Ondas internas solitárias do mar com mais impacto em “carneirinhos” do que o vento
Este estudo poderá promover e contribuir para o desenvolvimento de novas técnicas de observação de rebentação de ondas à escala global.
As ondas internas solitárias do mar têm maior impacto na formação das pequenas ondas de espuma branca, habitualmente designadas “carneirinhos”, do que o próprio vento, segundo comprovaram agora investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).
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As ondas internas solitárias do mar têm maior impacto na formação das pequenas ondas de espuma branca, habitualmente designadas “carneirinhos”, do que o próprio vento, segundo comprovaram agora investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).
Em comunicado, a FCUP explica que o estudo, publicado na revista Oceanography, foi realizado tendo por base dados de satélite obtidos no Brasil, ao largo da foz do rio Amazonas e no mar de Banda, na Indonésia. O estudo permitiu aos investigadores concluir que as ondas internas solitárias – ondas gigantes não-lineares que se propagam no interior do oceano – têm maior impacto na formação das pequenas ondas de espuma branca, habitualmente designadas por “carneirinhos”, do que o vento moderado a forte.
Estas ondas “foram observadas e descritas pela primeira vez por marinheiros há cerca de 200 anos, nos mares tropicais da Tailândia”, explica José da Silva, docente da FCUP, citado no comunicado. “Na altura não se sabia qual era o fenómeno por detrás delas”, refere o investigador do Instituto de Ciências da Terra, acrescentando que o tipo de rebentação é o mesmo das ondas que vemos na praia, “mas a origem é diferente”.
“O que está por detrás, sabe-se agora com mais certeza, são as ondas internas solitárias que têm mais de 100 metros de amplitude”, salienta oceanógrafo, sendo que as mesmas podem ter um papel mais preponderante quando o vento não é forte. “Na presença de uma onda interna, normalmente os carneirinhos são exacerbados e a sua presença é muito mais intensa”, explica.
Os investigadores descobriram ainda que a altura das ondas decresce cerca de 30% quando a onda rebenta, o que pode significar que perdem parte significativa da energia devido à rebentação. “A confirmar-se esta hipótese, estas descobertas podem ser relevantes para perceber onde há mais locais preponderantes de trocas gasosas, por exemplo, o dióxido de carbono, e de calor entre o oceano e a atmosfera”, refere.
A investigação contou com o apoio da Agência Espacial Europeia (ESA), nomeadamente, com a observação de dados de satélite fornecidos pelo Sentinela-3, que foi “fundamental para observar o fenómeno da rebentação das ondas” e permitiu observar casos de rebentação em datas diferentes.
No entanto, as condições ideias para ver o mesmo local na superfície do oceano só surgem a cada 28 dias, devido às constrições orbitais, sendo fundamental “mais tempo e encontrar mais casos de rebentação”. “As ondas internas mais fortes têm locais privilegiados”, aponta José da Silva, acrescentando que para o próximo estudo fica ainda a necessidade de comprovar se a diminuição da energia das ondas se deve exclusivamente à rebentação.
“O nosso estudo poderá promover e contribuir para o desenvolvimento de novas técnicas de observação de rebentação de ondas à escala global, que é reconhecido como elemento do programa CCI (Climate Change Initiative) da ESA”, refere. Além de José da Silva, o estudo contou com a participação de Jorge M. Magalhães e Adriana M. Santos Ferreira, ambos da FCUP, e de Werner Alpers, da Universidade de Hamburgo, na Alemanha.