para a saúde”, disse Maria Neira, directora do Departamento de Saúde Pública, Meio Ambiente e Determinantes Sociais da Saúde da OMS. “O que queremos fazer com essas informações é promover mais acção, mais protecção aos trabalhadores”, afirmou.

O estudo conjunto, produzido pela OMS e pela Organização Internacional do Trabalho, mostrou que a maioria das vítimas (72%) eram homens de meia-idade ou mais. Frequentemente, as mortes ocorreram muito mais tarde na vida, às vezes décadas depois, do que quando faziam os turnos longos.

As pessoas que vivem no sudeste da Ásia e na região do Pacífico Ocidental — uma região definida pela OMS que inclui a China, o Japão e Austrália — são as mais afectadas.

No geral, o estudo, baseado em dados de 194 países, indica que trabalhar 55 horas ou mais por semana está associado a um risco 35% maior de acidente vascular cerebral e a uma hipótese 17% maior de morrer de doença cardíaca isquémica, em comparação com quem faz 35-40 horas de trabalho semanais.

O estudo cobriu o período de 2000 a 2016 e, portanto, não incluiu os efeitos da pandemia, mas funcionários da OMS, citados pela Reuters, disseram que o aumento do trabalho remoto e a desaceleração económica global resultante da emergência do novo coronavírus podem ter aumentado os riscos.

“A pandemia está a acelerar desenvolvimentos que podem alimentar a tendência de aumento do tempo de trabalho”, disse a OMS, estimando que pelo menos 9% das pessoas trabalham longas horas.

Os próprios funcionários da OMS, incluindo o director-geral Tedros Adhanom Ghebreyesus, dizem que trabalharam longas horas durante a pandemia. Maria Neira disse que a agência da ONU quer melhorar a sua política de trabalho à luz do estudo.

O limite dos horários seria benéfico para os empregadores, uma vez que demonstrou aumentar a produtividade do trabalhador, disse Frank Pega, especialista da OMS. “É realmente uma escolha inteligente não aumentar as longas jornadas de trabalho numa crise económica.”