Jerónimo Martins e Sonae criticam PRR pelo “cimento” e falta de investimento na educação

Grupos de distribuição pedem isenção de imposto nas doações de alimentos e apelam à União Europeia para estar atenta à sustentabilidade das cadeias de distribuição internacionais.

Foto
"Não precisamos de mais betão, é preciso mais cabeça", defendeu Cláudia Azevedo Nelson Garrido

Os presidentes dos dois maiores grupos de distribuição nacionais estiveram esta quarta-feira em plena sintonia em relação aos principais desafios que se colocam ao país e à sustentabilidade do planeta. Durante um debate promovido pela Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), Cláudia Azevedo e Pedro Soares dos Santos foram muito críticos em relação ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que, dizem, falha na maior necessidade do país, o investimento em educação.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Os presidentes dos dois maiores grupos de distribuição nacionais estiveram esta quarta-feira em plena sintonia em relação aos principais desafios que se colocam ao país e à sustentabilidade do planeta. Durante um debate promovido pela Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), Cláudia Azevedo e Pedro Soares dos Santos foram muito críticos em relação ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que, dizem, falha na maior necessidade do país, o investimento em educação.

Pedro Soares dos Santos, presidente da companhia Jerónimo Martins, defendeu não ver necessidade de “muitas mais auto-estradas e aeroportos em Coimbra”, sublinhando que “com isso se ganham eleições, mas isso é para quem tem um horizonte a quatro anos”.

Por seu lado, a presidente da Sonae SGPS (grupo dono do PÚBLICO), Cláudia Azevedo, considera que o PRR “é uma lista de despesas, auto-estradas, pontes”. “Não precisamos de mais betão, é preciso mais cabeça”, referiu. E deu o exemplo de Espanha, país que alocou no plano de investimentos nacional quatro mil milhões de euros para as novas redes de telecomunicações. Portugal tem zero, disse Cláudia Azevedo.

Os donos do Pingo Doce e do Continente – que durante a conferência trocaram várias vezes declarações de “concordo com o Pedro” e “concordo com a Cláudia” – consideram que só a aposta em mais educação, desde a escola à reconversão de trabalhadores, permitirá ao país crescer.

Cláudia Azevedo manifestou desejo de que ainda alguma coisa possa mudar no PRR, ao nível da formação e reconversão de trabalhadores, enquanto Pedro Soares dos Santos se manifestou um pouco mais pessimista, considerando que “os financiamentos são muito políticos”.

“Quem se reforma [em Portugal] está condenado a ir para a pobreza” e “ninguém quer tirar-nos da pobreza”, disse ainda o presidente do grupo Jerónimo Martins, considerando que o quadro fiscal não incentiva o investimento no país nem atrai o investimento estrangeiro.

Durante a Spring Conference da APED, os dois responsáveis destacaram a capacidade de resposta do canal de distribuição alimentar durante a pandemia, admitindo que, nesse segmento, acabaram por registar um crescimento de vendas. Em relação ao futuro, consideram que o ecommerce vai continuar a crescer, mas sem que isso faça desaparecer as lojas físicas, que sofreram alterações e que serão mais digitais.

A sustentabilidade da cadeia alimentar é uma das preocupações de Pedro Soares dos Santos e Cláudia Azevedo, manifestando-se empenhados nessa matéria através de vários projectos. “Não há um plano B porque não há um segundo planeta”, disse Pedro Soares dos Santos, admitindo que “40% do que se produz é desperdiçado”.

Neste domínio, consideraram que a produção e distribuição de proximidade é vantajosa para o planeta, defendendo que a União Europeia deve preocupar-se com o impacte ambiental, nomeadamente nas emissões de gases poluentes dos transportes, de grandes plataformas online de distribuição, como a Amazon e a Alibaba. 

Os líderes dos dois grupos de distribuição também se mostraram muito críticos em relação ao enquadramento fiscal nacional que penaliza as doações e incentiva ao desperdício alimentar. Em causa o pagamento de IVA quando os bens são doados a instituições, mas que ficam isentos quando são deitados ao lixo. “Uma aberração” que desafiam o ministro da Economia a corrigir.

“Às vezes, não podemos simplesmente dar as coisas das nossas lojas porque a lei não permite”. “É péssimo para os nossos colaboradores, que sabem que há pessoas com necessidades e vêem deitar fora”, afirmou a CEO do grupo Sonae.