Marcelo Rebelo de Sousa satisfeito com poderes presidenciais mesmo em estado de emergência
Presidente da República defende que estado de emergência funcionou no actual sistema político “sem choques de maior”.
Marcelo Rebelo de Sousa foi desafiado a pronunciar-se sobre os poderes presidenciais. Numa conferência online, o Presidente falou não só tendo em conta a sua experiência do exercício de funções mas também enquanto académico: o actual regime “semi-presidencialista” tem respondido “aos choques internos e externos” do sistema em períodos de normalidade e de excepcionalidade como os da declaração do estado de emergência. A posição foi assumida esta tarde na sessão de abertura dos encontros anuais de Ciência Política, organizados pela Faculdade de Direito na Universidade do Porto.
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Marcelo Rebelo de Sousa foi desafiado a pronunciar-se sobre os poderes presidenciais. Numa conferência online, o Presidente falou não só tendo em conta a sua experiência do exercício de funções mas também enquanto académico: o actual regime “semi-presidencialista” tem respondido “aos choques internos e externos” do sistema em períodos de normalidade e de excepcionalidade como os da declaração do estado de emergência. A posição foi assumida esta tarde na sessão de abertura dos encontros anuais de Ciência Política, organizados pela Faculdade de Direito na Universidade do Porto.
“Ao cumprir-se a Constituição está a defender-se a democracia, sendo o Presidente da República um seu guardião particularmente qualificado”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.
O recurso à declaração do estado de emergência “provou ser possível preservar os equilíbrios institucionais e cumprir a lei fundamental sem desvios e mantendo o sistema sem choques de maior no que toca ao desempenho dos poderes presidenciais”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, lembrando que o “instituto é sensível” e que implica a articulação com a Assembleia da República e o Governo. “Podia não ser assim, podia ser um teste rodeado de problemas no relacionamento com Assembleia da República, partidos, com o Governo e o primeiro-ministro, mas não foi isso que aconteceu. Foi mesmo possível encontrar um consenso generalizado, ajustado, permanentemente objecto de audição dos envolvidos”, acrescentou.
“O semi-presidencialismo tem funcionado bem em períodos de normalidade mas também quando confrontado com tempo de excepcionalidade como na crise que vivemos na medida em que respondeu com rigor, previsibilidade e segurança institucional e jurídica”, defendeu.
Marcelo Rebelo de Sousa recordou a sua experiência académica no direito constitucional, a participação na elaboração da Constituição como deputado constituinte e a sua proximidade com as revisões da lei fundamental de 1982 (era ministro dos Assuntos Parlamentares) e de 1997 (como líder do PSD).
O exercício das actuais funções confirma a perspectiva que já tinha na universidade: “Os poderes constitucionais do Presidente da República, da óptica que era minha como académico e na óptica que é a minha como Presidente República, têm respondido com rigor, pertinência, sustentabilidade àquilo que tem sido a História da nossa democracia aos choques e internos e externos do nosso sistema e aos desafios políticos, económicos sociais, culturais, diplomáticos”.
Numa intervenção seguinte, o constitucionalista Vital Moreira considerou que os Presidentes da República, de uma forma geral, “têm cumprido o juramento de respeitar a Constituição mesmo sabendo que não cumprindo não seriam sujeitos a sanção jurídica”. No entanto, o professor jubilado da Universidade de Coimbra referiu que Marcelo Rebelo de Sousa promulgou um “decreto inconstitucional”, numa referência ao diploma dos apoios sociais que o Governo considera ter violado a lei-travão.
Na perspectiva de Vital Moreira, que também foi deputado constituinte, o papel de um Presidente da República é o de um regulador do sistema político: “É um polícia, um árbitro e um bombeiro como se mostrou agora na declaração do estado de emergência”.
Considerando que há um “poder presidencial” além do poder executivo e legislativo, Vital Moreira defende que “o Presidente não é eleito para governar. Não semi-governa, não co-governa, o Governo não está sujeito à superintendência do Presidente da República”.