Um arco-íris na tempestade: as pessoas LGBT+ e a pandemia
Quer meio ano, quer um ano depois do início da pandemia, a maior parte das pessoas LGBT+ inquiridas neste estudo sentiu-se emocionalmente afectada e limitada no seu quotidiano, isolada dos amigos e desconfortável no seio familiar.
Há precisamente um ano tivemos ocasião de divulgar neste espaço os primeiros resultados de uma investigação em curso na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação na Universidade do Porto, cujo objectivo é o de avaliar o impacto da pandemia de covid-19 nas pessoas pertencentes a minorias sexuais e de género. Na altura, concluímos que não estamos todos no mesmo barco e que muitos/as jovens LGBT+ que estiveram confinados/as com a família no início da pandemia se encontravam numa situação de particular vulnerabilidade no que diz respeito ao seu bem-estar e saúde mental.
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Há precisamente um ano tivemos ocasião de divulgar neste espaço os primeiros resultados de uma investigação em curso na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação na Universidade do Porto, cujo objectivo é o de avaliar o impacto da pandemia de covid-19 nas pessoas pertencentes a minorias sexuais e de género. Na altura, concluímos que não estamos todos no mesmo barco e que muitos/as jovens LGBT+ que estiveram confinados/as com a família no início da pandemia se encontravam numa situação de particular vulnerabilidade no que diz respeito ao seu bem-estar e saúde mental.
Durante o último ano, continuámos a recolher dados, estendendo o inquérito a todas as pessoas, independentemente da sua idade e identidade sexual e de género. Reportamos esta segunda-feira, Dia Internacional de Luta contra a Homofobia, Bifobia e Transfobia, dados provenientes de 387 respostas de pessoas LGBT+, seis meses (Novembro/Dezembro de 2020) e 12 meses após o início da pandemia em Portugal (Março de 2021).
Quer meio ano, quer um ano depois do início da pandemia, a maior parte das pessoas LGBT+ inquiridas sentiu-se emocionalmente afectada e limitada no seu quotidiano, isolada dos/as amigos/as e desconfortável no seio familiar. Estes sentimentos exacerbaram-se em Março de 2021 comparativamente com Novembro/Dezembro de 2020. Este aumento poderá estar associado ao facto de, em Março, o Estado de Emergência e o dever de recolhimento domiciliário já estarem em vigor desde o início do ano. Para algumas pessoas a pandemia dificultou o acesso a espaços sociais LGBT+ e no caso de metade das pessoas trans inquiridas, a consultas no âmbito do seu processo de afirmação de género. No que diz respeito à avaliação de aspectos menos negativos da pandemia, bastantes pessoas avaliaram positivamente a maior disponibilidade de serviços online, o incremento das amizades online e um sentimento de maior unidade e partilha.
Estes resultados alertam para a importância de se garantir a disponibilidade de serviços psicológicos e psicossociais presenciais e online, adaptados às necessidades das pessoas LGBT+, durante situações de pandemia e confinamento. Dado que estes serviços poderão não chegar a todas as pessoas de igual forma, o acesso aos mesmos deverá ter em conta as necessidades particulares de grupos específicos: pessoas idosas, de nível socioeconómico mais baixo, imigrantes, em situação de sem-abrigo, trabalhadores/as sexuais, pessoas pertencentes a grupos racializados, entre outros.
Para as pessoas LGBT+, as amizades com indivíduos da comunidade poderão revestir-se de especial importância, particularmente quando vivem num ambiente não afirmativo e estigmatizante da sua identidade. A utilização de aplicações online permite a conexão com redes sociais de apoio e poderá ter um papel importante na mitigação dos efeitos do isolamento social. Contudo, seria benéfico o desenvolvimento no seio das associações de defesa dos direitos das pessoas LGBT+, de fóruns e comunidades online que conectassem estas pessoas, particularmente as que vivem em meios rurais, com dificuldades de locomoção ou outras condições que as afastem do acesso a redes de apoio presenciais.