Jerónimo considera “precipitado” discutir Orçamento de 2022 e “deitar borda fora” o actual
Líder do PCP considera que certeza do Presidente na aprovação do próximo Orçamento do Estado é “uma análise como outra qualquer”
O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, considerou, este sábado, “no mínimo precipitado” antecipar a posição do partido sobre o próximo Orçamento do Estado e “deitar borda fora” a concretização do actual.
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O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, considerou, este sábado, “no mínimo precipitado” antecipar a posição do partido sobre o próximo Orçamento do Estado e “deitar borda fora” a concretização do actual.
À margem de uma visita a um museu em Vila Franca de Xira, iniciativa inserida no 12.º Congresso da Juventude Comunista Portuguesa (JCP), Jerónimo de Sousa foi questionado sobre a convicção do Presidente da República de que o Orçamento para 2022 “possa passar com uma base de apoio similar” à do de 2021, então aprovado com votos a favor do PS e com a abstenção do PCP, PEV e PAN.
“O senhor Presidente da República sempre teve uma grande capacidade analítica, não acertando sempre, é uma análise como outra qualquer”, considerou o líder comunista.
Jerónimo de Sousa salientou que, para o PCP, existe “uma questão central”. “Nós não estamos a discutir o futuro Orçamento para 2022, nós ainda estamos na fase da necessária concretização do que foi aprovado em 2021, não podemos queimar etapas, é necessário que o Governo assuma a responsabilidade de várias medidas ainda por concretizar”, defendeu.
Para o líder comunista, “será precipitado, no mínimo, e ficará no plano analítico tentar discutir um Orçamento que não existe e deitar borda fora muitas das questões económicas e sociais que foram aprovadas, muitas delas por proposta do PCP”. E reforçou: “Concretize-se aquilo que foi aprovado, venha então de lá a proposta de futuro orçamento, e perante o pano logo talharemos a obra.”
O secretário-geral comunista precisou que o posicionamento do partido em relação à futura proposta orçamental terá em conta “a concretização da que está em vigor”.
“Nunca gosto muito de fazer palpites, era apressado um julgamento sobre uma coisa que ainda não existe. Como se pode pedir ao PCP, ao BE, ao PS, ao PSD ou ao CDS um posicionamento em torno de uma proposta que ainda não existe, que não se conhece?”, questionou.
Jerónimo de Sousa salientou que o PCP “não diz que sim porque sim, ou não porque não”, e recusou que as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa signifiquem uma pressão adicional para os comunistas.
“Ninguém pense que vamos silenciar muitas das propostas e que estas sejam atiradas borda fora (…) Senão, a própria discussão e votação favorável de algumas medidas deixará de ter valor. É para agora que se exige uma clarificação pela parte do Governo do PS”, insistiu.
Questionado se a proximidade de calendário entre as autárquicas e o debate orçamental pode dificultar ou facilitar essa negociação, o líder do PCP considerou que “são duas questões autónomas”.
“Aquilo que faz falta são medidas de alcance social que não resolvem tudo, mas podem beneficiar centenas de milhares de portugueses. A não ser assim, é evidente que cá estaremos para denunciar o posicionamento e recuo do PS”, alertou.
Na visita à exposição “Representações do Povo”, patente no Museu do Neorrealismo em Vila Franca de Xira, Jerónimo de Sousa deixou um apelo para que os portugueses voltem às visitas a estes espaços de cultura.
“Hoje têm carências importantíssimas, desde vigilantes, aos conservadores, aos restauradores”, afirmou, alertando que “há risco de haver conhecimento que se perde para sempre”.
Respeitando as medidas de segurança impostas pela pandemia de covid-19, Jerónimo de Sousa defendeu “ser tempo de revitalizar” as visitas dos portugueses aos museus.
Na exposição patente Vila Franca de Xira, o líder do PCP destacou as referências ao assassinato de dois trabalhadores rurais, conhecidos por Caravela e Casquinha, em 1979 na Herdade Vale do Nobre, em Montemor-o-Novo, em defesa da reforma agrária.
“Vale a pena investir nos museus, dar-lhes dinâmica, precisamos da memória toda que ali está concentrada, da nossa história, no fundo”, apelou.