Chefe do Estado-Maior francês defende demissão dos militares que assinaram carta contra Macron

“Os soldados devem ser capazes de distinguir entre deveres cívicos e deveres militares”, disse o general François Lecointre, numa mensagem dirigida ao pessoal militar no activo.

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Emmanuel Macron com militares franceses no aniversário do fim da II Guerra Mundial, em Paris CHRISTIAN HARTMANN/EPA

Os militares no activo que assinaram a recente carta a alertar para o perigo de uma guerra civil em França deviam apresentar a sua demissão, defendeu o chefe do Estado-Maior do exército do país. Numa mensagem dirigida ao pessoal das forças armadas francesas, o general François Lecointre considerou que o teor da carta é incompatível com o serviço dos militares.

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Os militares no activo que assinaram a recente carta a alertar para o perigo de uma guerra civil em França deviam apresentar a sua demissão, defendeu o chefe do Estado-Maior do exército do país. Numa mensagem dirigida ao pessoal das forças armadas francesas, o general François Lecointre considerou que o teor da carta é incompatível com o serviço dos militares.

“O passo mais razoável será, certamente, deixar a instituição militar para que possam expressar livremente as suas ideias e convicções”, disse Lecointre na mensagem, revelada pela AFP. 

Embora não tenha ameaçado os signatários da carta com sanções, o general Lecointre acusou os militares de violar o seu “dever de discrição”, considerando que as “convicções pessoais” manifestadas na polémica carta envolveram as forças armadas francesas num indesejável debate político.

“Todos os soldados têm o direito à liberdade de pensamento, mas devem ser capazes de distinguir inequivocamente entre deveres cívicos e deveres militares”, afirmou Lecointre.

Na carta publicada no passado domingo na revista de direita Valeurs Actuelles, os militares acusaram o Governo liderado por Emmanuel Macron de de “cobardia” e “perversão”, voltando a agitar o fantasma da guerra civil. 

“Cobardia, engano, perversão. Esta não é nossa visão da hierarquia. Pelo contrário, o exército é, por excelência, o lugar onde falamos a verdade uns com os outros, a quem comprometemos a nossa vida. É a esta confiança na instituição militar que apelamos”, lia-se na carta, alegadamente escrita por dois mil militares franceses no activo.

Os autores da missiva descreveram-se a si próprios como militares de uma geração mais jovem, que participou em recentes operações no estrangeiro, onde combateram o extremismo islâmico. “Afeganistão, Mali, República Centro-Africana ou em qualquer outro lugar do mundo, muitos de nós conheceram o fogo inimigo. Alguns deixaram lá camaradas, que ofereceram a sua vida para destruir o islamismo ao qual vocês fazem concessões no nosso país”, escreveram, justificando o anonimato com o receio de virem a ser punidos.

A ameaça de uma iminente guerra civil em território francês já tinha sido referida numa primeira carta, publicada a 21 de Abril, que alertava o Governo e os deputados para “vários perigos mortíferos” que ameaçavam o país, nomeadamente “o islamismo e as hordas dos subúrbios, que provocam a separação de múltiplas parcelas da nossa nação para as transformar em territórios submetidos a dogmas contrários à nossa Constituição”. 

“Sim, se estourar uma guerra civil, o exército manterá a ordem na sua própria terra, porque tal será solicitado. É esta a definição de guerra civil”, escreveram os militares na segunda carta. 

Ambas as cartas foram condenadas pela classe política francesa, com a excepção de Marine Le Pen, a líder da União Nacional e candidata à Presidência da República.