Pais pedem que creche de Cedofeita se mantenha aberta mais um ano
Já não existem vagas nas creches mais próximas e os pais não sabem onde colocar os filhos a partir de Setembro pois a instituição deverá fechar a 31 de Julho. Pais protestaram contra encerramento mas também contra o modelo de desenvolvimento da cidade.
O que fazer agora? Onde encontrar alternativa? Estas eram as perguntas que faziam cerca de 40 pais e encarregados de educação, que se concentraram nesta terça-feira no Porto para pedir o adiamento, por um ano, do encerramento da creche e do pré-escolar do Centro Social Paroquial de Cedofeita.
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O que fazer agora? Onde encontrar alternativa? Estas eram as perguntas que faziam cerca de 40 pais e encarregados de educação, que se concentraram nesta terça-feira no Porto para pedir o adiamento, por um ano, do encerramento da creche e do pré-escolar do Centro Social Paroquial de Cedofeita.
A direcção da IPSS anunciou aos pais, no início do mês, que iria encerrar portas a partir de 31 de Julho devido a dificuldades financeiras, uma decisão que afecta 108 crianças.
Os pais afirmam não saber onde colocar as crianças no próximo ano. “A maioria das creches já não tem vaga. As que têm são muito caras e não vão conseguir dar resposta a todas estas crianças”, diz Andreia Quintas, uma das que marcou presença na manifestação.
A solução, dizem, passa por criar condições para manter as valências do Centro Social a funcionar durante mais um ano, reivindicação que Mário Moutinho, representante do Bloco de Esquerda na Assembleia de Freguesia, que esteve presente, considera legítima: “O que os pais estão a pedir é tempo para organizarem as suas vidas”.
Várias forças políticas estiveram presentes e concordaram na necessidade de encontrar soluções que salvaguardem a situação das crianças, mas houve posições divergentes quanto a quem deverá assumir a respectiva resolução.
Para Fernando Oliveira, líder do Partido Socialista na Assembleia de Freguesia, a Junta é a principal responsável pela incerteza vivida por estes pais, pois «encerrou valências sociais deste tipo” e dá o exemplo do Miminho e da Creche da Vitória.
Já Ilda Figueiredo, da CDU, considera que cabe ao Governo “intervir de imediato”. A vereadora sublinha que, para além da situação das famílias, há ainda o problema dos 49 funcionários cuja situação permanece indefinida. “As crianças não podem ser atiradas para a rua”, disse, mas é preciso acautelar também a situação dos trabalhadores.
Para Mário Moutinho, este problema repete-se ciclicamente. “Há quatro anos tínhamos uma situação idêntica em Miragaia”. Há um desinvestimento público, diz o autarca bloquista, que resulta no encerramento deste tipo de serviços, pelo que é necessária uma estratégia concertada que dê respostas efectivas e de longo prazo à população.
Facto consumado
Os pais criticam a forma como a decisão foi tomada pela direcção do Centro Social. Hugo Brito diz que foram apanhados de surpresa e que devia ter havido um aviso prévio: “Não é assim que se conduz um processo. Não falaram com os pais para saber se era possível em conjunto chegar a uma solução. Apresentaram a decisão como um facto consumado”.
O empresário, que colocou a filha na creche em Setembro, considera que houve “premeditação” no momento escolhido para anunciar o encerramento. “Quiseram chegar a este ponto em que já não é possível voltar atrás”.
Agora, a preocupação dos pais é a de encontrar outras alternativas para colocar as crianças. É que as inscrições neste tipo de valência decorrem normalmente com alguma antecedência relativamente ao início do ano escolar, pois existe grande procura e pouca oferta disponível. Os pais e encarregados de educação são assim colocados numa situação de enorme “insegurança” tendo em vista o próximo ano lectivo.
Em comunicado, a IPSS justifica a decisão tomada com as dificuldades financeiras que atravessa: “Ao longo dos últimos 10 anos, a Creche e o Pré-escolar têm funcionado sempre com prejuízo”, pelo que o encerramento é inevitável. “Infelizmente, chegamos ao fim da linha”, acrescenta a instituição liderada pelo padre Fernando Ferreira da Silva.
A decisão, pode ler-se ainda, “foi tomada em última instância, depois de esgotadas todas as alternativas e em diálogo com a Segurança Social” e é “a única hipótese de manter em funcionamento as restantes respostas sociais do Centro Paroquial (nomeadamente, o Lar, o Centro de Dia e o Serviço de Apoio ao Domicílio)”.
Perante um cenário que tudo aponta ser irreversível, as críticas dos pais vão mais longe e estendem-se ao modelo de desenvolvimento implementado na cidade. "Isto é expulsar as pessoas do centro do Porto. Mais vale mudar de concelho”, desabafo Hugo Brito, que sublinha uma tendência que se vem verificando nos últimos tempos: “No Porto, o que tem sido mais vulgar é serviços úteis à comunidade encerrarem para serem substituídos por investimentos imobiliários”.
Para Ilda Figueiredo, o cenário pode ainda piorar num futuro próximo: “O meu receio é que isto seja um de muitos outros casos que podem vir a acontecer na cidade nestas áreas sociais. Para já temos este e ele tem que ser resolvido”.
Texto editado por Ana Fernandes