A guerra está no meio de nós
Um eventual confronto entre israelitas judeus e árabes no interior do país é mais temível do que os rockets disparados pelo Hamas a partir de Gaza.
As Nações Unidas tentaram demover Israel de concretizar as expulsões forçadas de famílias palestinianas das suas casas de Jerusalém Oriental, na sequência de uma decisão judicial que vai permitir que as mesmas habitações sejam ocupadas por judeus ortodoxos. Rupert Colville, porta-voz do Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU, disse taxativamente o seguinte: “O poder ocupante” não pode “confiscar propriedade privada em território ocupado” e a transferência de civis nestes territórios não só é ilegal como pode ser considerada um “crime de guerra”.
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As Nações Unidas tentaram demover Israel de concretizar as expulsões forçadas de famílias palestinianas das suas casas de Jerusalém Oriental, na sequência de uma decisão judicial que vai permitir que as mesmas habitações sejam ocupadas por judeus ortodoxos. Rupert Colville, porta-voz do Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU, disse taxativamente o seguinte: “O poder ocupante” não pode “confiscar propriedade privada em território ocupado” e a transferência de civis nestes territórios não só é ilegal como pode ser considerada um “crime de guerra”.
O aumento da tensão em Israel, com sinagogas a arder, carros incendiados e linchamentos, era evitável se a preocupação primeira de Jerusalém fosse evitar o conflito. Infelizmente, não é. Não é necessário ser um especialista no complexo tema do conflito israelo-palestiniano para perceber que a expulsão de famílias árabes do Bairro de Sheij Yarrah, que as cargas da polícia na Esplanada das Mesquitas e que os bloqueios da Porta de Damasco conduziriam a novo confronto armado.
Benjamin Netanyahu, incapaz de formar Governo, suspeito de corrupção, quis mostrar o seu vigor. O Hamas fez-lhe o favor de ripostar. Com dizia Michal Sella, da ONG Givat Haviva, no PÚBLICO deste sábado, os acontecimentos não podem ser separados do actual momento da política interna israelita, “quando Netanyahu está prestes a perder o poder, e quando outro Governo com apoio de árabes pela primeira vez está prestes a tornar-se realidade”.
O reacender do ódio, alimentado por uma discriminação institucionalizada, com o linchamento de um árabe por membros de extrema-direita, transmitido em directo na televisão, ou a morte de um judeu por engano, por ter sido confundido com um árabe, atingiu proporções que terão surpreendido até o próprio primeiro-ministro israelita. Sol de pouca dura e palavras de circunstância. A dualidade interna é sempre um pretexto para mais uma demonstração desproporcional de força: o bombardeamento de campos de refugiados e das sedes de meios de comunicação como a Al Jazeera e a Associated Press.
Neste momento, já não se trata de mais uma guerra entre o Exército e as milícias do Hamas. Ao eterno conflito temos de acrescentar outra batalha, entre uma população acicatada pelo ódio e tentada pelo extremismo. Um eventual confronto entre israelitas judeus e árabes no interior do país é mais temível do que os rockets disparados pelo Hamas a partir de Gaza. Os árabes em Israel não são e nunca foram cidadãos com plenos direitos. Numa sociedade desigual, no final, quem ganha é o ódio.