Nasce em Lisboa um festival para viajantes minimalistas, que querem “viver o momento intensamente”
Esteve agendado para Outubro do ano passado, mas foi adiado para o final deste mês. O Minimalist Travel Festival decorre na Fábrica Braço de Prata, em Lisboa, a 29 de Maio.
Vai ser um dia para partilhar aventuras, “narrativas de vida”, projectos e dicas práticas, com o objectivo de “inspirar” a viajar de uma forma minimalista. Com uma mochila mais leve e arrumada, sim, mas também enquanto estilo de vida e conceito de viagem, menos preocupada com materialismo e imagem e mais interessada em “viver o momento intensamente e absorver novas culturas e locais”, em criar “recordações ou histórias para contar”.
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Vai ser um dia para partilhar aventuras, “narrativas de vida”, projectos e dicas práticas, com o objectivo de “inspirar” a viajar de uma forma minimalista. Com uma mochila mais leve e arrumada, sim, mas também enquanto estilo de vida e conceito de viagem, menos preocupada com materialismo e imagem e mais interessada em “viver o momento intensamente e absorver novas culturas e locais”, em criar “recordações ou histórias para contar”.
É esta a premissa do Minimalist Travel Festival, evento que decorre a 29 de Maio na Fábrica Braço de Prata, em Lisboa, e que reúne em palco dez oradores, a maioria experientes viajantes, que vão partilhar histórias e conselhos, “de portugueses para portugueses”.
“O conceito é inspirar o próximo, mas também quero que tenha uma força muito educacional, de ensinar o próximo a viajar melhor e mostrar às pessoas que viajar é muito mais a experiência do que aquilo que levamos às costas”, afirma o organizador do festival, Gonçalo Cruz.
Como “o minimalismo tem de começar em casa”, o festival arranca com uma palestra sobre o tema “de A a Z”, dada por Cláudia Ganhão, para “contextualizar o que vem a seguir” (10h). Entram depois em palco os viajantes Vítor Costa, Hugo Martins e Raquel Ribeiro, para contar como é “trabalhar e viajar pelo mundo” (11h). E, às 12h, há um workshop de “minimalismo emocional”, com Tita Sorte.
Na parte da tarde, Catarina Leonardo e Diana Rocha falam das suas “viagens minimalistas em família” (14h) e, às 17h, João Gonçalo Fonseca volta ao tema para recordar a grande viagem feita com a mulher e os filhos em bicicleta. A ideia passa por “explicar como é possível uma criança fazer uma viagem longa sem ter tudo o que tem em casa e ser feliz na mesma”. O programa fica completo com a palestra “cada ‘menos’ são muitos ‘mais’, que junta em palco António Pedro Moreira e Rui Barbosa Batista (16h), e o concerto da banda Cherry, às 15h.
Uma primeira edição “muito pequena”
Devido à pandemia, será “um festival muito pequeno”, organizado no interior de uma tenda instalada no recinto da Fábrica Braço de Prata, em Lisboa. O espaço tem capacidade para cerca de 400 pessoas, mas o evento terá um máximo de 150 “festivaleiros”, de forma a garantir que as cadeiras mantêm “uma distância de segurança de 1,5 a 2 metros” entre si, aponta Gonçalo Cruz.
À entrada do recinto, será medida a temperatura corporal dos participantes e entregue uma máscara de protecção facial, assim como uma pulseira (para facilitar entradas e saídas) e uma t-shirt oficial do evento. “Por todo o festival vai haver 10 litros de álcool gel”, acrescenta.
Está ainda assegurada a possibilidade de almoçar no interior do complexo, com uma proposta de menu completo em buffet (entrada, prato principal, sobremesa e bebida), ainda que a refeição não esteja incluída no preço do bilhete (a entrada no festival custa 25€ por pessoa, à venda online no site do evento; o almoço custa 15€).
