Padres alemães estão a abençoar uniões entre pessoas do mesmo sexo
A iniciativa contraria a doutrina oficial do Vaticano, apoiada pelo Papa, que tinha proibido os padres católicos de abençoarem as uniões entre pessoas do mesmo sexo.
Um grupo de cerca de cem padres alemães está a abençoar uniões entre pessoas do mesmo sexo, desafiando a doutrina do Vaticano.
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Um grupo de cerca de cem padres alemães está a abençoar uniões entre pessoas do mesmo sexo, desafiando a doutrina do Vaticano.
O grupo que se autodenomina “Liebe Gewinnt” (o amor vence) reúne padres de toda a Alemanha, críticos das orientações oficiais da Igreja Católica, que em Março proibiu os sacerdotes católicos de abençoarem as uniões entre casais do mesmo sexo. A posição da Congregação para a Doutrina da Fé, que defendeu que a igreja “não pode abençoar o pecado”, contou com o apoio do Papa Francisco.
Os padres que integram esta iniciativa defendem que a Igreja Católica não se deve fechar aos crentes, independentemente da identidade sexual. “Os casais que participem devem poder receber a bênção que Deus lhes quer dar sem qualquer secretismo”, afirma o grupo num manifesto.
Sacerdotes de todo o país começaram esta semana a abençoar várias uniões, incluindo entre casais de divorciados, recasados, não casados e pessoas do mesmo sexo. “Vamos ter toda a diversidade do amor”, disse à Reuters o padre Christian Olding, da cidade de Geldern.
“Se dizemos que Deus é amor, não posso dizer a pessoas que comungam a lealdade, unidade e responsabilidade uma com a outra que o que têm não é amor, que é um amor de quinta ou sexta categoria”, afirmou Olding.
A proibição emitida pelo Vaticano em Março deixou muita frustração entre a ala mais progressista da Igreja Católica, que via Francisco como um Papa aberto a uma doutrina mais inclusiva. Para os padres do grupo “Liebe Gewinnt”, esta orientação foi “uma chapada na cara das pessoas de todo o mundo”.
Na Alemanha, onde a Igreja Católica é tradicionalmente mais liberal e onde o casamento entre pessoas do mesmo sexo é legal desde 2017, a frustração foi especialmente forte. Em Março, mais de dois mil padres, teólogos e outros membros da igreja na Alemanha e na Áustria assinaram uma petição a favor das bênçãos para uniões entre pessoas do mesmo sexo.
Desde que chegou ao topo da hierarquia da Igreja Católica, Francisco foi dando alguns sinais de que a doutrina restritiva que exclui os casais de pessoas do mesmo género da instituição podia ser revista. Para além de ter recebido casais homossexuais no Vaticano, em 2013 o Papa questionou quem seria ele para julgar os casais que procuram manter-se na igreja.
Num documentário no passado, Francisco também declarou que os “homossexuais têm direito a fazer parte de uma família” e defendeu a regulação civil das uniões entre as pessoas do mesmo sexo. No entanto, o Papa rejeitou sempre dar o passo de as abençoar no seio da Igreja Católica.
Para os padres alemães que desafiam a doutrina oficial do Vaticano, trata-se de uma tentativa de manter a igreja mais próxima da sociedade actual. “Não quero viver separado da realidade da vida diária das pessoas que acompanho enquanto padre”, disse Olding.