Escrever de longe e ilustrar de perto, em português

O pretexto foi o Dia Mundial da Língua Portuguesa, que se assinalou a 5 de Maio. Mas o resultado pode desfrutar-se em qualquer data ou continente.

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Um conjunto de 16 histórias contadas por oito autoras de diferentes nacionalidades, mas tendo em comum a língua portuguesa. Aqui se exploram expressões que se equivalem, mas que são ditas de outro modo em função da origem de quem as profere. É o caso, por exemplo, de “quem canta seu mal espanta” (Portugal) / “Cantar é deitar o coração para longe” (São Tomé e Príncipe).

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Um conjunto de 16 histórias contadas por oito autoras de diferentes nacionalidades, mas tendo em comum a língua portuguesa. Aqui se exploram expressões que se equivalem, mas que são ditas de outro modo em função da origem de quem as profere. É o caso, por exemplo, de “quem canta seu mal espanta” (Portugal) / “Cantar é deitar o coração para longe” (São Tomé e Príncipe).

As autoras são Angelina Neves (Moçambique), Céu Lopes (Timor), Lurdes Breda (Portugal), Maria Celestina Fernandes (Angola), Mariana Ianelli (Brasil), Natacha Magalhães (Cabo Verde), Olinda Beja (São Tomé e Príncipe) e Kátia Casimiro (Guiné-Bissau). Quem ilustrou toda esta diversidade de ambientes foi Tânia Clímaco, professora de Expressão Artística e Educação pela Arte, mas também promotora de ateliers de desenho, pintura e cenografia.

A ilustradora, que vive em Portugal, contou ao PÚBLICO como chegou a este projecto, que, na sua opinião, “à parte das histórias maravilhosas e da ilustração, tem uma mensagem: é um livro que tem em comum a língua portuguesa, mas a ‘linguagem’ cultural é diferente”.

Um livro maternal

A convite de Teresa Noronha, editora da Escola Portuguesa de Moçambique, ilustrou e paginou Contar Histórias com a Avó ao Colo. No ano passado, primeiro ano em que se comemorou o Dia Mundial da Língua Portuguesa, já tinha ilustrado para a mesma escola 100 Papas na Língua, com texto de Lurdes Breda.

Para Tânia Clímaco, este “é um livro maternal, que abriga o respeito pelos mais velhos e pretende manter viva a riqueza do importante legado colectivo de cada país participante”. Como o livro irá viajar para vários países, “é pensado para crianças do mundo inteiro. É um ‘livro partilha’, as histórias são subordinadas a expressões idiomáticas e expressões populares com origem nos países aqui representados”, descreve por email.

A também personagem Josefina no teatro de marionetas Cabeça nas Nuvens, acrescenta: “Apesar de estes países terem em comum a língua portuguesa, têm expressões, costumes, cores, cultura diferentes. Acredito que é muito importante partilharmos o ‘nosso mundo’ e conhecermos o ‘mundo do outro’, para nos compreendermos e convivermos melhor.”

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Tânia Clímaco

Quando aceitou este trabalho, percebeu que “necessitava de pesquisar muito para ‘entrar’, representar as histórias dos países que não conhecia ou julgava conhecer melhor”. Sabia ser “muito importante respeitar as cores, os ambientes e a história que cada escritora queria contar”, já que “a ilustração não decora o texto nem o texto legenda a ilustração, ambos se casam, complementam-se”.

A importância do padrão da roupa

A ilustradora conta como ao enviar à editora, moçambicana, uma primeira ilustração, recebeu como resposta: “Está muito europeu. Os meninos desse país não se vão identificar.” Naquele momento teve a noção de que tinha de se transportar até cada um daqueles países. “Fiz pesquisa exaustiva e isso proporcionou-me uma viagem incrível por cada país. Tive pessoas a partilharem fotografias pessoais, vídeos, histórias das histórias do livro...”

Tânia Clímaco sente que este livro trouxe mais maturidade ao seu trabalho, assim como a noção de responsabilidade quando ilustra. “Antes deste projecto, não tinha pensado que uma coisa tão simples como o padrão da roupa é um detalhe tão importante”, admite.

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Tânia Clímaco

Também as suas memórias constam do relato que fez ao PÚBLICO: “Além da questão cultural, este é um livro que quer preservar memórias e, quando ilustrava, veio-me à memória uma recordação de infância. Quando era menina, o meu avô contou-me muitas histórias e dizia-me sempre que tinha pena que não fossem gravadas, guardadas essas histórias. Hoje tenho eu pena que elas não tenham sido guardadas. A preservação da memória é muito importante, conta a nossa história dá-nos colo em pequenos e sobretudo em adultos e ensina-nos tanto!”  

No final do livro, há um pequeno glossário que ajuda a descodificar palavras e expressões de cada país. Saberá o leitor o que é zungar (Angola), tocaia (Brasil), txota (Cabo Verde), ulilé (Guiné-Bissau), milando (Moçambique), peliça (Portugal), mina muê (São Tomé e Príncipe) e lulik (Timor-Leste)? Está lá tudo bem explicado, no capítulo “Trocando por miúdos”.

Contar Histórias com a Avó ao Colo tem como patrocinadores Camões – Centro Cultural Português em Maputo (para a edição em formato digital) e a Rede de Bibliotecas Escolares (para a edição impressa). Pode ser adquirido em Lisboa na livraria Snob e ser lido gratuitamente online em qualquer lugar

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