O Minimalist Travel Festival esteve agendado para 7 de Outubro do ano passado, mas Gonçalo confessa que começou a organizar o evento “já preparado para um adiamento”, devido às restrições impostas no combate à pandemia, o que acabou por acontecer.
No entanto, apesar de a covid-19 ter colocado o mundo das viagens praticamente em suspenso, “a ideia nunca foi pôr o festival de lado”. “Acho que [o tema] é tão importante e é o momento certo para aprendermos sobre viagens. O festival vai ser muito também o falar novamente sobre o sonho, o começarmos a idealizar, a criar ideia de quais serão as nossas próximas viagens”, afirma. “É o timming perfeito: as pessoas ainda não estão a viajar mas têm capacidade para aprenderem tudo sobre viagens para, quando chegar o momento, estarem ainda mais preparadas.”
"Nunca foi grande apaixonado por viagens” mas tornou-se “um viciado"
Gonçalo Cruz assume que, até fazer Erasmus em Itália, em 2008, “nunca foi grande fã de viagens”. “Os meus pais não são viajantes, não foi uma coisa que cresceu comigo.” Mas quando o irmão lhe confessou que “a coisa que mais se arrependeu na vida foi não ter feito Erasmus”, Gonçalo não quis cometer o mesmo erro. “Foi, basicamente, a primeira vez que saí de casa, com 23 anos.” Até aí, diz, “viajar não lhe dizia nada”.
Entre os intervalos dos estudos, começou a explorar Itália e os países vizinhos. Dois anos depois, já fixava uma meta ambiciosa: “Queria visitar todos os países do mundo até ao dia 18 de Julho de 2035”, data em que fará 50 anos.
Desde então, visitou mais de meia centena de países, fez “uma volta ao mundo durante 365 dias entre 2016 e 2017”, viveu em Malta, Inglaterra e, nos últimos oito anos, na Alemanha. Em 2019, lançou aquele que diz ser “o kit de viagem mais leve do mundo”, com 15 produtos que, no total, pesam cerca de 800 gramas. “Mais tarde, uma empresa convidou-me para ser líder de viagens. Depois abri a minha agência de viagens na Alemanha e agora passei a minha vida para Portugal e abri-a cá”, resume. Mudou-se em Janeiro. Diz ter-se tornado “um viciado” e agora tudo o que faz “tem a ver com viagens”.
Neste momento, Gonçalo é o único elemento da The Tool Travel, organizando e liderando viagens temáticas, para já apenas em solo nacional. Tem ainda uma guest house em Lisboa que, face à falta de turistas, “não está a funcionar.” E um livro por publicar. “Vamos lá ver se vai ser este ano.” Além de histórias de viagens, serão páginas “sobre o sonho, sobre a ambição e loucura de querer visitar todos os países do mundo até 2035”. “Falta uma caminhada muito grande mas acho que o mais giro de tudo é o processo. É disso que eu gosto. Não é o carimbo no passaporte, é a parte bonita de ter conhecido pessoas naqueles locais, de terem tido impacto na minha vida e de a terem transformado de alguma forma.”
No início do ano passado, começou a cozinhar a ideia de criar um festival de viagens. “Sempre quis organizar um evento grande.” Não há muitos sobre a temática em Portugal, muito menos em Lisboa, aponta. “Porque não juntar aqui o nicho do minimalismo nas viagens, que é uma coisa que me diz muito [e avançar]?” Criou um grupo no Facebook, Viajantes Minimalistas, e com o primeiro confinamento lançou um programa de entrevistas chamado Café da Manhã em Viagem, no qual conheceu a maioria dos oradores que vão subir a palco no dia 29.
“A vida tem de continuar e é importante também sermos pioneiros e começarmos a fazer algo diferente, a mostrar que é preciso adaptar-nos mas é possível fazer.” A primeira edição do festival ainda não tem a dimensão que gostaria. “Mas se as coisas resultarem bem, como vão resultar, o mais difícil já foi feito.”