Insurreição e ressurreição na Índia e em Israel: Ayodhya e Jerusalém
Tanto a Índia como Israel, intituladas democracias, seriam mais bem descritas como doma-cracies: países com um número considerável de minorias que, contudo, aderem ao mito nacionalista da população maioritária. Doutorada pela Universidade de Yale, a escritora, fotógrafa e investigadora Ariel Sophia Bardi, especialista em estudos pós-coloniais e cultura visual, aponta dois exemplos de “controlo do passado” nestes dois países, que surgiram com um ano de diferença, 1948 e 1947 respectivamente.
Entre as muitas reportagens explosivas que emergiram no último ano, 2020 assistiu ao início da construção há muito anunciada do Ram Mandir, na Índia – templo hindu no estado setentrional de Uttar Pradesh, que fez parte de uma campanha política de 36 anos para reafirmar o controlo maioritário hindu sobre a heterogénea cidade de Ayodhya. “Ram Mandir yahan banayenge!” (“Aqui construiremos novamente o Templo Ram”) manteve-se como um slogan inalterável do partido de direita, usado como tática dissimulada para semear divisões comunitárias entre as populações hindus e muçulmanas que coexistiram durante séculos e que contribuem para as complexidades e contradições incorporadas na Índia contemporânea. Em 2020 a batalha pelo domínio nacionalista hindu avançou, ainda mais, em direção a uma vantagem incontestável.